Marinha da Argentina encerra busca por sobreviventes de submarino
Após 15 dias sem notícias do submarino ARA San Juan, a Marinha argentina anunciou nesta quinta-feira (30) que deu por finalizada a etapa de resgate de “pessoas”. A embarcação levava 44 tripulantes quando desapareceu.
“Não haverá salvamento de pessoas”, afirmou o porta-voz da Marinha, Enrique Balbi.
Balbi afirmou, no entanto, que as operações de buscas pelo submarino continuam no fundo do mar.
Enquanto Balbi lia o comunicado na sede da Marinha em Buenos Aires, familiares dos tripulantes se retiravam da Base Naval de Mar del Plata entre lágrimas e em silêncio.
Socorrista e perito naval ouvido pela Folha na quarta-feira (29) havia dito que encontrar os tripulantes com vida era uma questão de “milagre” e não uma situação razoável.
“O Ministério da Defesa e a Marinha da Argentina informam que hoje, quinta-feira, se declara finalizada o casa SAR, mudando a fase de busca”, disse Balbi, esclarecendo que o plano SAR tinha como missão o “salvamento de pessoas, com o fim de preservar a vida humana”.
“Não se encontrou evidência alguma do naufrágio nas áreas exploradas, nem contato com o submarino nem com suas balsas”, afirmou.
Balbi explicou que “foi estendido a mais do que o dobro a quantidade de dias que determinavam as possibilidade de resgate da tripulação”.
Apenas dias atrás, Balbi havia dito que os tripulantes podiam estar em uma situação de “sobrevivência extrema”, sem explicar como isso seria possível.
O submarino desapareceu no dia 15 de novembro quando fazia patrulhamento entre Ushuaia e Mar del Plata.
Nesta segunda-feira, um canal de TV argentino vazou o conteúdo da última comunicação do comandante do submarino antes de sumir.
A mensagem, assinada pelo comandante do navio, Claudio Javier Villamilde, foi enviada na manhã de 15 de novembro ao Comando da Força de Submarinos, que a reenviou ao Comando de Isolamento e Adestramento por radiofrequência.
“Entrada de água do mar pelo sistema de ventilação ao tanque de baterias número 3 ocasionou curto-circuito e princípio de incêndio no balcão de baterias. Baterias de proa fora de serviço no momento de imersão propulsando com circuito dividido. Sem novidades de pessoal. Manterei informado”, dizia a mensagem revelada pelo canal A24.
Já na quinta-feira passada (23), a Marinha argentina havia revelado que uma “anomalia hidroacústica havia sido detectada em um ponto próximo da última localização do submarino. Segundo Balbi, ocorreu um “evento anômalo, singular, curto, violento e não nuclear, consistente com uma explosão”.
TENSÃO ENTRE FAMILIARES
A questão da sobrevivência ou não dos tripulantes vinha causando enorme tensão entre os familiares dos tripulantes.
Uma delas, Itatí Leguizamón, quase foi agredida pelos outros, na base em Mar del Plata, porque vinha dizendo que os submarinistas estavam mortos. Os demais, fiando-se nas informações dadas pela Marinha, preferiam manter as esperanças.
Marta Vellejos, irmã de um dos submarinistas, chegou a começar no domingo um jejum em “homenagem a Deus” e que duraria até que fossem encontrados.
Nesta semana, oito famílias decidiram se unir em processo contra a Marinha por causa do desaparecimento do submarino.
“Ocultaram coisas de nós e mentiram para nós”, disse Luis Tagliapietra, pai de Alejandro Tagliapietra, um dos tripulantes. “Entendi que se não houver uma intervenção ativa, dificilmente saberemos a verdade.”
O processo está a cargo da juíza federal Marta Yánez, de Caleta Olivia. Ela pediu um depoimento por escrito do ministro da Defesa, Oscar Aguad, como testemunha, e que seja levantado o segredo de Estado que pesa sobre as informações que cercam o caso.
Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress | ||