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‘Trump está disposto a risco maior do que esperamos’, diz historiador

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A tensão vivida durante os 13 dias em que os EUA estiveram mais perto de uma guerra nuclear —na Crise dos Mísseis em Cuba, em outubro de 1962— se repete agora em câmera lenta com a escalada retórica e militar entre Washington e a Coreia do Norte.

A comparação é do historiador Graham Allison, que leciona em Harvard e assessorou secretários de Defesa nos governos do republicano Ronald Reagan (1981-89) e do democrata Bill Clinton (1993-2001). No deste último, foi peça importante nas negociações com a Rússia para reduzir o arsenal nuclear do rival de Guerra Fria.

Ahn Young-joon – 10.ago.2017/Associated Press
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Homem vê um programa de TV em Seul que mostra Donald Trump e Kim Jong-un

“A Crise dos Mísseis de Cuba é a analogia mais próxima e o melhor exemplo para entender o que está acontecendo e o que pode acontecer”, disse Allison à Folha, lembrando que o então presidente John Kennedy escolheu uma opção que considerava ter 1 chance em 3 de evitar o confronto com os soviéticos.

“O cenário hoje é extremamente perigoso, e não acho que tenhamos que esperar que [o presidente Donald] Trump esteja menos disposto a correr riscos do que o Kennedy”, afirma. “Os riscos que Trump está disposto a correr são muito maiores do que podemos imaginar.”

A diferença básica entre os casos, diz, é o interlocutor. Na Guerra Fria, Kennedy conseguiu negociar com o líder soviético Nikita Khrushchev a retirada dos mísseis de Cuba em troca do compromisso americano de não invadir a ilha e de retirar seus mísseis Júpiter da Turquia.

“O caso atual é complicado porque com a Coreia do Norte há um diálogo de surdos, e com a China, que é a parte mais responsável, não há sucesso”, diz Allison, 77.

RISCO COREANO
Entenda a crise
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O especialista afirma que a proposta de sanções à Coreia do Norte que afetem as vendas de petróleo, como queriam os EUA, só teria chance de sucesso com o total comprometimento chinês —o que, por ora, não ocorreu.

“Cerca de 90% do petróleo da Coreia do Norte vem da China. Se a China for convencida a limitar essa exportação, isso pode chamar a atenção do [ditador norte-coreano] Kim Jong-un para que ele mude seu comportamento.

Mas Pequim não tem mostrado disposição em fazer isso”, diz o especialista. Na segunda (11), Pequim, com Moscou, vetou o plano dos EUA no Conselho de Segurança.

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Diante do impasse com a China e da instabilidade representada por Kim Jong-un, Allison diz que Trump deveria considerar a opção dada por Pequim e Moscou : Pyongyang congelaria seu programa nuclear e EUA e Coreia do Sul interromperem seus exercícios militares conjuntos. Mas a embaixadora americana na ONU, Nikki Haley, vê a proposta como “insulto”.

RECADO À CHINA

Para o historiador, é difícil ter certeza se os movimentos de Trump são calculados quando ele ameaça responder à ameaça norte-coreana com “fogo e fúria” ou a “resolver sozinho” se Pequim não colaborar. O que é certo, diz, é que esses recados são voltados mais à China do que ao regime norte-coreano.

“Ele está tentando pressionar não o Kim, que é imprevisível, mas [o líder chinês] Xi Jinping a conter o aliado”, diz Allison, autor de “Destined for War: Can America and China Escape Thucydides’s Trap?” (“Destinados para a guerra: EUA e China podem escapar a armadilha de Tucídides?”), no qual trata da possibilidade de os dois países evitarem o confronto.

“Se Trump atacar a Coreia do Norte, Xi sabe que pode começar uma nova guerra da Coreia, e ele sabe que a primeira foi horrível. É isso que está em jogo. E desta vez [o conflito] poderia incluir a China, algo impensável.”

O Pipoco

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