Oposição questiona lista de sócios do Vasco com 180 mil nomes
A bola já está rolando em São Januário. A primeira reunião da junta eleitoral do Vasco, na última terça-feira, foi o pontapé inicial de um campeonato que terá vencedor em meados de novembro, quando serão realizadas as eleições no clube. A menos de três meses do pleito, como em um jogo de ataque contra defesa, os quatro candidatos já em campanha apontam para o mesmo alvo, o presidente Eurico Miranda.
Os chutes vêm de todos os lados. Até da Justiça. O advogado Renato Brito Neto, conselheiro da oposição ligado ao grupo do candidato Júlio Brant, frustrou-se com a determinação judicial de suspensão da perícia de um HD com a relação dos sócios apreendido recentemente junto a uma prestadora de serviços, conforme informou o colunista Ancelmo Gois.
A lista que peritos e um oficial de Justiça apreenderam, em São Januário, em fevereiro, contém aproximadamente 180 mil nomes de sócios, quando, na verdade, acredita-se que o clube tenha menos de 30 mil associados. Diante do disparate de números, a tática da oposição, de depurar o sistema de computador, foi abafada por uma liminar. Gol da situação. Mas a Justiça ainda é o atalho encontrado pelos opositores para reverter o jogo.
O candidato Alexandre Campello foi um dos requerentes da ação que suspendeu na semana passada uma reunião do conselho deliberativo e anulou os efeitos de outras duas. Conseguiu-se, assim, impedir por ora a distribuição de títulos honoríficos concedidos sem critério, na avaliação da oposição.
– É estranho que durante os três anos de mandato o Eurico não tenha feito nenhuma movimentação como essa e, agora, a três meses da eleição, de forma atropelada e sem respeitar os ritos, ele tenta agraciar pessoas com apenas três meses de vida associativa – questiona Campello.
Presidente do conselho fiscal e candidato declarado, Otto Carvalho também busca na Justiça uma forma de esmiuçar a lista de sócios contra possíveis fraudes.
– Em junho, protocolei um pedido no clube, mas não me responderam. Então, o conselho fiscal entrou com uma ação na Justiça solicitando, por categoria, o valor pago pelos sócios – diz Otto, disposto a fazer o cruzamento das informações com os dados do financeiro do clube.
Não bastassem os adversários emergentes, a bola contra Eurico está agora também com quem mudou de time, caso de Fernando Horta, que no último dia 18 desligou-se da vice-presidência do clube para disputar o pleito. Sua tática, assim como a dos adversários, é driblar qualquer possibilidade de fraude na lista de sócios.
– Estamos atentos às manobras do Eurico para tentar manipular a lista de sócios. Se for voto por voto, nós o venceremos nas eleições de novembro. Já tenho pesquisa que me coloca em primeiro lugar – afirma Horta, que no vídeo oficial de sua campanha chama Eurico de “centralizador e ditador”.
Já Júlio Brant tem o respaldo de gente que cresceu no Vasco, como os ídolos Edmundo, Felipe e Pedrinho, seus principais cabos eleitorais. Em 2014, quando 5.592 sócios votaram, o empresário ficou em segundo lugar. Eurico venceu com 2.733 votos, Júlio faturou 1.570, e Roberto Monteiro foi o segundo, com 1.155. Ou seja: a soma de votos dos dois candidatos de oposição não bateria Eurico. Porém, Júlio não somente discorda do cálculo como vê a possibilidade de se unir a Alexandre Campello e Otto Carvalho. Uma chapa imbatível, na sua opinião.
– A união é maior do que o valor da soma das chapas. Nesse caso, dois mais dois daria seis, pois a mobilização seria maior. Se a gente unir as chapas, será muito difícil perder. Os grupos de oposição amadureceram muito – diz Júlio Brant, que não cogita se aliar a Horta: – Não o vejo como oposição, mas como uma dissidência da situação. Ele rompeu, mas não denunciou as coisas que viu lá dentro – encerra.
Procurado pela reportagem, Eurico Miranda não quis comentar o assunto.
– Ele só falará no lançamento da candidatura – informou sua assessoria.
O estatuto do Vasco determina que a eleição seja realizada na primeira quinzena de novembro. A definição da data está nas mãos da junta eleitoral, que reúne os presidentes da diretoria administrativa (Eurico Miranda), conselho fiscal (Otto Carvalho), conselho deliberativo (Luís Manuel Fernandes), conselho de beneméritos (Nélson de Souza) e assembleia geral (Itamar Carvalho). Após análise e aprovação da lista de sócios, a junta baterá o martelo em relação à data da eleição.