Gilmar Mendes age como quem pode desafiar e desacatar o que quiser
Além do papel de orientador voluntário do denunciado Michel Temer, o ministro Gilmar Mendes presta-lhe outro serviço, de igual ou maior utilidade: suplantou-o na dupla condição de figura mais comentada e reprovada. Essa desonraria se deve, porém, muito menos à sua atividade de político e tutor ideológico do que à maneira como usa sua magistratura contra a Magistratura.
A tal ponto Gilmar Mendes está personificando a ideia de desmandos da Justiça que o repúdio o excede e causa danos ao Judiciário e em particular ao próprio Supremo Tribunal Federal.
Gilmar Mendes age, com indiferente segurança, como quem pode desafiar o que quiser e desacatar a quem quiser –e nada lhe acontece. Não que desfrute de cobertura legal ou moral para tanto. Conta, isso sim, com a falta de resposta para a pergunta que mais se ouve e se faz: não há ninguém nem o que fazer contra esse vale-tudo?
A partir de Gilmar Mendes, começa a ficar claro que, pior do que um ministro-magistrado sem limites, é não se encontrar entre os seus pares quem busque impor-lhe os limites éticos e funcionais a que, como princípios, está submetido.
Ainda mais estarrecedor é que o contraste de deslimite e omissão se passe em um conjunto de vidas dedicadas a dizer se condutas alheias incorreram em falhas ou não. E, se as cometeram, condenar os autores. Até à prisão.
Uma lembrança do Brasil que acaba, exangue. A ONU deu agora ao “Programa de Cisternas” o prêmio mundial “Future Policy”, também conhecido como “Oscar das melhores políticas” de combate à degradação da terra e suas consequências, sobretudo as humanas. Criado e aplicado por Tereza Campello quando ministra do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome no governo Dilma, o programa foi premiado “por proporcionar água para milhões de famílias que vivem no semiárido” do Nordeste.
Tereza Campello forneceu ou fez construir um milhão de cisternas. Sem sequer um escândalo, de qualquer tipo e por menor que fosse. A imprensa e a TV não souberam: estavam ocupadas em outra direção.
BRASILEIRINHAS
– Henrique Meirelles se propõe para presidente com a tese mais original : “Mensagem reformista deve ganhar a próxima eleição” (Folha, terça-feira, pág. A13). Para justificá-lo, o eleitorado iria votar pelo arrocho salarial, a aposentadoria mais miserável, o desemprego e outras graças do gosto de Meirelles.
– A Lava Jato voltou à violação imprópria da vida privada. Desta vez, divulgou uma conversa familiar entre Jacob Barata Filho e uma de suas filhas, ambos preocupados com o estado psicológico da outra filha. É só sadismo dos divulgadores.
– O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, a musa dos privatizadores, Elena Landau (o H ainda não foi privatizado), e congêneres disseram que “o preço da energia vai cair com a privatização” da Eletrobras. Nenhum preço de produto ou serviço privatizado caiu, jamais. Todos subiram tanto que nem são publicados os comparativos, para não prejudicar os interesses privatizadores.