Há mudanças táticas de tamanho impacto que, boas intenções à parte, fazem o time tornar-se vítima de uma espécie de estresse pós-traumático: de tanto se alterar, chega ao ponto de ser incapaz de reagir ou tomar novas decisões. Foi algo do gênero o que aconteceu ao Vasco, na tarde deste domingo, na derrota por 3 a 0 contra o Bahia.
Milton Mendes introduziu um esquema com três zagueiros na Fonte Nova, dando liberdade para que outros três homens — Wagner, Paulinho e Luis Fabiano — passassem boa parte do tempo no ataque. Com apenas quatro jogadores no meio-campo, sendo dois alas que também tinham obrigações ofensivas, a chave do sucesso era a pressão intensa na marcação. Como faz o Chelsea, time que serviu de inspiração ao técnico do Vasco.
Ao contrário do time inglês, que costuma se postar em seu próprio campo, o Vasco apostava em ter posse de bola e fazer pressão na frente. A primeira grande chance surgiu assim: Wagner roubou na frente e tocou para Mateus Vital servir Paulinho, que chutou mal.
No Chelsea de Antonio Conte, os alas são peça fundamental, já que participam de todas as etapas do jogo. No Vasco de Milton Mendes, Gilberto e Ramon foram os elos fracos da corrente. Aos 22 do primeiro tempo, pouco depois do gol perdido por Paulinho, Gilberto demorou no retorno para recompor a linha defensa e permitiu um ataque por seu lado. No escanteio gerado a partir daí, Tiago superou um Anderson Martins que mostrava clara falta de ritmo em sua reestreia: Bahia 1 a 0.
Nos acréscimos, foi a vez de Ramon marcar bobeira: após uma falta cobrada pelo Vasco gerar contra-ataque para o Bahia, o lateral-esquerdo, que estava como último homem, deixou Mendoza passar como quis. O rápido colombiano ainda driblou Martín Silva antes de concluir para o gol.
O intervalo não foi tempo suficiente para Ramon despertar: no primeiro minuto do segundo tempo, ele mais uma vez deixou Mendoza correr livre, desta vez para aproveitar um rebote dado por Martín Silva e ampliar para 3 a 0. Naquela altura, Milton Mendes já tinha mexido novamente na formação do time, colocando Bruno Paulista para fazer uma dupla de volantes com Jean e lançando Nenê na articulação, no lugar de Paulinho. A ideia era fazer o time atuar no 4-2-3-1, esquema usado no início do ano. Mas o terceiro gol logo no início do segundo tempo foi uma ducha de água fria.
Com tamanha desvantagem, qualquer plano de reorganização tática soava como perfumaria. O Vasco só acreditava no esforço individual, quase sempre com pitadas de desespero, na tentativa de se reencontrar no jogo. Nenê tentava chutar de longe. Bruno Paulista exagerava na força em divididas. Wagner, que chegou a acertar a trave no fim do primeiro tempo, desapareceu. Em vez de sintonizado após a readoção do velho esquema, o traumatizado time vascaíno se mostrava em total dispersão.
Enquanto isso, o Bahia aproveitava a falta de coordenação dos cariocas para ser mais perigoso. Em mais um contra-ataque, aos 25, Mendoza deixou Rodrigão na cara do gol, mas o centroavante desperdiçou. A torcida baiana, empolgada, passou a gritar olé. Motivos para comemorar não faltavam: com a vitória, o Bahia se afastou do rebaixamento e deixou o Vasco a incômodos três pontos da zona.
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