França pede “resposta com firmeza” da Europa contra as medidas de Trump
O presidente francês, François Hollande, quis ser o único dos chefes de Estado e de Governo –reunidos neste sábado em Lisboa, em uma cúpula dos países do sul da União Europeia– que emitisse uma mensagem clara e contundente contra as primeiras políticas adotadas e anunciadas pelo presidente norte-americano, Donald Trump. Hollande deixou a reunião durante um recesso para antecipar que a Europa “tem de responder” a essas posições mais radicais de Trump –como por exemplo a suspensão da entrada de todos os refugiados e de imigrantes de países de maioria muçulmana nos EUA. Ao finalizar o encontro, durante a declaração conjunta, Hollande foi também o único que propôs abertamente “dialogar com firmeza” e contrapor as teses mais duras do mandatário norte-americano às políticas clássicas que definem agora a União Europeia: “Um continente sempre aberto, com normas e princípios. Um continente não contra os demais, mas a favor de nós mesmos, e que traz valores de paz, igualdade, que estão em nossos genes e em nosso genoma”, afirmou.
Quando este segundo encontro informal entre os líderes de Chipre, França, Grécia, Itália, Malta, Portugal e Espanha terminou, todos fizeram uma declaração conjunta dividida, em tese, em dois minutos de intervenção para cada um. Os presidentes e chefes de Executivos se sucederam para defender um processe de maior colaboração e coordenação na Europa, agora que se completa o 60º aniversário da assinatura do Tratado de Roma, que deu impulso à União Europeia. A maioria coincidiu em que será necessário repensar os projetos futuros da UE com mais fatos do que com belas palavras, para voltar a dar esperança aos cidadãos mais jovens e se contrapor às ofertas populistas e ultranacionalistas, agora em expansão.
François Hollande começou sua intervenção também por esse caminho, mas proclamou a necessidade de elaborar “uma estratégia mais ambiciosa para dar à Europa mais confiança e decidir o que quer ser antes de a contrapor a outros”. O presidente francês enumerou os desafios da saída da crise econômica, as mudanças climáticas, as fronteiras, as imigrações e as relações com outros continentes para defender “uma política externa capaz de influir no mundo e dialogar com firmeza com a nova Administração norte-americana”. Hollande voltou a afirmar que as primeiras medidas de Trump sobre a Ucrânia, sobre o meio ambiente, de protecionismo comercial e contra os tratados de livre comércio são o contrário do que a Europa definiu até agora. Foi então que contrapôs essas ideias de Trump à Europa como um continente aberto e “com relações comerciais equilibradas”.
“A Europa não é protecionista, não está fechada nem carece de valores nem princípios”, disse François Hollande
“A Europa não é protecionista, não é fechada, nem carece de valores nem princípios. Isso é o que a Europa tem de demonstrar na cúpula de Roma”, em 25 de março. E concluiu: “Temos de estar conscientes da responsabilidade que temos. A Europa é uma força, uma garantia, uma proteção”.
Os demais presidentes e chefes de Governo não fizeram nenhuma menção direta a Trump, nem mesmo Rajoy. O mais próximo que disse o presidente de Governo espanhol (primeiro-ministro) foi que a “Europa tem de dar uma mensagem de unidade, que existe, e de vontade de mais integração no futuro”. Fontes próximas de Rajoy em La Moncloa indicaram, além disso, que sua intenção por ora é “dar mais tempo ao tempo, não antecipar acontecimentos e defender nossas posições”. O Executivo espanhol de Rajoy salienta que Trump até agora não questionou em público o Tratado de Livre Comércio negociado com a UEE (o TTIP, pela sigla em inglês) com a administração norte-americana anterior, de Barack Obama. Rajoy disse à sua equipe que o conflito entre os Estados Unidos e o México “será resolvido” no final das contas e que agora de nada adianta entrar em uma guerra de declarações contra Trump e sua equipe.