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Ciberataque da Coreia do Norte é tão ameaçador quanto míssil, diz desertor

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Apesar de não viver escondido como outros conterrâneos desertores, Kim Heung-kwang, 58, não é um norte-coreano fácil de se encontrar.

De acordo com o endereço informado na internet, a ONG de Kim, a Solidariedade aos Intelectuais da Coreia do Norte (NKIS, na sigla em inglês), tem sua sede em uma sala do quinto andar de um prédio na região central de Seul.

O edifício, porém, tem apenas quatro andares. É no último deles que o mal-entendido —proposital— é desfeito por uma funcionária da agência de empregos de construção civil que ali funciona.

Jean Chung – 16.jan.2015/”The New York Times”
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O desertor norte-coreano Kim Heung-kwang, durante apresentação em Seul, em foto de 2015

A organização de Kim fica em um prédio da quadra ao lado, acomodada em duas pequenas salas. No térreo, nenhuma placa informa do funcionamento da ONG de dissidentes da Coreia do Norte.

Professor durante 20 anos na Universidade de Tecnologia da Computação de Hamhung, Kim afirma à Folha que a capacidade da Coreia do Norte realizar ciberataques não deve ser subestimada.

“Eu considero os ciberataques tão ameaçadores quanto os mísseis nucleares”, diz.

A tensão na região cresceu depois do lançamento de um novo míssil pela Coreia do Norte nesta terça (29), que sobrevoou o norte do Japão.

Kim Heung-kwang cita, por exemplo, o crescimento do aparato de segurança cibernética do regime. O efetivo da chamada Unidade 180, célula de ciberataques da agência de inteligência norte-coreana, cresceu de 500 integrantes para cerca de 6.000 desde sua criação, em 1998.

Segundo o desertor, já foram mais de 30 mil tentativas de ataque, a maioria direcionada a conglomerados empresariais e sites governamentais na Coreia do Sul.

Os hackers costumam operar de posições secretas na China. Há suspeitas do envolvimento de Pyongyang no megaciberataque de maio deste ano, quando mais de 230 mil computadores em 150 países foram alvo de um ramsonware, software que bloqueia informações e exige dinheiro para destravá-las.

Esse tipo de operação rende US$ 3 bilhões por ano à Coreia do Norte, afirma Kim. O resgate costuma ser pago na moeda virtual bitcoin (1 bitcoin equivalia a mais de US$ 4.600 nesta terça).

Sobre os mísseis nucleares, o ex-professor não duvida da capacidade do regime de desenvolvê-los, mas sim da disposição do ditador Kim Jong-un em usá-los.

“Ele está com 33 anos. Tem menos dinheiro do que Bill Gates, mas leva uma vida mais luxuosa. Não acho que ele se arriscaria a deixar essa vida para iniciar uma guerra que sabe que perderia.”

FUGA

Kim Heung-kwang é um dos poucos desertores norte-coreanos que divulga o nome e se deixa fotografar. Ainda hoje, 13 anos após ter fugido da Coreia do Norte, ele diz receber pacotes pelo correio com facas e machados.

Casado, não dá detalhes sobre a vinda da mulher e da filha para o sul, já que os familiares dela ainda vivem ao norte do paralelo 38, que divide a península Coreana.

No início dos anos 2000, o cargo de professor de computação na segunda maior cidade norte-coreana facilitou a chegada de alguns filmes e músicas do exterior às mãos de Kim, entre eles “Rambo”. Ao comparar a Coreia do Norte ao Ocidente, ele diz ter percebido que “tudo era muito diferente” do que tinha ouvido do regime.

Ao planejar a fuga, em 2004, viu que a única opção seria atravessar a fronteira norte com a China. Pagou US$ 3 a uma rede de coiotes que o ajudaram a cruzar o rio Duman de madrugada até uma vila chinesa.

Após trabalhar por um breve período em uma empresa de tecnologia na China, descobriu uma organização evangélica que ajudava norte-coreanos a ir para Seul.

Moradia e qualificação profissional foram providenciadas no início pelo governo sul-coreano. A facilidade de encontrar um emprego, no entanto, era ofuscada pelo sentimento de frustração.

“Na Coreia do Norte éramos doutores, advogados, intelectuais. Não conseguimos esse renome no Sul”, afirma Kim. Pensando nisso, ele deixou o governo em 2008 para fundar a NKIS. “Era uma missão mais importante do que um emprego estável como funcionário público”, diz.

Hoje, a ONG tem 450 membros, entre engenheiros, professores e escritores.

Para Kim, a melhor forma de derrotar o regime norte-coreano “é destruir o sistema por dentro”. Ele cita, com esperança, o projeto do Google que prevê lançar balões com rede wi-fi em áreas sem conexão à internet. “Temos que continuar o nosso esforço.”

fOLHA

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