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Em processo de mudança de gênero, Chelsea Manning mostra rosto após deixar prisão

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Soldado Chelsea Manning, analista de inteligência dos EUA no Iraque que foi condenada pelo maior vazamento de documentos confidenciais da história dos EUA, publicou nesta quinta-feira (18) sua primeira foto após ser libertada da cadeia, na quarta-feira (17). Até então, havia poucas imagens públicas da soldado, que passou por um processo de mudança de gênero.

Chelsea, antes conhecida como Bradley Manning, foi condenada a 35 anos de prisão e permaneceu presa nos últimos sete anos, quando passou por detenções militares masculinas no Iraque, no Kuait e nos EUA. Neste período, travou uma batalha legal implacável para ser respeitada como uma mulher transgênero, ganhando o direito de receber tratamento hormonal, ainda que fosse submetida aos códigos de vestimenta masculinos e obrigada a manter os cabelos curtos, e chegou e tentar o suicídio duas vezes.

Na quarta, Chelsea havia publicado a imagem de seus pés no Twitter e no Instagram. “Primeiros passos em liberdade”, escreveu. Ela também publicou uma foto de pedaço de pizza com a legenda “eu ainda estou aproveitando meu primeiro pedação de pizza quente e gordurosa”.

Manning foi liberada da prisão de Fort Leavenworth, no Kansas, por volta das 2h (4h, em Brasília) de quarta. Agora, de acordo com um anúncio do Exército, Manning continuará como soldado na corporação, mas não receberá salário. Batizada como Bradley Edward Manning, ela mudou de nome e gênero após sua prisão, onde iniciou um tratamento hormonal para mudar de sexo.

Manning foi expulsa do Exército por desonra e sofreu mais de 20 acusações, que incluem violação da lei de espionagem, roubo de informação propriedade do governo americano, fraude e abuso de sua posição de confiança nas Forças Armadas. Mas foi absolvida da acusação mais grave, a de colaboração com o inimigo, que lhe daria a sentença de prisão perpétua. Sua condenação foi anunciada logo após outro “traidor” do governo dos EUA, Edward Snowden, ter vazado informações da NSA, a Agência de Segurança Nacional da CIA, e buscar asilo na Rússia.

Entre os primeiros documentos vazados está o vídeo “Efeito Colateral”, que mostra um massacre de civis, incluindo dois funcionários da agência de notícias “Reuters”, no Iraque em 2007. As imagens mostram a frieza dos pilotos que decidem atacar em uma região onde há civis e supostos rebeldes armados –na verdade, se tratava de um jornalista com uma câmera. A divulgação foi feita em abril de 2010 por Julian Assange em Washington. Manning afirmou que tomou a decisão porque o vídeo o deixou “horrorizado”.

A soldado diz ser a autora do vazamento de um vídeo confidencial de um ataque por engano na localidade de Granai, no Afeganistão. Mais de 100 civis morreram na operação aérea do Exército americano em maio de 2009.

Após a prisão de Manning, em maio de 2010, o WikiLeaks publicou 91 mil documentos do Pentágono sobre a passividade dos EUA diante de abusos contra presos no Iraque (2004-2009) e dados sobre a invasão deste país em 2003 que causou a morte de 109 mil iraquianos (70 mil deles civis), embora os números oficiais divulgados pelos EUA tenham se restringido a 15 mil civis.

Depois, mais de 250 mil telegramas do Departamento de Estado, procedentes de embaixadas e consulados de 1966 a 2010, foram cedidos pelo WikiLeaks e divulgados em várias etapas, de fevereiro de 2010 a setembro de 2011. Cinco jornais internacionais os analisaram e publicaram a partir de novembro de 2010: “The New York Times”, “The Guardian”, “Der Spiegel”, “Le Monde” e “El País”.

A partir de abril de 2011, os relatórios confidenciais de 779 detentos de Guantánamo foram divulgados; os documentos vazados por Manning mostram que muitos foram detidos sem acusações e também revelam detalhes sobre o estado de saúde ou o teor de suas declarações. Entre esses presos está Khaled Sheikh Mohamed, cérebro dos atentados de 11 de setembro de 2001.

Em agosto de 2011, o WikiLeaks publicou cerca de 230 mil telegramas vazados da diplomacia americana, mas dessa vez foram reveladas as identidades de fontes protegidas, que até então se mantinham anônimas –o site foi duramente criticado por expor as fontes, colocando-as em risco.

Quem era Bradley Manning?

Reprodução/Facebook

Antes de assumir sua identidade transgênero, Bradley Manning entrou como soldado no Exército dos EUA em 2007. Vítima de bullying durante a adolescência por sua sexualidade conflituosa, Manning é filha de um soldado conservador reformado e de uma inglesa com problemas de alcoolismo. Sua irmã mais velha, Casey, assumiu os cuidados da casa antes mesmo de completar 12 anos.

Manning passou grande parte de sua infância sozinha, jogando videogames ou diante de um computador, quando vivia com sua mãe no País de Gales, após o divórcio dos pais. Após dificuldades com colegas na escola, começou a ter ataques de raiva e foi mandado de volta para viver com o pai em Oklahoma, onde trabalhou brevemente em uma loja de programas de computador. Após vários choques raivosos com o pai –que alguns amigos atribuíam à desaprovação de sua identidade sexual–, acabou vivendo nas ruas, em sua caminhonete.

Em uma tentativa de obter uma educação universitária que não tinha como arcar, Manning decidiu ingressar nas Forças Armadas como analista de inteligência, posição que não exigiria o nível físico de tropas em campo. Em 2009, acabou sendo enviado para o Iraque, para uma base próxima de Bagdá onde tinha acesso a alguns dos segredos militares e diplomáticos mais profundos do país.

No início de 2010, baixou secretamente vídeos de câmeras de armas, diários de combate e dezenas de milhares de cabogramas do Departamento de Estado em CDs, enquanto cantava letras de canções de Lady Gaga, segundo o seu próprio depoimento. Foi Manning quem entrou em contato anonimamente com o WikiLeaks para revelar seus segredos na esperança de “provocar um debate doméstico sobre o papel das Forças Armadas e da política externa americana”.

No que provou ser um erro fatídico, Manning então se voltou para o hacker americano Adrian Lamo, que já foi condenado por hackear várias grandes empresas, incluindo o “New York Times”. Lamo o entregou ao governo americano, dizendo estar “encurralado eticamente”, e Manning foi preso em maio de 2010 em Bagdá.

Vazamento alavancou o WikiLeaks de Assange

O WikiLeaks foi fundado em 2006 pelo australiano Julian Assange, mas só ganhou fama em 2010 ao publicar o vídeo da morte de civis no Iraque. Ele vive desde 2012 refugiado na Embaixada do Equador em Londres, no Reino Unido e será preso pela polícia britânica se deixar o local. Mas o único pedido de extradição enfrentado por Assange vem da Suécia, onde ele foi acusado de abuso sexual –foi esse pedido que levou Assange a se refugiar na embaixada.

Assange não nega ter tido relações sexuais com duas voluntárias do WikiLeaks na Suécia durante um seminário em agosto de 2010, mas insiste que as relações foram consentidas. Ele alega haver motivos políticos por trás das tentativas de extraditá-lo e diz temer que a extradição para a Suécia acabe facilitando um pedido similar que venha a ser apresentado pelos americanos.

Oficialmente, os EUA nunca apresentaram um pedido pela extradição de Assange. Os americanos também nunca fizeram qualquer acusação formal contra ele. Assange teme que os suecos o entreguem aos EUA, onde seria julgado pela publicação de milhares de documentos militares e diplomáticos.

Assange chegou a dizer que aceitaria ser extraditado para os Estados Unidos se Obama concedesse o indulto para Manning — o perdão não foi concedido. Desde então, ele desconversou sobre prazos para isso.

Em janeiro, a Inteligência Nacional dos EUA divulgou um relatório acusando hackers russos de, com a anuência do presidente Vladimir Putin, invadirem os servidores do Partido Democrata e passar as informações para o WikiLeaks. Esses dados continham indícios de um suposto favorecimento da legenda à candidata Hillary Clinton nas primárias e teriam sido vazados para beneficiar Trump –que agora ataca o australiano e defende a sua prisão. (Com agências internacionais)

O Pipoco

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