Investigado, Dom Aldo continua sem poder ordenar padres
O processo do Vaticano contra o arcebispo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, suspeito de envolvimento em exploração sexual de menores, ganhou um novo capítulo com a visita eclesiástica do arcebispo de Teresina, Dom Jacinto, à Paraíba. Ele foi designado pelo papa Francisco para realizar uma sindicância (que no Direito Canônico é chamada de visita eclesiástica) a fim de apurar as denúncias. Dom Aldo segue sem poder ordenar padres e diáconos. Há pelo menos sete padres transitórios aguardando para serem ordenados.
Durante o período em que esteve na capital, Dom Jacinto ficou hospedado no Lar da Providência Carneiro da Cunha entre os dias 13 a 18 de março e chegou a manter uma rotina eclesiástica, participando das celebrações eucarísticas com a freiras do asilo, conforme relatou uma delas. Dom Jacinto ouviu os relatos de algumas pessoas que teriam sido vítimas de abuso sexual, como seminaristas e coroinhas, além de padres, diáconos e leigos que serviram como de testemunha de defesa e acusação, e o próprio Dom Aldo.
O procurador do trabalho, Eduardo Varandas, também teria sido ouvido pelo pontífice, uma vez que no Ministério Público do Trabalho na Paraíba há uma investigação por suposta conivência de Dom Aldo num esquema de exploração sexual de crianças e adolescentes.
Outra peça chave no processo, também ouvida pelo representante do Vaticano, Mariana José Araújo Silva, ligada à Paróquia São Rafael, acusa Dom Aldo, de ter tido relação afetiva e sexual com um jovem de 18 anos de idade. Em outra denúncia, o arcebispo é acusado de realizar encontros amorosos com a presença de outros padres e jovens para experiências sexuais.
Os padres ouvidos pelo representantes da Santa Sé temem relatar mais detalhes por conta do sigilo pontifício. Caso ele seja quebrado o presbítero pode ser tornado leigo, ou seja, expulso da igreja católica.
Procurado pela reportagem do JORNAL DA PARAÍBA, o arcebispo Dom Aldo afirmou desconhecer a visita de Dom Jacinto e disse que não tem nada a falar sobre o assunto.
Investigação
Esta é a segunda visita canônica realizada para apurar as denúncias que chegaram à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) contra Dom Aldo. A primeira ocorreu em agosto de 2013, ocasião em que Dom Fernando Guimarães, então arcebispo de Garanhuns (PE), hoje arcebispo da diocese militar em Brasília, ouviu cerca de 26 padres prestaram depoimentos contrários à conduta de Pagotto.
Responsável pela arquidiocese paraibana desde 2004, por enquanto, Dom Aldo pode apenas presidir celebrações eucarísticas e alguns sacramentos, como batizados, crisma e matrimoniais. A suspensão da chamada ordem episcopal ocorre desde o início de 2015, por iniciativa da Santa Sé, que abriu procedimento para investigar as denúncias apresentadas contra o arcebispo da Paraíba.
“Tem uma turma de seminaristas esperando há mais de um ano a ordenação. E essas ordenações são feitas assim que os seminaristas terminam o curso teológico, mas como eles está impedido de ordenar, seguimos com os poderes limitados ao sacramentos do diaconato”, lamenta um padre transitório, que pediu que não o identificasse.
Conforme relato do padre, ao ficar impedido de ordenar, Dom Aldo fez uma reunião com os seminaristas que aumentou ainda mais a crise. “Os diáconos também estão esperando ordenação e ele suspenso”, comentou um dos diáconos, que ainda aguardam a ordenação.
Na mira do Vaticano
As denúncias envolvendo Dom Aldo têm sido duramente combatidas pelo papa Francisco desde que assumiu. Em outubro do ano passado, o papa questionou o comportamento daqueles, “incluindo alguns bispos”, que são “culpados” de ter acobertado crimes de pedofilia na Igreja. “Nós não podemos encobrir” atos de padres pedófilos e “aqueles que os acobertam são culpados, incluindo alguns bispos”, ressaltou.