O sol parece brilhar mais forte na Fazenda Macaxeira, na cidade de Zabelê, antigo distrito de Monteiro, no Cariri paraibano. Um pouco mais adiante, na cidade de Congo, os barreiros secos, o solo duro e o clima quente, revelam aspectos típicos do semiárido paraibano. A paisagem muda com a chegada das chuvas, e faz florescer as esperanças e sorrisos dos agricultores.
Os elementos que compõe esse cenário inspiraram romancistas do chamado “ciclo” da cana de açúcar, a exemplo do paraibano de Pilar José Lins do Rego, e o escritor de Areia, no Brejo do Estado, Pedro Américo, que ao lado de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz e Jorge Amado, figura como maiores romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional. Hoje, outras culturas impulsionam a economia da região. Os velhos engenhos de cana de açúcar ainda registem ao tempo, mas não tem mais a mesma relevância do passado.
O cenário que povoou a imaginação romancista de Pilar autor de “Menino de Engenho” e do renomado escritor de Pilar autor do clássico “A Bagaceira”, foi o mesmo que deu forma e vida aos personagens do escritor paraibano Efigênio Moura. Contemporâneo da literatura regionalista, Efigênio tem transposto para a sua obra, elementos insubstituíveis da cultura nordestina. A linguagem utilizada pelo povo simples da região, os costumes e tradições, os “contos e causos” que resistem a modernidade, podem ser notados na obra do escritor.
Natural de Monteiro, Cariri Ocidental da Paraíba, Efigênio Teixeira de Moura se aproveitou de sua terra para extrair de lá a riqueza do lugar e o modo de viver e principalmente de falar e colocou lá dentro suas estórias e personagens que bem que podiam ser qualquer um de nós. Em sua trajetória de escritor, já escreveu cinco livros batizados de “Eita Gota!, Uma viagem paraibana”, “Ciço de Luzia”, “Santana do Congo”, “Caderneta de Fiado”. “Apurado de Contos”.
A primeira obra do autor reúne elementos típicos do interior nordestino. Lançado pela Editora da Universidade Estadual da Paraíba (Eduepb), através do selo Latus, “Eita Gota! uma viagem paraibana superou as expectativas e chegou a 3ª edição. O livro que começa em João Pessoa e termina em Monteiro, tem o prefácio é do escritor Bráulio Tavares conta a estória de Das Neves, monteirense da Rua dos Pereiros que leva seu neto para pagar uma promessa na Basílica de Nossa Senhora das Neves.
A subida da ladeira da Borborema parece ser a única complicação em que Das Neves e seu neto se envolvem, mas é na volta, dentro de uma Veraneio 73, irregular como o motorista Seu Agripino, que as coisas tendem a piorar. Cortando parte do Agreste e do Cariri paraibano, Eita Gota! mostra de forma resumida a origem de 13 cidades por onde passa a Veraneio de Seu Agripino, misturando personagens reais e fictícios em cenas de humor e forte emoção.
Ainda redescobrindo sua terra natal, o autor resolveu voltar a sua infância e revisita a Fazenda Macaxeira, e lá, ele viu a mais bela estória de amor que o Cariri poderia mostrar e onde foi criado Ciço de Luzia. Um romance que atingiu níveis de leituras considerados excelentes, tendo o livro alcançado o vestibular de 2013 da UEPB.
Ciço de Luzia conta a estória da paixão de Ciço Romão por Luzia. Ciço é trabalhador da Fazenda Macaxeira e nutre um amor possível pela filha do patrão. A ficção se dá nos anos 70 e se ambienta no Cariri paraibano, especificamente em Monteiro, Zabelê e Camalau, os diálogos são quase todos no ‘matutês’, reproduzindo uma característica de alguns nativos do Cariri e Sertão paraibano.
O livro foi escrito como na contramão da escrita formal. Para escrever a obra, e dá forma aos personagens, o autor passou uma temporada no Cariri, bebendo da fonte inesgotável da região.
O romance atingiu níveis de leituras considerados excelentes, tendo oadotado pela Convest para o vestibular de 2013 da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Sete anos depois de lançado em mais de 60 salas de aulas do país, de estados como Pernambuco, Alagoas, Ceará, Rio Grande do Norte e Distrito Federal, a obra continua despertando novos leitores.
Amplamente debatido por professores e alunos, por projetos de extensão, teses de mestrados e especializações, o livro chama a atenção didática pela condição da variedade linguística.
Efigênio consegue manter o falar local como destaque em sua escrita, vai então se formando um estilo próprio, incomum aos novos escritores. Ciço de Luzia foi tema de debates em universidades, motivos de discussões e estudos em salas de aulas, peças teatrais, músicas e sobretudo, uma leitura aprazível e diferenciada das que acontecem normalmente, pelo motivo de considerar o falar do interior nordestino como destaque, pelo resgatar da língua dos antigos.
As cidades de Prata Congo, também serviram de fonte de inspiração para Efigénio escrever o seu terceiro livro, que narra a saga de Késsy Jones na incansável busca por seu pai. A obra “Santana do Congo” (Edições Alumiar, 220), uma comédia romanceada que utiliza o linguajar próprio do interior da Paraíba. Santana do Congo apresenta elementos ricos da cultura nordestina, e traz alguns traços das obras anteriores do autor.
Em uma busca com vários encontros e desencontros, o artista da estória vê na Festa de Santana, padroeira da cidade do Congo e a chegada de um circo no lugar, a chance de preencher o vazio que havia na sua vida. A narrativa envolvente resgata o cotidiano que compõe a própria identidade do nordestino. Além da cidade do Congo, a estória também passa por Ouro Velho e Prata.
“Brincando com as palavras”, Efigênio revelou ao PB Agora, que “Um autor nunca se completa, nunca se satisfaz. Neto do poeta alagoano Efigênio de Moura, o escritor monteirense se intrigava com o poema Zéfa (do avô) e tentava entender a razão da ode, o motivo daquela mulher rejeitar um amor bem ofertado. Inventou para si, baseado no poema do avô uma estória para aquela estória, foi onde nasceu Caderneta de Fiado.
O Livro segundo o autor, é o mai poético de todos e como os outros, um livro que homenageia. Com inicio em fim na cidade de Pindoba-Alagoas, terra do seu pai e tendo todo seu miolo em Taperoá, Cariri paraibano, o livro homenageia além de seu avô e pai, cantantes de seu gostar, a exemplo de Maciel Melo (Iguaraci-PE) e Nanado Alves (Monteiro-PB).
Caderneta de Fiado conta estórias de amores não entregues, dívidas não pagas e promessas nunca com intenção de serem cumpridas. A Vida de quem sempre espera e de quem nunca desiste de tentar. Zéfa é protagonista e representa a mulher alagoana e paraibana, juntas em uma só, numa mistura de fibra e raça, mostrando com dignidade a força da mulher nordestina em vencer desafios que chegam toda vez que amanhece o dia.
Caderneta de Fiado tem seu maio tempo dentro de Taperoá, cidade da infância do autor, onde ele deus seus primeiros passos na vida escolar. O autor estudou no Instituto Rita Suassuna, uma homenagem a mãe do escritor Ariano Suassuna, onde primeiro foi feito o lançamento do livro. O livro foi lançado pela Eduepb.
Mantendo a forma de escrever, a variedade linguística continua forte no autor e a exemplo dos outros, também esteve e estar em salas de aulas, como seu quinto livro, o Apurado de Contos.
Efigênio faz questão de reconhecer a colaboração de artistas que ajudaram a materializar a sua obra. Na terceira edição de Eita Gota, a ilustração é de Galdino Otten; em Ciço de Luzia, ilustração de Shico; Santana do Congo, de Júlio Cesar Gomes; Caderneta de Fiado, de Felipe Sérvulo , Apurado de Contos de Fred Ozanan. Júlio Cesar volta como ilustrador de capa em Pedro Jeremias, é de Júlio Cesar também as únicas ilustrações internas dos livros de Efigênio (contidas em Caderneta de Fiado.) As capas de Eita Gota, primeira e segunda edições foram feitas por Victor Quirino sob uma foto de Paula Adriana.
Efigênio Moura é um dos poucos romancistas paraibanos, que percorre escolas para proferir palestras sobre a sua obra e estimular a prática da leitora, além de despertar futuros escritores.
O autor já proferiu perto de 250 palestras em escolas públicas e privadas da Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Sempre com a temática da ‘ linguagem caririzeira’, o autor esteve presentes em várias universidades e institutos federais falando sobre os seus livros, sobre variedade linguística contida neles.
Recentemente o autor esteve em West Melbourne, na Flórida (USA) onde foi convidado para participar da primeira Mostra de Cultura Nordestina, evento voltado para os brasileiros que moram no condado de Brevard.
Efigênio Moura está realizando palestra pelo Brasil com temas voltados para sua forma de escrever e sobre a região geográfica contida em seus livros. Com o título “Qual foi a última vez que você aprendeu algo velho” o autor revive na palestra as palavras que os antigos utilizavam e que cabem perfeitamente no cotidiano de qualquer um de nós.