Atirador mata cinco funcionários e fere dois em redação de jornal nos EUA
Um homem invadiu a Redação do jornal Capital Gazette, em Annapolis (a 50 km de Washington), e matou quatro jornalistas e uma assistente comercial a tiros na tarde desta quinta-feira (28). Outras duas pessoas sofreram ferimentos sem gravidade.
A ação, cuja motivação não estava clara até a publicação deste texto, durou menos de dois minutos e foi interrompida pela polícia, que prendeu o suspeito, descrito como um homem branco de cabelos pretos, próximo dos 40 anos, que vive no estado de Maryland.
Poucas horas após o ataque, repórteres do veículo, um diário com tiragem de 30 mil exemplares publicado desde 1884 que cobre notícias locais, estavam a postos com blocos e canetas na mão na entrevista à imprensa sobre a chacina.
“Ainda não digeri. Só sei que quero fazer o meu trabalho”, disse à Folha o repórter Chase Cook, que estava de folga e correu para o prédio tão logo recebeu a notícia. “Só posso dizer uma coisa: vamos publicar a edição de amanhã [sexta].”
Seu nome seria divulgado oficialmente apenas na manhã desta sexta (30), mas repórteres da Gazette informaram que se tratava de Jarrod Ramos, 38, que tinha uma contenda com o jornal desde 2011.
Naquele ano, o veículo, que pertence ao tradicional Baltimore Sun, publicou uma notícia sobre um processo de assédio contra Ramos. Ele entrou com uma ação na Justiça contra o jornal, mas perdeu em primeira e segunda instâncias.
“Ele tinha algum rancor contra o jornal”, afirmou o tenente Ryan Frashure, que disse que o atirador percorreu a Redação como se procurasse por alguém. Os policiais também encontraram no local um suposto dispositivo explosivo.
Ameaças foram feitas à Gazette na véspera por meio de redes sociais, mas não se sabia ainda se vieram de Ramos.
As vítimas foram identificadas como os editores Wendi Winters, 65, Rob Hiassen, 59, Gerald Fischman, 61, o repórter esportivo John McNamara, 56, e a assistente de vendas Rebecca Smith, 34.
O atirador se rendeu tão logo a polícia chegou, e não houve confronto. Uma testemunha, o repórter Phil Davis, disse não saber por que o homem parou de disparar repentinamente.
“Não há nada mais aterrador do que ouvir várias pessoas serem baleadas enquanto você está sob sua mesa e, então, ouvir o atirador recarregar”, disse ele em sua conta em uma rede social, alimentada imediatamente após o atentado.
Segundo Davis, o homem atirou na porta de vidro da Redação de 25 funcionários, localizada em um prédio comercial em uma área periférica de Annapolis, entrou e disparou.
O prefeito de Annapolis, o democrata Gavin Buckley, disse ter falado com o editor-chefe do jornal, Rick Hutzell, que não estava no local no momento: “Ele está arrasado, esses jornalistas eram como filhos”.
Annapolis é uma cidade histórica costeira, capital do estado de Maryland e sede da Escola Naval americana. Tem pouco menos de 40 mil habitantes. À noite, ouvia-se apenas os helicópteros sobrevoando o prédio, isolado pela polícia. Dezenas de jornalistas esperavam do lado de fora, em silêncio.
“O que há de incomum em paz, amor e entendimento?”, disse o repórter da Gazette Pat Furguson, que também estava em casa na hora do atentado. “Recebemos ameaças o tempo todo”, afirmou, sobre o suposto motivo do ataque. “Esse é o novo normal na América. É assustador”, declarou o prefeito.
Até a publicação deste texto, a polícia não confirmara se tratar de crime contra a imprensa e a liberdade de expressão —como ocorreu em Paris em janeiro de 2015, quando terroristas invadiram a Redação do semanário satírico Charlie Hebdo e mataram 12 pessoas.
Na tarde de quinta, as sedes do Baltimore Sun, do New York Times, do Los Angeles Times e de redes de TV receberam proteção policial por precaução.
O presidente Donald Trump, que frequentemente critica a mídia, evitou responder a repórteres sobre o ataque. Mais tarde, disse que rezava pelas vítimas, ao que os jornalistas da Gazette reagiram exigindo novas leis de controle de armas.