O velho ditado diz que o bom filho à casa torna. E se tem um lugar onde essa frase pode ser facilmente aplicada é no distrito da Ribeira, localizado na cidade de Cabaceiras, no Cariri paraibano e a 201 km de distância de João Pessoa. Sem oportunidades de trabalhos, os jovens daquele local estavam deixando suas casas e migrando para os grandes centros do país, a exemplo de Rio de Janeiro e São Paulo. Mas, uma iniciativa posta em prática no fim dos anos 90, mudou completamente esta realidade. Há pouco menos de 20 anos nascia a Arteza, a Cooperativa de Curtidores e Artesãos em Couro de Ribeira. Com ela, era plantada também uma semente que já deu muitos frutos e que hoje é exemplo em várias comunidades do Nordeste brasileiro. A Arteza hoje, além de ser referência na área, é a principal responsável pela vida da Ribeira e, por conta dela, os jovens não precisam mais deixar sua terra amada, além de ter uma boa fonte de renda: o couro.
“Em 88 comecei a trabalhar no curtume. E via que estava dando para trás. Existiam 15 famílias trabalhando com curtume na época do pai e em 88 fiz um levantamento e só restavam seis. Porque não existia mercado. E no artesanato eram 12 e restavam cinco. Eu já tinha feito um curso e voltei para a universidade para me capacitar mais e ao voltar comecei um movimento. E percebi muita distância das pessoas, porque o individualismo reinava. Então eu me aquietei e comecei a aplicar aquilo que eu aprendi no meu material da família. Então comecei a melhorar o produto e as pessoas começaram a observar aquilo.Então começaram a se chegar. Comecei a arrebanhar o grupo e a coisa começou a melhorar. Foi quando comecei a procurar parcerias”, explica.
Com a confiança dos curtumeiros, Carlinhos começou a empreitada que anos depois viria a ser uma referência no Brasil. Foi então que começou a busca por parceiros para pôr em prática a ideia de criar uma associação (que só mais tarde seria percebido que na verdade se tratava de uma cooperativa). O primeiro a ‘comprar a ideia’ foi o prefeito de Cabaceiras na época. Em seguida veio o governo do Estado, através da já extinta Secretaria de Indústria e Comércio. Com o tempo vieram o Sebrae e o Senai. Mas mesmo com todas estas parcerias, surgiu um problema. A técnica de curtir o couro utilizada por Carlinhos era através da casca da árvore de Angico, mas na época o Ibama não permitia que fosse cortado o Angico. E foi aí que mais uma vez a sabedoria de Carlinhos prevaleceu.
“O angico, de onde a gente tira a seiva chamada tanino, para curtir a pele, era apadrinhado pelo Ibama, que não podia se cortar o Angico. Então, em 91 e 92 eu fiz um corte-acompanhamento do angico, fotografando de 3 em 3 meses e mandei estas fotos para o Ibama. Mas o diretor do Ibama disse que era montagem, mas outra pessoa indicou para mandar para a Universidade de Patos. Aí eu autorizei mandar. E eles (a Universidade), três anos depois, mandaram uma pessoa para acompanhar isto de perto. Levei esta pessoa para Sumé, onde a mata da região é praticamente Angico. Ela passou dois anos trabalhando lá, acompanhado a evolução do Angico e mandando relatório para o Ibama de dois em dois meses. Foi aí que eles então acreditaram”, disse, para arrematar logo em seguida que o que antes seria uma associação, passaria a virar uma coop