Especialista explica porque o Aedes aegypti consegue transmitir diversos tipos de vírus
Durante o verão, a reprodução de mosquitos aumenta, inclusive do Aedes aegypti, transmissor de dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A elevação da temperatura e a intensificação das chuvas proporcionam a eclosão de ovos do inseto, considerado uma das espécies de mosquitos mais difundidas no planeta pela Agência Europeia para Prevenção e Controle de Doenças. Ações preventivas para a eliminação de focos do vetor devem, portanto, ser intensificadas. Adriano Mondini, especialista em saúde pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara (SP), explica porque o Aedes consegue transmitir diferentes tipos de vírus.
“Das doenças que nós conhecemos atualmente, que estão sendo transmitidas pelo Aedes aqui no Brasil, temos os quatro sorotipos de dengue, o vírus da chikungunya, o vírus da zika e, recentemente, pode ser que seja transmissor do vírus da febre amarela, justamente por ser transmitida pelo Aedes aegypti em ambientes urbanos. A gente tem alguns mecanismos que são envolvidos na transmissão desses vírus. Os diretamente relacionados ao vetor estão relacionados à suscetibilidade do Aedes aos vírus. O mosquito faz o repasse sanguíneo (se alimenta) e o sangue precisa chegar ao intestino médio dele e romper uma barreira que existe no órgão. Se ele conseguir passar para outras partes do mosquito, ele é suscetível aos vírus”, explica o especialista.
Mondini pressegue: “No entanto, a presença do vírus no mosquito não quer dizer que ele seja transmissor. É necessário que chegue até a glândula salivar e a saliva esteja com uma quantidade suficiente de vírus para infectar uma pessoa. Também tem outra questão, que é a linhagem do mosquito. Existem diferenças na genética que fazem com que os mosquitos tenham maior ou menor suscetibilidade e capacidade vetorial a determinado vírus.”
O especialista revela ainda que há uma “pressão seletiva do meio”, relacionada a temperatura, umidade, presença de vetor e de indivíduos suscetíveis para infecção. “Tudo isso pode alterar a estrutura do vírus e causar uma maior ou menor suscetibilidade ao mosquito.
De acordo com o levantamento mais recente realizado pelo Ministério da Saúde, desde o início do ano, 855 cidades brasileiras estão em situação de risco de surto de dengue, zika e chikungunya.
O primeiro boletim da dengue, zika e chikungunya de 2017 na Paraíba indicou que de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2016 (52ª Semana Epidemiológica) foram notificados 44.374 casos de dengue no estado. No mesmo período de 2015 foram registrados 29.858 casos, o que representa um aumento de 48,61%. Nesse período, 108 mortes ligadas ao Aedes foram registradas.
A infecção por vírus transmitidos pelo Aedes aegypti pode deixar sequelas permanentes, como é o caso da relação descoberta entre a zika e a microcefalia. Em pesquisa recente, constatou-se que a malformação atinge mais os bebês de mulheres que tiveram zika durante o primeiro trimestre da gestação. A conclusão veio através de estudo realizado na Paraíba por representantes do Centro de Controle e Prevenção de Doenças do Governo dos Estados Unidos (CDC), da Saúde do Estado e do Ministério da Saúde sobre a relação entre o vírus Zika e a microcefalia.