Envolvido em caso Odebrecht, ex-presidente do Peru pede asilo ao Uruguai
O ex-presidente do Peru Alan García pediu asilo na embaixada do Uruguai em Lima na noite de sábado (17), após ter sido proibido de sair do país por 18 meses devido a uma investigação por supostos subornos pagos pela construtora brasileira Odebrecht, informou neste domingo a chancelaria peruana.
“O Ministério das Relações Exteriores torna de conhecimento da opinião pública que o Embaixador da República Oriental do Uruguai comunicou esta manhã que o ex-presidente do Peru Alan García Pérez entrou na noite de ontem em sua residência”, indicou a chancelaria em um comunicado.
A nota indica que García “solicitou asilo a esse país, conforme o disposto pela Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, da qual o Peru e o Uruguai fazem parte”.
“Como defensor das liberdades democráticas, me dirijo ao senhor para solicitar a proteção do Uruguai, até que cesse o clima de perseguição política existente em meu país”, indica a carta que García enviou ao presidente uruguaio, Tabaré Vásquez.
O presidente peruano Martín Vizcarra conversou no domingo por telefone com Vásquez sobre o caso de García, indicou o vice-chanceler Hugo de Zela.
“Durante a conversa, Vizcarra disse ao colega que no Peru não há perseguição política”, declarou De Zela.
O vice-chanceler peruano acrescentou que Vizcarra se comprometeu a enviar a Vázquez “informações sobre o processo judicial” que García enfrenta no Peru, e não um “argumento” contra o pedido de asilo.
Em Montevidéu, a presidência uruguaia emitiu um comunicado no qual indica que o embaixador Carlos Barros informou da solicitação de asilo ao presidente Tabaré Vázquez.
“García se encontra na sede da embaixada do Uruguai no Peru. O ex-presidente peruano iniciará o trâmite seguindo os passos dispostos na norma internacional”, confirmou o governo uruguaio.
O chanceler do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, declarou ao jornal El Comercio que não há prazo para dar uma resposta ao pedido do ex-presidente. Já ao El País, publicação uruguaia, ele indicou que a tendência é aceitar o pedido de asilo, mas logo depois emitiu um comunicado oficial em que disse apenas que vai analisar o caso.
Dois grupos de manifestantes, a favor e contrário ao asilo, foram à residência do embaixador. Os filhos de García também foram ao local para visitá-lo.
O congressista Mauricio Mulder, do mesmo partido de García, disse que recomendou ao ex-presidente que pedisse asilo, porque tinha certeza que ele seria preso após a ordem que o proibiu de deixar o país.
As autoridades uruguaias devem agora avaliar se o caso de García se enquadra no que prevê a Convenção Interamericana de 1954 sobre o direito de asilo.
No sábado a Justiça proibiu García de sair do Peru durante 18 meses, depois de que a procuradoria ampliou a investigação por supostos subornos pagos pela Odebrecht para vencer uma licitação para a construção da linha 1 do metrô de Lima, durante o segundo mandato de García (2006-2011) —ele já tinha comandado o país de 1985 a 1990.
O Peru é um dos países mais afetados pelo escândalo de corrupção daOdebrecht, que admitiu ter pago 29 milhões de dólares em subornos ao longo de três governos peruanos, incluindo o segundo de García.
Devido ao caso Odebrecht também estão sendo investigados os ex-presidentes Alejandro Toledo (2001-2006), que fugiu para os Estados Unidos e agora enfrenta um pedido de extradição; Ollanta Humala(2011-2016), que esteve preso nove meses com sua esposa Nadine; e Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que renunciou em março após denúncias de corrupção.
O principal nome da oposição, Keiko Fujimori (filha do ex-presidente Alberto Fujimori) também foi detida por suspeitas de corrupção.