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CNBB prega coesão de bispos em momento de embate com governo Bolsonaro

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Com um discurso de busca de unidade, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) iniciou nesta quarta-feira (1º) a assembleia em que elegerá sua direção para os próximos quatro anos.

O encontro em Aparecida (SP) ocorre em meio a tensões da Igreja Católica com o governo Jair Bolsonaro (PSL). Quase 500 bispos, entre ativos e eméritos (aposentados), participam da reunião, que vai durar dez dias.Na abertura, os líderes católicos pregaram coesão entre eles e pediram orações para que cheguem “a decisões acertadas”.

“Que o Deus de bondade nos conceda a graça de vivermos estes dias em fraterna comunhão”, rogou o atual presidente da entidade, dom Sergio da Rocha, que está encerrando o mandato

O clima na reunião reflete os tempos de polarização política no país, com a expectativa nos bastidores de que haja uma guinada conservadora na cúpula, hoje comandada pela ala considerada progressista. Nos últimos meses, posicionamentos da CNBB têm se chocado com propostas de Bolsonaro.

A mais recente elevação de temperatura ocorreu horas antes do começo do encontro, com a divulgação de uma nota sobre o Dia do Trabalhador com críticas duras à reforma da Previdência

Na mensagem, a CNBB diz que a participação dos trabalhadores e dos sindicatos nas discussões sobre o projeto “é fundamental para a preservação da dignidade dos trabalhadores e de sua justa e digna aposentadoria, especialmente dos que se encontram mais fragilizados”.

A instituição afirmou estar preocupada com o regime de capitalização (põe em risco a “lógica da solidariedade e da proteção social”) e com o plano de desconstitucionalizar regras da Previdência (“não é ético”).O texto também emite discordâncias com a reforma trabalhista concretizada pela gestão Michel Temer (MDB). Afirma que a flexibilização de direitos aprovada em 2017 a pretexto de atenuar o desemprego “mostrou-se ineficiente”, com um saldo de mais de 13 milhões de pessoas nessa situação.A entidade já havia se colocado contra a reforma da Previdência em 2017, no governo Temer, e em março deste ano, já sob Bolsonaro

Em entrevista coletiva durante o evento, dom Guilherme Werlang, bispo de Lages (SC), disse que a atual proposta para as aposentadorias amedronta porque “são retirados direitos conquistados a duras penas”.“Reconhecemos que às vezes há necessidade de fazer alguns ajustes. A sociedade é dinâmica. Mas não que quem pague o preço sejam os trabalhadores, especialmente aqueles mais fragilizados”, ponderou.

Organizações ligadas à conferência, como o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e a Pastoral Carcerária, também já repudiaram publicamente iniciativas do governo que assumiu em janeiro.No outro lado do front, apoiadores de Bolsonaro disparam não só contra a CNBB (à qual reservam adjetivos como “esquerdizada” e “comunista”), mas também contra o papa Francisco, apontado por detratores como propagador de ideias vermelhas ao redor do mundo

O escritor Olavo de Carvalho e o estrategista americano Steve Bannon, ambos com influência sobre a família Bolsonaro, têm estimulado as bordoadas no pontífice.Para observadores da sucessão na CNBB ouvidos pela reportagem, a escolha de dirigentes com bom trânsito no governo seria uma forma de atenuar conflitos da igreja com o Planalto. A ala mais progressista, no entanto, rejeita qualquer tipo de recuo.

“Eu digo que isso [guinada conservadora na CNBB] é mais fantasia do que realidade”, disse dom Darci Nicioli, conhecido como “o bispo da jararaca” por causa de um sermão contra o ex-presidente Lula (PT) em 2016.“A equipe que estará à frente é de coordenação; os bispos continuarão os mesmos, e eles têm autonomia”, acrescentou o arcebispo de Diamantina (MG), para quem “é normal” ter membros do clero com diferentes ideologias, como acontece em qualquer instituição

O discurso oficial é o de que o cenário externo não interfere na tomada de decisão e que a CNBB busca tão somente praticar a doutrina social da igreja.“O grande trabalho da igreja é interno. O nível de contato com o governo é pequeno”, reforçou o atual vice-presidente, dom Murilo Krieger.

Embora os bispos se esquivem das polêmicas, as tensões políticas sobressaem no pano de fundo da eleição. Candidatos tidos como simpáticos a ideias conservadoras ascenderam na bolsa de apostas interna nos últimos meses.Os dois mais conhecidos são os arcebispos de São Paulo, dom Odilo Scherer, e do Rio, dom Orani Tempesta -este perdeu preferência depois de ser envolvido na Operação Lava Jato.

Também são mencionados como nomes fortes para as posições em disputa: dom Jaime Spengler (Porto Alegre), dom Joel Portella (Rio de Janeiro) e dom Walmor Azevedo (Belo Horizonte), entre outros.No pleito serão escolhidos o presidente (função mais institucional), o vice e o secretário-geral (que é quem manda realmente, por administrar o dia a dia).

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