Com auxílio de prótese, goleiro da Chapecoense volta a andar
Resumo Esbanjando alegria e descontração, o goleiro Jackson Follmann, 24, da Chapecoense, começou mais um importante período de sua recuperação.
Desde a última segunda (6), o sobrevivente do acidente aéreo na Colômbia dá os primeiros passos com uma prótese –teve parte da perna direita amputada e tem limitações nos movimentos do tornozelo esquerdo- no Instituto de Prótese e Órtese, em São Paulo. Ele conta que um ato tão simples como andar ganhou um significado especial.
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Caminhar, que era uma coisa tão simples, se tornou um desejo muito grande. Depois do acidente, meu sonho era ficar em pé e andar. Hoje, estou realizando esse sonho.
São coisas simples como essa que agora me motivam muito mais. Hoje, a minha felicidade foi ir sozinho ao banheiro e escovar os dentes, coisas que até agora eu precisava de ajuda para fazer.
Posso dizer que estou igual a uma criança que ganhou um brinquedo. Fiquei sem reação quando dei os primeiros passos e vi minha mãe chorar. Na verdade, fiquei bobo.
Agora o objetivo é dar continuidade a esse sonho. É poder caminhar e fazer até mais do que eu fazia antes. Ainda tenho uma lesão bem grave no meu pé esquerdo, que requer um cuidado maior e mais paciência. Fiquei muito tempo internado em hospitais [56 dias] e quero agora voltar a ter uma vida normal.
Quero poder dirigir sozinho, caminhar com a minha família. Estou dando hoje mais um passo para concretizar esses sonhos. Quero trabalhar, fazer atividades físicas, praticar esportes. Estou curioso para saber e, o que o meu corpo permitir, vou fazer. Quero praticar várias modalidades esportivas, já que tudo o que tenho hoje é graças ao esporte e ao futebol.
Estou vivendo dia após dia e sei que preciso de tempo para ver o que o meu corpo pode fazer. Penso até em disputar uma Paraolimpíada. Eu sou um atleta e me vejo como atleta. Isso vai facilitar na minha recuperação. Tenho pensamentos positivos.
Antes eu saia na rua e os torcedores da Chapecoense queriam tirar fotos. Hoje, saio na rua e as pessoas querem me dar um abraço, me tocar. Tem pessoas que chegam do meu lado chorando. Sinto que estou passando uma energia boa para elas.
Vou tentar sempre estar com um sorriso no rosto. Sempre fui alegre, brincalhão e não vou ficar cabisbaixo. Isso não me ajudará em nada.
No início, achava que apenas o meu pé tinha sido amputado. Só fui ver realmente minha perna no [hospital] Albert Einstein, quando sentei para fazer fisioterapia. Tomei um susto, mas tive uma reação bem positiva.
Todo o tempo que eu fiquei na Colômbia achei que estava bem. Sabia que alguns amigos tinham morrido, mas não sabia o tamanho do desastre. Acho que não ter visto nenhum amigo meu morrendo do meu lado me ajudou na recuperação. Só tenho recordações boas deles. Lembro dos sorrisos de todos.
Lembro que o voo de Guarulhos até Santa Cruz de La Sierra foi muito tranquilo. A gente estava brincando, descontraído, muito felizes e ansiosos para chegar.
O trecho até Medellín ia bem, até que em um determinado momento as luzes se apagaram e as luzes de emergência foram acesas. Todos sentaram e colocaram o cinto. Ninguém da LaMia falou o que estava acontecendo.
Eu comecei a rezar. Ouvia várias pessoas rezando. Foi tudo muito rápido. De repente, o avião começou a flutuar e bateu no morro. Nesse momento eu apaguei, não sei por quanto tempo.
Quando acordei, achava que estava na beira de um rio ou de uma praia, já que sentia areia nas minhas costas, mas era terra. Quando abri os olhos, não veio nada na minha cabeça. Foi uma coisa muita estranha. Estava tudo escuro e escutava meus amigos pedindo socorro. Eu gritava muito por socorro porque não queria morrer. Sentia muita dor nas pernas.
Fui socorrido pela Guarda Nacional. O policial colocou uma manta para me aquecer e uma malhinha da Chapecoense no meu pescoço. Depois não lembro de mais nada.
Só sei que acordei três dias depois com a minha família do meu lado. Comecei a melhorar no sábado [o acidente foi na madrugada de uma terça-feira], mas estava muito machucado. No domingo, comecei a piorar. Tive uma infecção, fui entubado de novo e quase morri. Sabemos que sobreviver a um acidente de avião não é fácil.
Tem um mundo bonito lá fora, que é necessário explorar. Tenho que agradecer essa oportunidade de viver e andar de novo novamente.
Pretendo ficar na Chapecoense, que é a minha segunda casa. Tenho um carinho muito grande pelas pessoas que trabalham lá e pelas que se foram. Quero levar o nome da equipe para todos os lugares, no Brasil e no exterior.
Folha