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Sumeense tem trabalho de artesanato reconhecido por caçador de talentos de SP

canario-e-caboclo_-300x300 Sumeense tem trabalho de artesanato reconhecido por caçador de talentos de SP

A longa viagem pessoal em busca da arte popular já passou dos 25.000 quilômetros rodados, o equivalente a cruzar o país do Oiapoque ao Chuí seis vezes. Foram seis meses na estrada, com passagem por 16 estados e pelo Distrito Federal. O saldo aponta o encontro com 262 artistas populares e suas obras. São cachorros, brinquedos, pinturas inspiradas na arte rupestre, santos, pássaros, grávidas e igrejas. Muitas obras nascem em cidades sufocadas pelo calor do sertão, em casas de barro ou pau a pique. Os artistas são pessoas de vida simples, pouca instrução formal, reconhecimento restrito, mas dotadas de talento, criatividade e expressividade únicos.

O publicitário Renan Quevedo, de 27 anos, largou o emprego em São Paulo, vendeu todos os bens e alugou um carro. Saiu em busca de artistas populares país afora. “Estou em busca de pessoas que não sei quem são. Cruzei muitas vezes o país, comi poeira nos sertões nordestinos e sentei por horas em frente ao volante.”

Tudo começou quando deixava São Paulo em feriados e fins de semana à procura de arte, artistas e histórias. Durante anos, empenhou-se em pesquisar a arte popular brasileira, mas a distância tornava-se cada vez mais limitadora. Foi então para a estrada. Na visita à casa de nomes importantes da arte popular e do artesanato brasileiro, encontrou alguns que não tinham o que comer e que viviam em ambientes tão rústicos quanto suas obras. “Estou falando de artistas que já foram estudados, com trabalhos publicados, exposições dentro e fora do Brasil e que carregam o título de consagrados.”

A desvalorização desses talentos levou Quevedo a criar nas redes sociais o projeto Novos para Nós. Por meio dele, mapeia, fotografa, entrevista e escreve relatos sobre os artistas que encontra. Além deles, Quevedo cruzou com lavadeiras, benzedeiros, pagadores de promessas, curandeiros, parteiras, lapidadores, uma vila com 300 casas e uma única moradora, uma comunidade quilombola com um dialeto próprio. Bateu assim às portas do Brasil profundo numa viagem sem fim.

Em uma destas viagens o caçador de talentos pousou em Sumé, no Cariri da Paraíba para encontrar O voo dos pássaros de Bento (Sumé — PB)

Depois de um atropelamento, Bento ficou incapaz de exercer o trabalho que fazia em São Paulo. Encontrou próximo a sua casa um palete e resolveu fazer arte. Transformou os pedaços de madeira em bichos. Em Sumé, na Paraíba, o chão de sua casa é forrado de pássaros que ajudaram Bento a retomar sua vida e alçar voos diferentes. É um dos expoentes da arte popular paraibana, fazendo animais de todos os tipos. Gosta do desafio que a matéria-prima lhe faz com as curvas dos troncos e não tem dúvida em dizer: “A melhor parte de viver é criar”.

Ainda na região próxima ao Cariri Renan encontrou As baleias gracilianas de Marcos Paulo (Sertânia — PE)

As obras de Marcos Paulo nascem em Sertânia, que fica na divisa entre Pernambuco e Paraíba. Os cachorros do artista, ou melhor, as Baleias, parecem ter saído diretamente das páginas de Vidas secas, o clássico de Graciliano Ramos, para tomar forma em madeira. “No fim das contas, minha arte é sobre a resistência de meus conterrâneos — todos vitoriosos por aguentar os trancos desta nossa vida. A imagem de Baleia é exatamente como as coisas acontecem por aqui. No passado era muito comum. Com o tempo, as coisas foram melhorando, mas ainda se vê fome e seca”, contou.

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