Como cordéis escritos por mulheres estão saindo da gaveta
No princípio era o verbo e o verbo estava com os homens – e o verbo eram os homens. Para uma mulher publicar um folheto com rimas e versos de cordel, teria de assinar com um nome masculino. Caso contrário, nenhum leitor levaria a sério um folheto feito por uma mulher.
Oitenta anos se passaram desde a publicação do primeiro folheto escrito por Maria das Neves Baptista Pimentel. Com o sugestivo título “O Violino do Diabo ou o Valor da Honestidade”, o trabalho só foi publicado em 1938 na Paraíba, depois de emprestar o nome do marido Altino Alagoano.
Para muitas mulheres, o espaço na literatura de cordel ainda é conquistado na raça e na rima. O Caminhos da Reportagem mostra como Auritha Tabajara, primeira indígena cordelista, consegue respeito e convite para participar de rodas de cordelistas dominadas por autores masculinos. E Dalinha Catunda, uma das cinco mulheres a ocupar uma das 40 vagas na Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABLC – no Rio de Janeiro.
E para deixar claro que elas não fazem rimas à toa, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) este ano, os dois livros de cordel mais vendidos são de autoria de Jarid Arraes, escritora jovem, negra e nordestina.