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Beneficiários da Transposição comemoram fim da dependência dos carros pipas

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Vinte litros de água para beber, cozinhar, tomar banho, lavar roupa e louça… este era o consumo médio diário, por habitante, nas 41 localidades paraibanas, cujos sistemas de abastecimento entraram em colapso por causa da seca em 2015, pouco mais de dois anos antes da chegada das águas do Projeto de Transposição do Rio São Francisco. A água consumida anteriormente equivalia a 10% da utilizada pelos habitantes da Capital do Estado, que nunca viveram sob a ameaça da estiagem. Agora, dois anos após a obra contra a seca imaginada no século 19 ter finalmente virado realidade em março de 2017, paraibanos comemoram por não dependerem mais de carros-pipa para sobreviver, ao mesmo tempo em que temem as sucessivas paralisações nas bombas que trazem a água do São Francisco de Custódia, no Pernambuco, até Monteiro, na Paraíba.

“Hoje a gente está vivendo muito bem se comparado ao início de 2017, quando o açude de Boqueirão estava praticamente na lama e o futuro de todo mundo que vivia nas cidades abastecidas pelo Epitácio Pessoa era incerto.

Apesar dessas bombas viverem quebradas, pelo menos a transposição permitiu que a gente escapasse da seca braba daquele tempo. Hoje a gente até voltou a irrigar, a permissão é de um hectare por cada agricultor. Agora eu vou dizer, final de 2018 e 2019 o que ajudou mesmo foi nosso Senhor, mandando chuva lá de cima”, disse José Severino da Silva, 69 anos, pescador aposentado, pai de cinco filhos já criados que optaram por não seguir a profissão do pai.

“Eles fizeram certo, esse negócio de depender de água, de peixe, de governo, liberação política, é uma coisa muito agoniada. A gente hoje tem água, mas eu ainda tenho medo de passar pelos aperreios que passamos em 2016. Naquele ano eu pensei que ia tudo morrer de sede. Então eu acho que a transposição foi, como se diz o matuto, a salvação da lavoura num tempo de seca pesada”, conclui Severino, morador do bairro Bela Vista, no município de Boqueirão, Agreste paraibano.

PAPEL CUMPRIDO

O açude Epitácio Pessoa, segundo maior do Estado, abastece, além de Campina Grande, Barra de Santana, Caturité, Queimadas, Pocinhos, Lagoa Seca, Matinhas, São Sebastião de Lagoa de Roça, Alagoa Nova, Boqueirão, Cabaceiras, Boa Vista, Soledade, Juazeirinho, Seridó, São Vicente do Seridó, Cubati, Pedra Lavrada e Olivedos. Nesses 19 municípios localizados em três regiões distintas – Agreste, Cariri e Curimataú paraibanos – aproximadamente 800 mil pessoas são beneficiadas pelo abastecimento que hoje é feito graças ao projeto de Transposição.

“A Transposição cumpriu seu papel em tirar Campina Grande e as demais cidades abastecidas pelo açude Epitácio Pessoa do estado de colapso hídrico. Se as águas do São Francisco não tivessem chegado em abril de 2017, em apenas três meses Boqueirão estaria na lama. O principal objetivo desse projeto é o abastecimento humano e animal. É claro que com o aumento do nível do reservatório e as sucessivas chuvas, hoje os agricultores já podem até irrigar” explica o gerente regional da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa), Ronaldo Meneses.

Ronaldo lembra ainda que “encher reservatórios” não é a obrigação do Governo Federal. “Essa é uma obra cara e emergencial. É necessário que tenhamos em mente que não se pode encher os açudes com as águas do Rio São Francisco. Basta que tenhamos o suficiente para não adentrarmos no volume morto, que corresponde a 8,2% da capacidade total do reservatório”.

Atualmente o sistema de bombeamento do Projeto do Rio São Francisco está suspenso. Essas interrupções no abastecimento tem sido constantes. Moradores de São Domingos do Cariri, por exemplo, não entendem os critérios para ligar ou desligar as bombas.

Apesar da suspensão, o Ministério de Desenvolvimento Regional assegurou que a variação do volume de água entregue pelo eixo leste não prejudica o abastecimento da população da Paraíba, atendida pelo sistema desde março de 2017. A interrupção no abastecimento aconteceu em fevereiro e o MDR não informou quando será retomado.

“Em Boqueirão tem água, mas tem muito ribeirinho do Cariri que depende da água que corre pelo Rio Paraíba, e ultimamente o que antes foi cenário de festa agora é de desespero. É difícil prever qual será a situação de lugares como esse se não chover ou se o Governo simplesmente não tomar a atitude de ligar novamente as bombas”, diz Ivanildo Machado, agricultor, e morador do sítio Melo, na zona rural de São Domingos do Cariri.

Vistorias sistemáticas

A Agência Nacional das Águas (ANA) informou que, como o Projeto de Integração do São Francisco (PISF) está em fase de pré-operação, a autarquia federal realiza vistorias sistemáticas em campo nas obras do PISF, com a finalidade verificar o atual estágio de implementação das obras e das características operacionais de condução e uso da água do projeto, que serão objeto de fiscalização da ANA quando o PISF entrar em operação comercial.

NORTE ATRASADO

Uma caravana de parlamentares da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) visitou, na última sexta-feira, as obras do Eixo Norte do projeto de Transposição do Rio São Francisco para tomar conhecimento do andamento da obra. Uma parte da comitiva começou a visita pelas obras em Cajazeiras, no Sertão paraibano, já o restante se dirigiu até a visitou o complexo da barragem de Negreiros, em Salgueiro (PE), onde foi constado o rompimento do dique do reservatório, o que atrasou consideravelmente o cronograma da obra.

A visita técnica foi finalizada na barragem de Jatí, no Ceará, onde foi constatado que as obras estão prontas. Segundo os deputados, a barragem de Jati, Morros e Boa vista, estão todas prontas. Porém, a operação desse sistema depende que se resolva o problema do dique que se rompeu em Negreiros.

“Sem resolver o dique, nós não teremos água na Paraíba. Isso atrasou de forma bastante grave a obra. Nossa expectativa era ter água na Paraíba no ano de 2019, mas infelizmente isso não acontecerá. Pelo que vimos na barragem de Negreiros a água, se chegar, só no final de 2020”, disse o deputado Jeová Campos, que comanda a caravana. KR

ACOMPANHAMENTO

O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público da Paraíba (MPPB), por meio do Comitê Gestor para a Crise Hídrica, fiscalizam as obras da Transposição. Também são realizadas reuniões periódicas com representantes do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), da Aesa e da Secretaria de Estado da Infraestrutura, dos Recursos Hídricos e do Meio Ambiente (SEIRHMA), para discutir planos de segurança das barragens, que integram o Eixo Leste da Transposição, como os açudes de Poções e Camalaú. O MPF também acompanha as providências adotadas em Monteiro para conclusão do saneamento na cidade, como uma das obras complementares ao Projeto de Integração do Rio São Francisco.

Após um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em junho do ano passado, em meio a um acordo entre representantes do MPF, do MPPB, da Cagepa, da Prefeitura de Monteiro, da Procuradoria-Geral do Estado e da Funasa, para solucionar problemas de esgotamento na cidade que é o berço da Transposição no Estado, chegou-se a um consenso de que as responsabilidades pelas obras de esgotamento no município ficariam a cargo da Cagepa e da Prefeitura de Monteiro.

OPERAÇÃO NO 2º SEMESTRE

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) informou que as obras no Eixo Norte, última etapa do trecho em solo paraibano, estão 96% de execução física e deverão entrar em operação no segundo semestre de 2019. Em janeiro de 2018, quando o CORREIO entrou em contato com o Ministério da Integração Nacional, eles haviam dito que naquela época, com 260 quilômetros de extensão, o Eixo Norte estava com 94,9% das obras concluídas.

O agricultor de Cajazeiras, Roberto Nascimento, lembra que se não fossem as chuvas na região, provavelmente todos estariam dependendo de carros-pipa. “Campina Grande tem apoio político e o Governo Federal se mobiliza em prol disso. Aqui no Sertão nós somos um povo esquecido. Se Deus não lembrasse tanto da gente, é certo que já teríamos morrido de sede”, conclui.

Por fim, o MDR, ainda em nota, relata que, sobre as interrupções que têm acontecido na operação do Eixo Leste, o sistema do Projeto de Integração do Rio São Francisco está em fase de pré-operação. Nesta fase, são verificados o funcionamento dos equipamentos hidromecânicos e das estruturas que conduzem as águas.

Desde o início da operação do Projeto, segundo a assessoria, Boqueirão teve a capacidade de abastecimento ampliada, evitando que a região de Campina sofresse com a falta de água. Atualmente, a estrutura está com 94 milhões de metros cúbicos, quantidade suficiente para atender a região por mais dois anos. Dessa forma, a variação do volume de água entregue pelo Eixo Leste do Projeto São Francisco no Rio Paraíba, em Monteiro, não prejudica o abastecimento da população atendida pelo sistema.

Silêncio

O presidente da Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba (Aesa), Porfírio Loureiro, não foi encontrado pela equipe de reportagem, não atendendo as ligações feitas para esclarecimento da situação das suspensões hídricas que vêm ocorrendo desde o início do ano.

Transposição

Trechos percorridos na PB pela água até Boqueirão

10/03/2017 A água chega ao açude Poções, município de Monteiro.

20/03/2017 A água chega em Camalaú. A partir daí a água segue na calha do Rio Paraíba, onde deverá chegar ao reservatório Epitácio Pessoa.

09/04/2017 Chega ao Sítio Melo, em São Domingos do Cariri.

10/04/2017 Chega ao Sítio Picoito, em Barra de São Miguel.

11/04/2017 Chega ao Sìtio Ilha Grande, também em Barra de São Miguel.

12/04/2017 Chega ao Sítio Riacho Fundo, em Barra de São Miguel.

18/04/2017 Açude Epitácio Pessoa recebe as águas do Rio São Francisco.

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