Tiro no coração político de Temer, gravação sugere crime no cargo
A delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista é um tiro no coração político de Michel Temer (PMDB).
Até aqui, ele driblava com um misto de sorte e habilidade as inúmeras citações a seu nome na Operação Lava Jato. Agora, pode no limite ser acusado de um crime cometido no exercício do mandato, a obstrução de Justiça -se isso é factível juridicamente, é questão a ser esclarecida.
A devastadora delação-surpresa dos “irmãos JBS” empareda o presidente.
A serem confirmados os termos relatados pelo “Globo”, o presidente no mínimo foi conivente com uma conspiração visando obstruir as investigações da Lava Jato com a compra de silêncio. De quebra, indicou um subordinado para ajudar a JBS a resolver problemas no governo.
Diferentemente de tudo do que foi acusado na Lava Jato, as ações ocorreram enquanto ele já exercia o cargo. Logo, não se trata do famoso “ato anterior ao mandato” que o imunizava a priori.
Claro, tudo isso dependerá de avaliações jurídicas precisas do que está gravado.
Politicamente, o presidente depende do Congresso e da manutenção ou não do apoio que mantém na elite empresarial. Como ele mesmo já pontuou algumas vezes, sua baixa popularidade não é fator que o comova, e a essa altura a pressão das ruas parece difícil de ser retomada.
Num Parlamento coalhado de acusados de coisas piores ou semelhantes, Temer poderia até ter esperança de se manter. Mas e se for acusado formalmente pela Procuradoria-Geral da República, caso isso seja possível? O PIB ficará com ele?
Até por falta de opção no momento, talvez sim. Uma renúncia, como se sabe, abriria o caminho para uma eleição indireta no Congresso que ninguém deseja. E, bem ou mal, a economia dá sinais de estabilização e melhoria.
Isso tudo, contudo, pode não valer nada se um nome de consenso já estiver sendo cozido por essa mesma elite.
Já o caso do senador Aécio Neves, presidente do PSDB, parece torná-lo definitivamente radioativo. Para o PT, uma semana depois de sofrer com as agruras judiciais de Luiz Inácio Lula da Silva, ainda sobrou o detalhamento do papel do ex-homem forte da Fazenda, Guido Mantega.
Num comentário lateral, mas nem tanto, impressiona que, passado um ano da revelação das gravações do escudeiro peemedebista Sergio Machado, políticos brasileiros ainda tenham coragem de falar de forma desenvolta sobre ilícitos com um alvo da Operação Lava Jato.
E pensar que todos eles se vendiam, em contraposição ao amadorismo político do PT, como os “profissionais”.
Folha