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Coreia do Norte atingiu capacidade de produzir mísseis nucleares, diz jornal

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A Coreia do Norte produziu com sucesso uma ogiva nuclear miniaturizada que pode caber dentro de seus mísseis, cruzando um limiar-chave no caminho para se tornar uma potência nuclear plena, segundo concluíram autoridades de inteligência dos EUA em uma avaliação confidencial obtida pelo jornal “The Washington Post”.

A nova análise, feita no mês passado pela Agência de Inteligência da Defesa (DIA, na sigla em inglês), vem no rastro de outra avaliação da inteligência que aumenta em muito a estimativa oficial do número de bombas no arsenal atômico do país comunista.

Os EUA calcularam em julho que até 60 armas nucleares hoje são controladas pelo ditador norte-coreano Kim Jong-un. Alguns peritos independentes acreditam que o número de bombas seja muito menor.

KCNA – 15.mai.17/Reuters
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O ditador norte-coreano, Kim Jong-un, sorri após teste com míssil balístico em maio deste ano

As conclusões provavelmente vão aprofundar as preocupações sobre a evolução da ameaça militar norte-coreana, que parece avançar muito mais rapidamente do que muitos especialistas previam.

As autoridades dos EUA concluíram no mês passado que Pyongyang também está superando as expectativas em seu esforço para construir um míssil balístico intercontinental capaz de atingir cidades no território continentaldos EUA.

Embora mais de uma década tenha se passado desde a primeira detonação nuclear da Coreia do Norte, muitos analistas acreditavam que levaria anos para que os cientistas militares do país criassem uma ogiva compacta que pudesse ser transportada por míssil até alvos distantes. Mas a nova avaliação, documento resumido datado de 28 de julho, conclui que esse marco crítico já foi alcançado.

“A Comunidade de Inteligência avalia que a Coreia do Norte produziu armas nucleares para entrega por mísseis balísticos, incluindo entrega por mísseis da classe ICBM”, afirma a avaliação, em um trecho lido para o “Washington Post”.

As amplas conclusões da análise foram verificadas por duas autoridades dos EUA que conhecem o documento. Não se sabe ainda se o regime recluso testou com sucesso o desenho menor, embora no ano passado a Coreia do Norte tenha afirmado oficialmente que o fez.

A DIA e o escritório do Diretor de Inteligência Nacional não quiseram comentar.

Uma avaliação feita nesta semana pelo Ministério da Defesa do Japão também concluiu que há evidências que sugerem que a Coreia do Norte conseguiu a miniaturização.

Kim Jong-un está cada vez mais seguro sobre a confiabilidade de seu arsenal nuclear, segundo analistas, o que talvez explique a disposição do ditador a adotar comportamento desafiador, incluindo testes de mísseis que provocaram críticas até do aliado mais próximo da Coreia do Norte, a China.

No sábado (5), China e Rússia uniram-se aos demais membros do Conselho de Segurança da ONU para aprovar novas sanções econômicas punitivas, incluindo a proibição de exportações que fornecem um terço da receita anual de US$ 3 bilhões da Coreia do Norte.

O progresso nuclear aumenta as apostas do presidente Trump, que prometeu que a Coreia do Norte nunca terá chances de ameaçar os EUA com armas nucleares.

Em uma entrevista transmitida no sábado (5) pelo programa “Hugh Hewitt Show”, da MSNBC, o conselheiro de Segurança Doméstica H.R. McMaster disse que a perspectiva de uma Coreia do Norte armada com mísseis balísticos intercontinentais com ogiva nuclear seria “intolerável, da perspectiva do presidente”.

“Temos de fornecer todas as opções… e isso inclui uma opção militar”, disse ele. Mas McMaster afirmou que o governo fará tudo para “pressionar Kim Jong-un e os que o cercam para que eles concluam que é do seu interesse se desnuclearizar”.

As opções que estariam em discussão vão de novas negociações multilaterais à reintrodução de armas nucleares americanas na península Coreana, disseram autoridades inteiradas das discussões.

Determinar a formação exata do arsenal nuclear da Coreia do Norte tem sido um desafio constante para profissionais de inteligência, por causa da cultura do regime de extremo sigilo e isolamento.

Os cientistas de armas do país realizaram cinco testes nucleares desde 2006, sendo o último uma detonação de 20 a 30 quilotons em 9 de setembro de 2016 que produziu uma explosão que teria o dobro da potência da bomba despejada pelos EUA em Hiroshima, no Japão, em 1945.

Mas produzir uma ogiva nuclear compacta que coubesse dentro de um míssil é um feito tecnicamente difícil, que muitos analistas acreditavam que estivesse além do alcance da Coreia do Norte.

No ano passado, a mídia estatal de Pyongyang exibiu um dispositivo esférico que porta-vozes do governo descreveram como uma ogiva nuclear miniaturizada, mas não ficou claro se era uma bomba de verdade. Autoridades norte-coreanas descreveram a detonação em setembro como um teste bem sucedido de uma pequena ogiva destinada a caber em um míssil, embora muitos especialistas fossem céticos diante da alegação.

Kim proclamou repetidamente sua intenção de armar uma frota de mísseis balísticos com ogivas nucleares como garantia da sobrevivência de seu regime. Seu governo deu um grande passo na direção desse objetivo no mês passado, com os primeiros testes bem sucedidos de um foguete com alcance intercontinental.

KCNA – 4.jul.17/Reuters
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O míssil intercontinental Hwasong-14 é lançado em teste norte-coreano no dia 4 de julho

Análises de vídeos do último teste revelaram que o míssil se incendiou e aparentemente se desintegrou ao cair na superfície terrestre, sugerindo que os engenheiros da Coreia do Norte ainda não são capazes de construir um veículo de reentrada capaz de carregar a ogiva em segurança pela alta atmosfera. Mas analistas dos EUA e muitos peritos independentes acreditam que esse obstáculo será superado no final do próximo ano.

“O que inicialmente parecia uma crise dos mísseis cubanos em câmera lenta agora parece mais o Projeto Manhattan, em disparada”, disse Robert Litwalk, um especialista em não proliferação no Centro Internacional Woodrow Wilson para Acadêmicos e autor de “Preventing North Korea’s Nuclear Breakout” [Evitando a emergência nuclear da Coreia do Norte], publicado neste ano pelo centro. “Há uma sensação de urgência por trás do programa que é novo para a era Kim Jong-un.”

Embora algumas pessoas não deem crédito ao progresso da Coreia do Norte, alguns importantes especialistas americanos advertiram sobre o perigo de superestimar a ameaça.

Siegfried Hecker, diretor emérito do Laboratório Nacional Los Alamos e a última autoridade americana conhecida por inspecionar pessoalmente as instalações nucleares da Coreia do Norte, calculou o tamanho do arsenal norte-coreano em não mais que 20 a 25 bombas. Hecker advertiu sobre potenciais riscos que podem vir a transformar Kim em uma ameaça maior do que ele realmente é.

“Exagerar no poder dele é especialmente perigoso”, disse Hecker, que visitou a Coreia do Norte sete vezes entre 2004 e 2010 e se reuniu com líderes dos programas de armamentos do país. “Alguns gostam de pintar Kim como um louco, e isso faz o público acreditar que o sujeito é impossível de ser detido. Ele não é louco e não é suicida. E também não é imprevisível.”

“A verdadeira ameaça”, disse Hecker, “é que vamos entrar aos trancos em uma guerra nuclear na península Coreana.”

No passado, as agências de inteligência americanas superestimaram a ameaça norte-coreana. No início dos anos 2000, o governo de George W. Bush avaliou que Pyongyang estava perto de desenvolver um míssil capaz de atingir o território americano —previsão que errou o cálculo em mais de uma década.

Mais recentemente, porém, analistas e formuladores de políticas foram tomados de surpresa quando a Coreia do Norte alcançou metas importantes meses ou anos antes do prazo, comentou Jeffrey Lewis, diretor do Programa de Não Proliferação do Leste da Ásia no Centro de Estudos de Não Proliferação.

Havia um ceticismo parecido sobre as capacidades da China no início dos anos 1960, disse Lewis, que estudou o caminho desse país até um teste nuclear bem sucedido em 1964.

“Não há motivo para se pensar que os norte-coreanos não estejam fazendo o mesmo progresso depois de tantas explosões nucleares bem sucedidas”, disse Lewis.

“A grande pergunta é por que vemos os norte-coreanos sob um critério tão diferente do que vimos a União Soviética de [Josef] Stálin ou a China de Mao Tse-tung? A Coreia do Norte está testando no subsolo, por isso sempre nos faltarão muitos detalhes. Mas me parece que muita gente insiste em níveis impossíveis de prova porque simplesmente não quer aceitar o que deveria ser bastante óbvio.”

Folha

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