Parentes e amigos velam corpo de Naná Vasconcelos na Assembleia
Amigos e parentes do percussionista Naná Vasconcelos se encontram na Assembleia Legislativa de Pernambuco, na área central do Recife, onde velam o corpo do artista que morreu na manhã desta quarta-feira (9). Naná estava internado há 10 dias no Hospital da Unimed III e não resistiu a complicações de um câncer de pulmão. O corpo do artista chegou à sede do Poder Legislativo pouco depois das 14h30, onde era aguardado pelos entes mais próximos.
Consternadas, a viúva do percussionista, Patrícia Vasconcelos, e filha do casal, Luz Morena, se emocionaram com a chegada do caixão e recebem o carinho de pessoas ligadas à família. “Ele partiu fazendo música no quarto do hospital nos últimos dias da vida dele. Ele vivia a música respirava a música. Todo momento que falava sobre isso se sentia melhor. Espalhou muito amor e muita música pelo mundo todo. Essa é uma perda material, mas a música vai ficar. Ele deixa humildade como lição. Respeito ao próximo”, disse a esposa Patrícia.
A filha do casal, Luz Morena, 16, disse que leva do pai um exemplo de humildade e força. “Ele me dá muita força sempre. Ele me chamou na UTI e me disse que eu seguisse meu sonho, que é estudar design de moda fora do país. Tenho muito orgulho da obra e da pessoa que ele foi”, disse a filha com serenidade.
A outra filha do percussionista, Jasmin Azul, 21 anos, mora em Nova Iorque. A família não sabe se dará tempo de ela chegar para o velório. A cerimônia foi aberta ao público. A população poderá ter acesso ao plenário da Casa de José Mariano até a manhã da quinta-feira (10), antes do cortejo partir rumo ao Cemitério de Santo Amaro, também na área central do Recife, onde acontecerá o enterro de Naná Vasconcelos, às 10h.
Na coroa de flores que veio junto com o corpo de Naná, havia a inscrição “Amém e amem”. Segundo o contra-regra de Naná, Edelvan Barreto, essa era a mensagem que ele queria deixar para o mundo. “Amém e amem ele compôs da primeira vez que se internou no ano passado. Essa música deve se propagar em toda a humanidade nesse mundo perturbado que vivemos hoje. Essa era lição que Naná queria deixar para todos nós”.
Os famosos tambores de Naná não estiveram presentes durante seu velório. Seu fotógrafo e amigo João Rogério Filho disse que o prédio da Alepe, por ser um patrimônio histórico e tombado tinha restrições. “Aqui tem uma restrição com instrumento de percussão. A batida forte pode subir e danificar a estrutura do prédio”.
Integrantes da Orquestra Criança Cidadã também fizeram uma apresentação em homenagem a Naná durante o velório. O presidente da Alepe, deputado Guilherme Uchoa destacou o patrimônio cultural que o percussionista era para o estado. “Ele é um exemplo para essa juventude que hoje o sucede. Ele deixou um exemplo forte da cultura pernambucana no exterior. Ele resistiu à doença até os últimos minutos da vida e vai deixar uma lacuna impreenchível”, afirmou.
O prefeito do Recife Geraldo Julio também esteve presente no velório e reforçou que o legado do percussionista é um presente a cultura de Pernambuco. “Naná já foi reconhecido várias vezes como melhor percussionista. Convivi muito com ele. Fica o ensinamento dele, toda a arte, o talento e a cultura para marcar nossa cidade e inspirar muita gente para seguir os passos”.
O músico Zé da Flauta chegou a conversar com Naná na terça (8). Segundo ele, o estado do percussionista já era fragilizado. “Ele fazia um esforço danado e não podia pra falar. Eu sai muito abalado de lá e acordei com essa notícia. Eu chamava ele, meu grande amigo, de “Butimbundo”. É uma expressão africana para dizer que a pessoa é muito inteligente. Ele me chamava assim também”, recordou.
A risada do músico é o que vai ficar na memória do Maestro Forro. “Minha lembrança mais marcante, além de ser um gênio musical, era da sua risada. Ele acabava com qualquer embate, qualquer divergência, só rindo. Ele vai ficar vivo em nossos corações como um dos melhores exemplos de resistência, de luta”, afirmou Forró.
Para o músico Ed Carlos, conhecer Naná mudava a vida de qualquer pessoa. “Aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo não são mais as mesmas pessoas. Assim foi comigo. Tive o privilégio de estar ao lado dele e hoje me sinto mais gente por isso. Só digo uma coisa: Naná é pra sempre”, disse.
No fim da manhã, o governador Paulo Câmara decretou luto de três dias pela morte do percussionista pernambucano Naná Vasconcelos. O artista que faleceu na manhã desta quarta-feira em decorrência de complicações de um câncer de pulmão, no Hospital Unimed III, onde estava internado desde o último dia 29. A morte do artista pernambucano foi confirmada no início da manhã. Segundo informações da assessoria da unidade de saúde, Naná teve uma parada respiratória, passou por um procedimento, mas não resistiu e faleceu às 7h39.
Além do decreto, o chefe do Executivo estadual divulgou nota falando sobre o artista. “Pernambuco acordou triste. O silêncio causado pelo desaparecimento de Naná Vasconcelos em nada combina com a força da sua música, dos ritmos brasileiros que ele, como poucos, conseguiu levar a todos os continentes. Naná era um gênio, um autodidata que com sua percussão inventiva e contagiante conquistou as ruas, os teatros, as academias. Meus sentimentos e a minha solidariedade para com os seus familiares”, diz o texto.