Grupo armado invade festa e mata 14 pessoas no Ceará; um suspeito é detido
Um ataque a tiros deixou pelo menos 14 pessoas mortas e 16 feridas na madrugada deste sábado (27) no bairro Cajazeiras, na periferia de Fortaleza, no Ceará. Elas participavam de uma festa conhecida como “Forró do Gago”, realizada em local próximo à Arena Castelão, e foram atingidas por tiros disparados por homens que invadiram o local.
Uma pessoa foi presa, suspeita de ter participado da chacina, e um fuzil foi apreendido.
Trata-se da maior chacina já registrada no Estado. Em 2015, 11 pessoas, em sua maioria adolescentes, foram assassinadas em episódio que ficou conhecido como “Chacina da Messejana”, que era até a madrugada deste sábado (27) a maior da história da região. Mais de 40 policiais foram investigados por suspeita de envolvimento nos homicídios, e 33 deles aguardam os julgamentos em liberdade.
Entre os 14 mortos confirmados pela Secretaria de Segurança Pública do Ceará, oito eram mulheres (duas delas menores de idade) e seis eram homens.
O ataque teria relação com uma guerra entre facções criminosas no Estado, que disputam espaços de tráfico de droga. Os atiradores seriam membros da facção Guardiões do Estado, e os alvos seriam do Comando Vermelho.
Os criminosos teriam chegado em três carros, fortemente armados, e teriam entrado atirando no clube onde era realizado o baile.
O governador Camilo Santana (PT) chamou o crime de “ato selvagem e inaceitável” nas redes sociais e disse ter determinado rigor absoluto nas investigações. “Não aceitaremos de forma alguma que esse tipo barbárie fique impune. Confio na nossa polícia e tenho absoluta convicção de que uma resposta será dada muito em breve”, disse.
Ao longo do seu mandato, Santana tem atribuído os altos índices de violência na região aos conflitos entre as facções.
Indagado sobre a incapacidade do Estado em conter as ações das facções criminosas, o secretário de Segurança Pública, André Costa, informou que não há uma situação de descontrole e classificou o evento desta madrugada como “isolado”.
“É uma situação criminosa que foi organizada e planejada. Situações como esta acontecem no mundo todo. E que, desta vez, a inteligência não conseguiu evitar”.
Seis feridos a tiros –sendo um homem, quatro adolescentes (um garoto de 12 anos, outro de 16, e duas meninas de 16) e uma mulher– foram encaminhados para o Instituo Doutor José Frota, maior centro médico de urgência da Prefeitura de Fortaleza. Todos os feridos encontram-se em estado estável, sem risco iminente de morte, e seguem em atendimento.
Outros dez feridos com menor gravidade passaram pelo hospital Edmilson Barros de Oliveira, mais conhecido como Frotinha de Messejana. Oito deles já tiveram alta.
VIOLÊNCIA
O Ceará é um dos Estados que apresentam piores índices de violência no Brasil.
No relatório Atlas da Violência 2017, divulgado em junho do ano passado, o Ceará aparece com a terceira mais alta taxa de homicídios, com 46,75 por 100 mil habitantes. Apenas Sergipe (58,09) e Alagoas (52,33) contam com índices piores. O melhor índice é o de São Paulo, com 12,22.
Entre as capitais, Fortaleza conta com a segunda maior taxa de homicídios, com 66,72, perdendo somente para São Luis (MA), com 70,58.
Elaborado pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao governo federal, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG especializada no assunto, o estudo analisou dados do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde, que traz informações sobre incidentes até o ano de 2015.
Em 2015, houve, no Brasil, 59.080 homicídios, o que equivale a uma taxa de 28,9 por 100 mil habitantes.
Divulgado em outubro de 2017, o IHA (Índice de Homicídios na Adolescência), métrica elaborada pelo Unicef, o Observatório de Favelas e a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, do governo federal, aponta o Ceará como o Estado em que mais adolescentes são assassinados (8,71 a cada 100 mil), ao passo que Fortaleza lidera o ranking entre as capitais, com 10,74. São Paulo tem o terceiro índice mais baixo do país, de 1,6, acima apenas de Roraima (1,4) e Santa Catarina (0,9). Na capital paulista, o IHA é 2,2.
A medição é feita com dados de 2014, os últimos disponíveis, e considera apenas as 300 cidades do país com mais de 100 mil habitantes.
FOLHA