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Com criatividade, bar dá exemplo de inclusão de deficientes

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Com boa vontade e imaginação, os proprietários de um bar-restaurante em Bolonha, no norte da Itália, criaram um local completamente acessível a deficientes físicos – dentro e fora do balcão.

Inaugurado há poucas semanas, o L’Altro Spazio conta com uma série de simples adaptações que permitem o emprego de funcionários com limitações físicas.

A simplicidade das soluções pode ser notada já na entrada. Uma rampa de madeira, removível, facilita o ingresso de pessoas com dificuldades motoras, evitando reformas de grande porte, além da burocracia necessária para modificações na calçada pública.

Entre as novidades criadas especialmente para o local está um balcão de apenas 80cm de altura, que pode ser usado por cadeirantes, tanto de um lado quanto do outro. Dentro, as geladeiras, as garrafas, as máquinas de lavar copos e demais instrumentos de trabalho estão todos à altura de quem usa cadeira de rodas.

Um sistema de laços amarrados às torneiras da máquina de chopp permite que a bebida seja tirada usando apenas uma mão. A cozinha também foi planejada para receber empregados com deficiência.

Um dos chefs tem apenas 10% da visão. Em dias de pouco movimento, graças à disposição especial do mobiliário e dos equipamentos, ele dá conta de preparar as refeições sozinho.

No L’Altro Spazio, a maioria dos funcionários conhecem a língua dos sinais. Mas, se o surdo estiver atrás do balcão, os clientes podem ajudá-lo usando bilhetes impressos com o nome de cada bebida ou coquetel.

Para os clientes cegos, o bar oferece um mapa do local que descreve em braile a disposição das mesas, o espaço entre elas, o acesso ao bar, ao banheiro e os obstáculos presentes no salão. Além disso, o cardápio em braile traz a descrição completa dos ingredientes presentes nos drinks e pratos da casa. “Não é apenas uma questão de garantir o acesso físico, mas de conscientizar as pessoas de que, com boa vontade e formação, é possível empregar pessoas com dificuldades físicas”, afirma à BBC Brasil Nunzia Vannuccini, uma das sócias do local.

Tentativa e erro

De acordo com Nunzia, o maior problema durante a construção do bar foi superar a burocracia devido à falta de padrões técnicos para a acessibilidade de funcionários com deficiência.

“Começamos do zero. Os arquitetos e marceneiros trabalharam com base no projeto desenvolvido por nós, já que, com exceção das medidas relativas à porta de entrada e aos banheiros, não existem parâmetros para este tipo de construção”.

“Fizemos tudo na base da tentativa e erro”, diz. “O balcão do bar, por exemplo, não era baixo e largo o suficiente. Tivemos que refazê-lo completamente”.

Manuela Migliaccio, garçonete cadeirante de 31 anos, foi uma das funcionárias que ajudou os proprietários a encontrarem as medidas ideias para o local. “Não é preciso um projeto de engenharia aeroespacial. Com poucas adaptações, nós deficientes podemos fazer tudo”.

Este é seu primeiro emprego desde que, há seis anos, ficou paralítica após uma queda. “Sou uma ‘barwoman’. Sempre fiz este serviço porque adoro estar em contato com o público, mas até então não tinha encontrado outro emprego”, diz.

Além do aspecto econômico de se ter um trabalho, Manuela considera importante “poder mostrar que os deficientes físicos são como as demais pessoas”.

“As campanhas de conscientização deixam muito a desejar. Ser atendido por um ‘barman’ em cadeira de rodas e perceber que ele consegue fazer tudo o que os outros fazem causa nas pessoas um impacto muito maior do que qualquer teoria”, afirma.

“No início, alguns clientes ficam surpresos, mas depois percebem que não há nada de tão especial em trabalhar como garçom estando numa cadeira de rodas”.

Chiara Danisi, de 25 anos, que tem mal formação em um dos braços devido à doença focomelia, também contribuiu para a busca de soluções criativas ao local. “Agora, até os garçons que não têm dificuldades físicas usam o meu método par tirar chopp com uma mão só”, brinca.

Ela afirma que alguns clientes tendem a fazer o pedido a outros atendentes, por acreditarem que ela não seja capaz de preparar as bebidas. “Mas depois eles caem na real e percebem que estou ali exatamente para trabalhar”.

Para Chiara, bastam poucas adaptações para que um deficiente físico possa realizar as mesmas tarefas que os demais trabalhadores. “Uma coisa é definir os direitos dos deficientes, outra é criar condições para que eles se concretizem. É difícil encontrar pessoas dispostas a valorizarem aquilo que podemos fazer, em vez de concentrarem-se sempre nas nossas dificuldades.”

Ambiente jovem

Segundo o artista e cineasta holandês Jascha Blume, de 33 anos e sócio do bar, o local tem atraído um público jovem, como a maioria dos outros locais da cidade, conhecida pela grande concentração de estudantes universitários entre a sua população.

Em entrevista à BBC Brasil via whatsApp, Jascha, que é surdo, conta que tem recebido muitos pedidos de reserva por parte de estudantes para as festas de final de ano.

“Não é um lugar com clima de hospital ou um espaço cheio de doentes. É um espaço rico em diversidades, com muito entrosamento entre as pessoas. Realizamos shows de música, exposições de arte, cursos e várias atividades que não estão necessariamente relacionadas aos deficientes ou à acessibilidade. É um bar moderno, como outro qualquer”.

Questionado se não seria melhor que todos os lugares públicos fossem acessíveis, Jascha é categórico. “As verdadeiras barreiras são as pessoas, não os lugares. São as pessoas que criam os lugares”. “Tudo começa com um pequeno passo”, digita em seu celular.

O Pipoco

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