Exército determina prisão de militares envolvidos em assassinato de músico no Rio
A investigação do Exército identificou inconsistências entre a história inicialmente contada pela equipe e informações que chegaram posteriormente ao Comando. Os militares foram afastados e encaminhados à Delegacia de Polícia Judiciária Militar para tomada de depoimentos. Uma testemunha civil também foi ouvida.
Em nota, o Exército afirmou seu compromisso com a transparência e condenou excessos ou abusos da corporação.
Os militares envolvidos no assassinato disseram que haviam sido alvos de tiros dos ocupantes do veículo alvejado. Amigos das vítimas negam a versão e afirmam que o veículo levava uma família, inclusive uma criança de sete anos. O sogro de Evaldo e um pedestre que passava no local e tentou ajudar ficaram feridos.
Vídeos publicados nas redes sociais mostram moradores da região criticando os militares logo após os disparos. Eles dizem que o carro da família foi confundido com o de bandidos.
“Quando eles [militares] começaram a atirar, minha tia pegou meu primo no colo e mostrou que era carro de família, mas mesmo assim eles não pararam de dar tiros”, disse um dos sobrinhos de Evaldo ao jornal Extra.
Na primeira nota divulgada à imprensa, o Comando Militar do Leste informou que uma patrulha do Exército flagrou um assalto perto do piscinão de Deodoro e que dois criminosos dentro de um veículo haviam atirado contra a equipe.
“Os militares responderam à injusta agressão”, dizia a nota do CML. Segundo o Comando, este texto foi emitido a partir das informações iniciais transmitidas pela patrulha.
A investigação está a cargo do Exército, mas o delegado Leonardo Salgado, da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil, afirmou que não há nenhum indício de que os ocupantes do carro fossem bandidos ou tivessem reagido a abordagem dos militares. A Polícia Civil realizou a perícia no local e constatou mais de 80 tiros e nenhuma arma dos ocupantes do veículo.
“Tudo indica que houve o fuzilamento do veículo de uma família de bem indo para um chá de bebê. Uma ação totalmente desproporcional e sem justificativa”, afirmou.
O Rio de Janeiro não se encontra mais sob intervenção federal na segurança pública desde o fim do ano passado. Também em dezembro teve fim uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), decretada pelo ex-presidente Michel Temer, que dava poder de polícia às Forças Armadas.
Segundo o CML, a equipe realizava um patrulhamento regular no perímetro de segurança da Vila Militar, que fica próxima ao bairro onde ocorreu o assassinato.
Lei sancionada por Temer em 2017 determina que crimes dolosos contra a vida, cometidos por militares contra civis, serão de competência da Justiça Militar em três casos. São eles: se praticados no cumprimento de atribuições estabelecidas pelo presidente ou pelo Ministro de Estado da Defesa; se cometidos em ação que envolva a segurança de instituição militar; se forem de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem.
Na madrugada de sexta-feira (5), um jovem morreu e outro ficou ferido, atingidos por militares perto da Vila Militar, na zona oeste do Rio.
Segundo o CML, quatro criminosos furaram um posto de bloqueio e controle do Exército e, após desobedecerem sucessivas ordens de parar, lançaram os veículos contra as sentinelas, que reagiram à agressão. Outros dois teriam fugido.
A Polícia do Exército compareceu ao local para realizar uma perícia e um inquérito policial militar foi instaurado para apurar o caso. A família contesta a versão dos militares.