José Bonifácio de Andrada e o Brasil que ainda caminha no século 19
Se o grande brasileiro José Bonifácio de Andrada, nosso Patriarca da Independência, tivesse a oportunidade de visitar o Brasil hoje ficaria horrorizado ao constatar que ainda carregamos as mesmas práticas dos anos 1800. José Bonifácio, em alguns momentos pré e pós Independência do Brasil, foi o Ministro mais poderoso de D. Pedro I, mas foi do céu ao inferno rapidamente. Com o poder que lhe foi garantido e confiado, J. Bonifácio agiu em prol do desenvolvimento do Império brasileiro pois afirmava que se o Brasil explorasse com responsabilidade todas as suas potencialidades, seria uma das nações mais poderosas do mundo, senão a mais.
Com o propósito de modernizar e desenvolver o Brasil, José Bonifácio não conseguiu ir muito longe devido (a sabe quem?) a nossa velha elite política do século 19 que em nada difere da atual, mesmo passados mais de 170 anos. Praticamente dois séculos se passaram e o nosso país ainda carrega por onde passa o cadáver insepulto do atraso político-institucional. Se os políticos do Primeiro Reinado tivessem executado pelo menos 40% dos projetos do Patriarca, este país estaria em outro patamar. Bonifácio trabalhou para que TODAS as cidades tivessem escolas primárias e ginásios, que TODAS as Províncias fundassem Universidades Públicas com as graduações em Direito, Economia, Filosofia, Medicina, etc, que a escravidão fosse abolida (vejam bem, isso por volta de 1820-1830 e a abolição só ocorreu em 1888) e juntamente a ela que os ex-escravos fossem educados e profissionalizados para poderem, enfim, alcançar sua completa emancipação, e não ficarem a mercê de sua própria sorte, como ocorreu após o ato da Princesa Isabel. Bonifácio dizia que se os escravos fossem libertados e não houvesse a devida inclusão o país fracassaria como nação. Além disso, seus projetos previam a integração dos povos indígenas.
Visão e pensamento mais atuais impossível. Defendia ainda que desenvolvêssemos uma agricultura de ponta, que fossem lançadas as bases da modernização do Estado, já em curso na Europa e na América do Norte. Mas não foi ouvido. Muito pelo contrário, foi perseguido. A nossa elite política mais uma vez sabotou os grandes projetos que colocariam o Brasil muitos anos à frente em relação ao restante do mundo. Bonifácio combateu a burocracia excessiva, o tamanho da máquina estatal, a malversação dos recursos, a Mesquinhez Política, a briga do poder pelo poder, a ignorância dos agentes públicos e políticos. Foi um homem à frente de seu tempo. Se tivesse nascido em qualquer país europeu ou até mesmo nos Estados Unidos, haveria monumentos erguidos à sua memória em cada esquina.
Ele foi estadista, político, escritor, diplomata, cientista, iluminista, mineralogista, botânico, e estava à altura dos maiores pensadores que existiam no mundo em sua época. Mas pouco se conhece e se ensina sobre este grande brasileiro e, dessa forma, crescemos sem conhecer a História do nosso país e dos virtuosos personagens que procuraram fazer o melhor que podiam pela nossa Pátria. Infelizmente, o Brasil ainda insiste em viver no passado atrasando o presente e enterrando a perspectiva de um futuro melhor para o nosso povo. Aqui é assim: carrega-se nos braços o cadáver insepulto do atraso e enterra-se a prosperidade e a esperança de todo o País.
OPIPOCO com Paulo Neto