Evento no Uruguai aborda uso da maconha medicinal e efeitos paliativos
Nesta sexta-feira (12) e neste sábado (13) ocorre, em Punta del Este, a Conferência da Cannabis, que reunirá especialistas uruguaios e estrangeiros para debater o uso de produtos feitos a partir da marijuana para a medicina.
Uma das expositoras é Raquel Peryaube, presidente da Sociedade Uruguai de Endocanabinologia e consultora do governo sobre o tema.
“Há muita informação sobre o assunto nas redes, mas pouco dela é realmente especializada. Um evento assim serve para mostrar que a marijuana não é uma planta sagrada que cura tudo, mas que, sim, é muito generosa, no sentido de haver muitas evidências de que pode ajudar no tratamento de várias doenças”, disse ela à Folha.
Entre os exemplos de informação distorcida ela cita a ideia de que a planta pode curar o câncer. “Mas é correto dizer que [maconha] possui uma ação antitumoral. Ou seja, pode fazer com que células cancerígenas não se alimentem e, literalmente, cometam suicídio, diminuindo a chance de metástase.”
Isso, porém, ela insiste, “não oferece a cura, mas é algo a ser melhor estudado”.
Peryaube é a favor da Lei da Maconha, mas crê que sua aplicação ainda não abriu as portas para se estudar mais profundamente os efeitos da droga. “A legislação não garante que caiam os obstáculos do mundo acadêmico e científico para a pesquisas.”
Com isso, diz, “surgiu um batalhão de traficantes de esperança, que dizem que a droga pode curar tudo. E não é certo, não funciona para todas as doenças e não funciona para todas as pessoas.”
Peyraube alerta para a necessidade de acompanhamento médico em todos os casos. “Em alguns pacientes, por exemplo, com vulnerabilidade cardíaca ou de outro tipo, pode não ser aconselhável usar medicamentos fabricados a partir de maconha.”
COMPROVAÇÃO
Entre as enfermidades já com estudos avançados da ação positiva de remédios com canabinoides estão a dor crônica (“pode ser mais eficiente que muitos anti-inflamatórios”), náuseas e outros efeitos colaterais da quimioterapia, e esclerose múltipla.
“Existem efeitos colaterais, mas são classificados como moderados ou leves e, se causam dependência, geralmente é bem menos grave do que a doença que tratam. Não vejo por que não prescrever nesses casos, sobretudo quando diz respeito a melhorar a qualidade de vida de pacientes terminais ou em tratamentos longos de doenças crônicas.”
O cultivo de cânabis de uso farmacêutico já começou e deve ter a primeira colheita em breve. São plantações distintas das que atendem usuários em farmácias.