Odebrecht deu R$ 2,5 mi para Andrés Sanchez em caixa 2 de campanha
A Odebrecht relatou o pagamento de R$ 2,5 milhões de caixa dois para a campanha de 2014 do deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP), eleito naquele ano.
O ex-presidente do Corinthians e responsável pela construção do estádio do time, na zona leste de São Paulo, teve 169.658 votos.
A informação consta nos acordos de delação premiada do ex-diretor-superintendente Luiz Bueno e do ex-presidente de Infraestrutura do grupo baiano, Benedito Júnior, o BJ. Os dois estão entre os 77 executivos da empreiteira que fecharam colaboração com a Lava Jato.
André Luiz de Oliveira, o André Negão, vice-presidente do clube alvinegro e assessor parlamentar de Sanchez, é apontado como o responsável por ter recebido o dinheiro, pago em espécie. Ambos negam irregularidades.
Oliveira foi alvo de condução coercitiva em março do ano passado em uma das fases da Lava Jato, após aparecer numa planilha do setor de operações estruturadas da Odebrecht, área responsável por pagamentos ilícitos.
Na documento, as citações ‘Timão’ e ‘Alface’ apareceram ligadas a um endereço na zona leste de São Paulo, identificado pela Polícia Federal como a residência de André Negão. Havia também um lembrete de um pagamento de R$ 500 mil a ser liquidado na data de 23 de outubro de 2014. A eleição para deputado federal aconteceu no dia 5 de outubro daquele ano.
Oliveira chegou a ser preso na ocasião da busca e apreensão porque os policiais federais encontraram uma arma de fogo sem licença em sua casa. Ele foi liberado após pagar fiança de R$ 5.000.
Segundo a Folha apurou, a empreiteira apresentou documentos que comprovam o repasse de R$ 2,5 milhões.
A Odebrecht foi a responsável pela construção da arena do Corinthians. Sanchez presidiu o clube entre 2007 e 2011. A construção do estádio, que ficou pronto em 2014 e sediou jogos da Copa do Mundo do Brasil, começou no último ano de mandato do dirigente. Sanchez também foi diretor de seleções da CBF entre 2011 e 2012.
BJ e Bueno eram os executivos ligados diretamente às obras da arena. Também eram os funcionários da Odebrecht mais próximos ao ex-presidente Sanchez.
Corintiano, BJ frequentava os camarotes de jogos do clube, inclusive no período em que negociava sua delação. No depoimento aos procuradores, disse saber do caixa dois para o deputado.
Bueno, no entanto, foi quem detalhou a transação ao Ministério Público Federal. Depois da eleição, o executivo costumava viajar a Brasília, onde tinha conversas reservadas com o parlamentar em seu gabinete, na Câmara.
Sanchez declarou ter recebido em sua campanha R$ 2,1 milhões, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A única empreiteira que aparece como doadora oficial é a UTC Engenharia, outro alvo da Lava Jato, com valor de R$ 100 mil.
ARENA NA LAVA JATO
Na delação, a Odebrecht diz que não houve pagamento de propina para construir o estádio do Corinthians.
Os detalhes estão no depoimento do sócio majoritário do grupo, Emílio Odebrecht, que esclareceu que a empresa construiu a arena para agradar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Alexandrino Alencar, ex-diretor de Relações Institucionais da empresa, chamado de “amigão do peito” por Sanchez, foi um dos responsáveis por viabilizar o projeto, ajudando em conversas com o ex-presidente Lula, segundo um livro publicado pelo corintiano.
Em sua delação, no entanto, Alencar não faz nenhuma revelação sobre a negociação do estádio.
OUTRO LADO
O deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP) nega que tenha recebido qualquer recurso da Odebrecht para sua campanha em 2014.
Segundo o advogado João dos Santos Gomes Filho, “não há qualquer delação direta contra Andrés Navarro Sanches”. Em resposta à Folha, ele diz que André Luiz de Oliveira, o André Negão, apontado como responsável por receber o dinheiro em espécie, “já se manifestou sobre o tema, esclarecendo que nunca pediu ou recebeu qualquer valor ou vantagem de qualquer natureza em favor ou em nome de Andrés Sanches”.
A defesa de do ex-presidente do Corinthians reitera que André Negão deu tais declarações em seu depoimento à Polícia Federal, na sua condução coercitiva, em março do ano passado. Ele foi conduzido durante a Operação Xepa, 26ª fase da Lava Jato.
O criminalista diz ainda que a delação está “acobertada sob o manto do segredo de justiça” e que como parte da defesa se obriga a respeitar tal decisão.
Procurado, André Negão diz que “nunca recebeu qualquer valor da Odebrecht”.
Ele afirma que não teve acesso aos depoimentos dos delatores e por isso “não se julga no direito de comentar tal suposição”.
A Odebrecht, por meio de nota, “reafirma seu compromisso de colaborar com as autoridades. A empresa está implantando as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparência e integridade”.
Uol