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Cientistas buscam respostas para ‘zonas de microcefalia’ no Brasil

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Apesar de todo o avanço que houve no entendimento da ligação entre a infecção pelo vírus da zika e o surgimento de casos de microcefalia, algumas perguntas permanecem sem resposta. Por que os casos estão concentrados no Nordeste? Existe algo que predisponha ou impeça os efeitos mais graves da virose?

O problema intriga os cientistas e o governo. A busca por respostas inclui várias frentes, desde o estudo da prevalência de outras infecções (como a dengue) até o mapeamento de fatores genéticos e ambientais.

A identificação de um ou mais cofatores (que atuariam em “parceria” com o vírus da zika) poderia ser chave para a prevenção de futuros casos.

A explicação mais simples é que condições precárias de higiene –e infecções decorrentes– seriam um fator. Para investigar essa possibilidade, seria necessário um mapeamento mais detalhado dos locais com concentração de nascimentos com microcefalia combinado a uma avaliação socioeconômica, afirma o virologista e professor da USP Paolo Zanotto, pioneiro nas pesquisas de zika no país.

“A maioria dos casos acontece com pessoas que vivem em locais com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) muito baixo. O saneamento básico pode ser o problema. Se for, pode não só incentivar a correção dessa questão de 500 anos mas também fazer a gente se atentar para a relação entre nível socioeconômico e doenças”, diz.

A própria existência desses “clusters” (regiões contíguas) com alto índice de nascidos com microcefalia é questionável. Não há uma boa estimativa de quantas pessoas tiveram, de fato, a zika.

O motivo disso é a falta de um exame capaz de diferenciar corretamente quem já teve zika ou dengue.

E isso seria importante também por outro motivo: é possível que um dos fatores de risco sejam infecções anteriores de dengue –os anticorpos contra os vírus da dengue poderiam “fortalecer” o vírus da zika e auxiliá-lo na tarefa de invadir as células do organismo e se replicar.

Sabe-se que em várias cidades do Nordeste há alta incidência de casos de dengue, o que poderia justificar a investigação dessa relação.

Na contramão dessa explicação que envolve o vírus da dengue, a proteção contra febre amarela poderia ajudar o organismo a combater o zika. A ideia de explorar a hipótese foi do epidemiologista Luciano Cavalcanti, da Universidade Federal do Ceará, e de seus colaboradores.

“Nossa análise mostra que há uma coincidência espacial muito grande entre baixa cobertura vacinal contra febre amarela e as más-formações.”

Dentro dos “clusters” (veja mapa) estão concentrados 15,2% dos casos confirmados de microcefalia, mas apenas 2,9% da população brasileira. O próximo passo, diz Cavalcanti, deve ser a realização de estudos controlados.

Editoria de Arte/Folhapress
16202419 Cientistas buscam respostas para 'zonas de microcefalia' no Brasil

Cavalcanti reconhece que é difícil avançar na área. “Com relação a essa epidemia de zika, a gente não sabe quase nada. Se alguém te disser que sabe do que está falando, é melhor trocar de entrevistado.”

Outro problema, segundo Paulo Zanotto, é a “forma atropelada” com que tem sido feita a pesquisa ligada à zika e suas implicações. “Temos de nos reorganizar e começar novas linhas de pesquisa com muita rapidez, e isso é estressante. Sem contar que os recursos financeiros são insuficientes.”

BOI E GÊMEOS

Outro candidato a cofator é o VDVB (vírus da diarreia viral bovina). O virologista e professor da UFRJ Amilcar Tanuri estuda a possível relação entre uma infecção em humanos desse vírus (que é parente do vírus da zika e do vírus da dengue) e os casos de microcefalia no Nordeste. No entanto, ainda falta embasamento experimental que permita fazer a associação.

A pesquisa está parada por falta de recursos. Recentemente, Tanuri e cientistas se reuniram com representantes do Ministério da Saúde para pedir apoio para a pesquisa. Segundo o virologista, o ministério prometeu liberar R$ 900 mil para a investigação.

Em outra frente está o grupo de Mayana Zatz, geneticista e professora da USP que está analisando o material genético de mães e bebês em busca de explicações para a possível “preferência” do vírus por algumas pessoas.

Mas a grande aposta da geneticista é o estudo em gêmeos. “São amostras preciosas”, diz ela. De nove nascimentos de gêmeos de que se tem notícia, Mayana tem amostras de oito pares. Em seis casos, um irmão nasceu com microcefalia e o outro, sem.

O estudo com gêmeos é uma das maneiras mais eficazes de se obter respostas com relação à influência de fatores genéticos ou ambientais para determinadas condições ou comportamentos.

As possíveis variantes genéticas, de proteção ou de suscetibilidade, podem atuar em níveis diferentes, como se fossem “barreiras”. A primeira é a da placenta –algum fator pode facilitar a passagem do vírus por essa barreira e fazer com que ele chegue mais facilmente ao bebê.

Essa explicação não bastaria para explicar casos de gêmeos discordantes. O problema poderia estar na capacidade de os vírus invadirem as células do cérebro ou na interação com genes relacionados à má-formação.

“Se conseguíssemos achar uma variante relacionada à microcefalia, poderíamos fazer um teste genético que nos permitira aconselhar as mulheres em regiões de risco.”

Folha

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