Paraíba

Seca faz plantações de coco sumirem e desemprego chega a 98% no Sertão da PB

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Em cinco anos consecutivos de estiagem, a maior produção de coco da Paraíba foi praticamente extinta. De acordo com o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), na área conhecida como o Perímetro Irrigado de São Gonçalo, pertencente às Várzeas de Sousa, o desemprego atinge até 98% no setor. Por ano, os paraibanos deixaram de lucrar até R$ 20 milhões.

A produção, que girava em torno de 30 caminhões de coco por dia, exportados do Sertão paraibano para todo Brasil, tornou-se irrelevante. O açude São Gonçalo, que abastece além do município de Sousa e também Marizópolis, se encontra com apenas 27,3% de sua capacidade hídrica. No entanto, a irrigação do perímetro de São Gonçalo, localizado no distrito de mesmo nome, está suspensa desde 2012.

De lá para cá, os coqueiros que haviam restado foram dizimados em incêndios ocorridos no ano de 2015, quando o reservatório estava com menos de 10% da capacidade. A gerência executiva de irrigação da Secretaria de Desenvolvimento da Agropecuária e da Pesca (Sedap) não acredita que as queimadas possam ter sido provocadas.

O atual funcionário público Abílio Duarte, 30 anos, até o ano passado fazia parte da estatística de desemprego gerada pela extinção dos coqueirais. Ele conta que era produtor de cocos e perdeu 4,5 hectares de coqueirais para a seca e o fogo.

“Às vezes eu acho que os dois incêndios possam ter sido criminosos, mas a polícia investigou e não encontrou nenhuma evidência. A terra realmente estava muito seca e o que eu tinha salvado com água de um cacimbão era só um hectare. Da minha roça viviam nove famílias. Sou casado e tenho um filho, passei num concurso em boa hora, porque não sei de onde eu iria tirar meu sustento”, disse Abílio Duarte.

Segundo o chefe do Dnocs em São Gonçalo, Ednardo Alves de Oliveira, a água que garantia as irrigações no perímetro São Gonçalo vinha do reservatório local e também do açude Engenheiro Ávidos, que abastece Cajazeiras e está hoje com 5,1% de seu volume total. Ednardo ressaltou que o solo da área é rico em fósforo e potássio, o que pode ter contribuído com os incêndios. “Até a Polícia Federal foi acionada, mas a maior parte do que foi incendiado já era coqueiro seco. Além disso, nessa região há uma alta incidência de raios solares que contribui para a qualidade da água de coco produzida em Sousa e pode também ter provocado as queimadas”, explicou.

Da fartura à miséria

O gerente executivo de irrigação da Sedap, responsável pelas Várzeas de Sousa, Demilson Lemos de Araújo, afirma que além do desemprego, outro problema é a redução da qualidade da água de coco e do preço do produto.

“Com as chuvas que estão previstas para 2017, temos esperança de retomar a cultura. Mas, até lá, o que temos hoje é um coco barato e uma água não tão boa. Em épocas de bom inverno, o preço do coco chegava a R$ 1,20 a unidade e hoje está praticamente custando só 40 centavos. Os produtores que restaram estão se mantendo com prejuízo porque sabem que quando a chuva voltar, terão um bom negócio”, disse.

Para José Miguel da Silva, conhecido por Zé da Pista, a solução para fugir do desemprego foi vender almoço e lanche às margens da BR-230, de onde consegue o sustento de sua família. O ritmo da produção de coco caiu tanto que hoje seu José já deixou até de fazer doce para vender porque faltava o principal: coco.

“Foram tempos de muita fartura e agora a gente só não passa necessidade porque tem muita coragem de trabalhar, mas é difícil. A vida antes era de riqueza, agora é de miséria. Eu ainda consegui salvar 100 coqueiros nos fundos de casa, irrigando com água de um cacimbão. Mas pra quem perdeu tudo, será necessário pelo menos uns R$ 30 mil pra recomeçar do zero”.

O Pipoco

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