Brasil

O que se sabe (e o que falta saber) sobre o zika vírus e a microcefalia

160127114255_zika_bebe_624x415_getty_nocredit-300x200 O que se sabe (e o que falta saber) sobre o zika vírus e a microcefaliaO Brasil está enfrentando uma epidemia de zika, doença “prima da dengue”, desde o meio do ano. No final do ano passado, foi confirmada pelo Ministério da Saúde a relação entre o vírus zika e a microcefalia, uma má-formação do cérebro de bebês.

A doença, também transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, provoca sintomas parecidos, porém mais brandos do que os da dengue: febre, dor de cabeça e no corpo e manchas avermelhadas.

A região Nordeste é a mais afetada pelo surto de microcefalia – no Brasil ao todo estão sendo investigados 3.448 casos suspeitos da doença. Outros 270 foram confirmados pelo Ministério da Saúde nesta quarta-feira, e 462 foram descartados.

O avanço do zika e os casos de microcefalia pegaram o país de surpresa e suscitaram várias dúvidas. Veja abaixo as respostas a algumas dessas questões:

Qual a relação entre o zika e a microcefalia?

A partir de exames realizados em uma bebê nascida no Ceará, e que acabou morrendo com microcefalia e outras más-formações congênitas, identificou-se a presença do vírus.

A confirmação foi possível a partir da confirmação, pelo Instituto Evandro Chagas, da presença do vírus em amostras de sangue e tecidos da recém-nascida, que morreu.

A confirmação da relação entre o vírus e a microcefalia é inédita na pesquisa científica mundial.

A microcefalia é uma má-formação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Ela pode ter diferentes origens, como substâncias químicas, radiação e agentes biológicos (infecciosos), como bactérias e vírus.

Segundo o governo, na epidemia atual, os bebês nascem com perímetro cefálico menor que o normal (ou seja, igual ou inferior a 32 cm), que habitualmente é superior a 33 cm.

O que ainda não sabemos sobre a ligação entre o zika e a má-formação fetal?

O Ministério da Saúde deixou claro, no entanto, que ainda há muitas questões a serem respondidas. Uma delas é como ocorre exatamente a atuação do zika no organismo humano e a infecção do feto.

Uma pesquisa do Instituto Carlos Chagas (Fiocruz Paraná) e da PUC-PR confirmou que o vírus zika consegue atravessar a placenta durante a gestação.

Mas também não se sabe ao certo qual o período de maior vulnerabilidade para a gestante. Em análise inicial do governo, o risco está associado aos primeiros três meses de gravidez.

O que é o zika?

É um arbovírus (do gênero flavivírus), ou seja, costuma ser transmitido por um artrópode, que pode ser um carrapato, mas normalmente é um tipo de mosquito. No caso do zika, ele é transmitido por um mosquito do gênero Aedes, como o Aedes aegypti, que também transmite a dengue e a chikungunya.

Além disso, ele também está relacionado com a febre amarela, febre do Nilo e a encefalite japonesa.

Qual a origem do zika?

O vírus foi identificado pela primeira vez em 1947 em Uganda, na floresta de Zika. Ele foi descoberto em um macaco rhesus durante um estudo sobre a transmissão da febre amarela no local.

Exames confirmaram a infecção em seres humanos em Uganda e Tanzânia em 1952, mas somente em 1968 foi possível isolar o vírus, com amostras coletadas em nigerianos.

Diversas análises genéticas demonstraram que existem duas grandes linhagens do vírus: a africana e a asiática.

Quantas pessoas já morreram no Brasil vítimas do zika?

Segundo o Ministério da Saúde, já foram notificados 68 casos de morte por má-formação congênita após o parto (natimorto) ou durante a gestação (aborto espontâneo).

Desses, foi confirmado que 12 tinham a infecção congênita, todos na região Nordeste. Ainda estão sendo investigadas 51 mortes, e outras cinco já foram descartadas.

Também foi confirmada pelo governo a morte de pelo menos outras duas pessoas.

O primeiro caso foi o de um homem com histórico de lúpus e de uso crônico de medicamentos corticoides, morador de São Luís (MA). Exames específicos mostraram a presença do genoma do zika no sangue e em órgãos como o cérebro, fígado, baço, rim, pulmão e coração.

O segundo é o de uma menina de 16 anos, do município de Benevides, no Pará, que acabou morrendo no final de outubro. Com suspeita inicial de dengue, ela apresentou dor de cabeça, náuseas e manchas vermelhas na pele e mucosas. Testes deram positivo para o zika.

Houve surtos anteriores de zika?

Sim, mas não no atual grau. Em 2007, por exemplo, foram registrados casos de infecção do vírus na ilha de Yap, que integra a Micronésia, no oceano Pacífico.

Foi a primeira vez que se detectou o vírus fora de sua área geográfica original, a África.

Também houve casos nas Ilhas Cook e Nova Caledônia, também no Pacífico, e no final de 2013 houve um surto na Polinésia Francesa. Mais de 10 mil casos foram diagnosticados.

Desse total, cerca de 70 evoluíram para um estado grave. Esses pacientes desenvolveram complicações neurológicas, como meningoencefalite, e doenças autoimunes, como leucopenia (redução do nível de leucócitos no sangue).

No dia 26 de novembro, um relatório divulgado por autoridades locais mostrou que pelo menos 17 casos de má-formação do sistema nervoso central foram registrados entre 2014 e este ano, de acordo com o Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês).

Na América, o vírus foi detectado pela primeira vez em fevereiro de 2014 por autoridades chilenas, que confirmaram um caso na Ilha de Páscoa. A transmissão se deu de maneira autóctone (ocorrida dentro do território nacional e não em pessoas que viajaram para o exterior).

Em maio de 2015, o Brasil confirmou seu primeiro caso desse tipo de transmissão, em um paciente da região Nordeste.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, há casos autóctones em Barbados, Bolívia, Colômbia, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guiana Francesa, Guadalupe, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Martinica, México, Panamá, Paraguai, Porto Rico, Saint Martin, Suriname, Ilhas Virgens Americanas e Venezuela.

Também houve casos diagnosticados, entre outros, nos EUA, Inglaterra, Espanha, Itália, Portugal e Dinamarca. Mas os pacientes haviam viajado e contraíram o vírus em outros países.

Qual o tempo de incubação do vírus?

O tempo de incubação tende a oscilar entre 3 e 12 dias. Após esse período surgem os primeiros sintomas. No entanto, a infecção também pode ocorrer sem o surgimento de sintomas (leia mais abaixo).

Segundo um estudo publicado na revista médica The New England Journal of Medicine, uma em cada quatro pessoas desenvolve os sintomas.

A maioria dos pacientes se recupera, sendo que a taxa de hospitalização costuma ser baixa.

E os sintomas?

O vírus provoca sintomas parecidos com os da dengue, contudo mais brandos: febre alta, dor de cabeça e no corpo, manchas avermelhadas, dores musculares e nas articulações. Também pode causar inflamações nos pés e nas mãos, conjuntivite e edemas nos membros inferiores. Os sintomas costumam durar entre 4 e 7 dias.

Há outros sintomas menos frequentes, como vômitos, diarreia, dor abdominal e falta de apetite.

No entanto, é bom lembrar que cerca de 80% dos casos são assintomáticos, ou seja, a pessoa não percebe que está doente. Análises recentes no Brasil indicam que o zika pode contribuir para agravamento de quadros clínicos e levar à morte.

A infecção por zika pode se confundir com a dengue, pois os sintomas são parecidos, embora mais brandos

Qual o tratamento para o zika?

Não há uma vacina nem um tratamento específico para o zika vírus, apenas medidas para aliviar os sintomas, como descansar e tomar remédios como paracetamol para controlar a febre. O uso de aspirina não é recomendado por causa do risco de sangramento.

Também se aconselha beber muito líquido para amenizar os sintomas.

Há prevenção?

Como a transmissão ocorre pela picada do mosquito, recomenda-se o uso de mosquiteiros com inseticidas, além da instalação de telas. Também são indicados repelentes com um composto chamado icaridina e roupas que cubram braços e pernas, para reduzir as chances de se levar uma picada.

O que o governo está fazendo para lidar com a epidemia de zika e a microcefalia?

O Ministério da Saúde fez um apelo para uma mobilização nacional no combate ao mosquito Aedes aegypti.

O governo também anunciou que, no dia 13 de fevereiro, cerca de 220 mil homens das Forças Armadas irão às ruas orientar moradores sobre a prevenção ao Aedes aegypiti. E prometeu fornecer repelentes para 400 mil grávidas beneficiárias do Bolsa Família.

O ministério também afirma que distribuirá 500 mil testes para realizar o diagnóstico do vírus zika.

No dia 13 de novembro, Cláudio Maierovitch, diretor do departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis, recomendou que as mulheres não engravidassem.
“Não engravidem agora. Esse é o conselho mais sóbrio que pode ser dado”, disse.

Depois, o Ministério da Saúde baixou o tom e hoje recomenda cautela a mulheres que pretendem engravidar. Também recomenda que grávidas usem roupas de manga comprida, calças e repelentes apropriados para gestantes.

É importante que as gestantes mantenham o acompanhamento e as consultas de pré-natal, com a realização de todos os exames recomendados pelo médico.

A Presidência também determinou a convocação do chamado Grupo Estratégico Interministerial de Emergência em saúde Pública de Importância Nacional e Internacional (GEI-ESPII), que envolve 19 órgãos e entidades, para a formulação de plano nacional do combate ao mosquito.

Fontes: Ministério da Saúde, Organização Panamericana de Saúde, Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), Biblioteca Nacional de Medicina e Institutos de Saúde dos Estados Unidos e WebMD.

Uol

O Pipoco

Jornalismo sério com credibilidade. A Verdade nunca anda sozinha. Apresentaremos fatos num jornalismo investigativo e independente. Com o único compromisso de mostrar para Você, Cidadão, o que acontece nos bastidores da Política; da Administração e Outros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fechar