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Colombianos que dormiam no aeroporto de Guarulhos conseguem voltar

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Os colombianos que ocuparam por cerca de dois meses o aeroporto de Guarulhos já voltaram todos para seu país. A informação foi dada por integrantes do grupo e confirmada pela GRU, administradora do espaço, e pela prefeitura de Guarulhos.

O número de pessoas dessa nacionalidade acampadas por lá chegou a mais de 300 —eram 311 no dia 6 de junho, segundo contagem feita por eles próprios. Havia estudantes, turistas e, principalmente, imigrantes que vivem no Brasil e ficaram sem renda devido à pandemia de coronavírus.

Alguns vieram de outros estados, caminhando parte do trajeto. Muitas famílias tinham crianças, inclusive bebês de menos de um mês.

Eles ficaram alojados em quatro salas de espera no mezanino do terminal 2, sem poder tomar banho (porque não há chuveiros no aeroporto) e dependendo de doações para se alimentar. Colombianos que vivem no Brasil, ONGs e brasileiros voluntários os ajudaram nesse período.

Sem dinheiro para as passagens, que custavam em torno de R$ 2.000, alguns ficaram lá por até 50 dias. Eles conseguiram ir embora graças a doações de bilhetes e dinheiro por parte de organizações, empresas, funcionários do aeroporto e de outras pessoas que se mobilizaram e fizeram vaquinhas.

Muitos também receberam dinheiro enviado por seus familiares e amigos na Colômbia, que foram juntando a quantia que conseguiram nas últimas semanas. Outra parte eram turistas que tinham reservas suspensas com o cancelamento de voos devido ao fechamento de fronteiras e foram encaixados pelas companhias aéreas em voos recentes.

Houve ao menos cinco voos em junho de Guarulhos para a Colômbia. No último deles, no dia 28, os cerca de 30 estrangeiros que restavam no grupo foram embarcados.

“Graças a Deus e aos irmãos brasileiros já estamos em Bogotá”, diz Jaider Ocoro Ávila, 25, que passou 40 dias no aeroporto.

Ele morava no país havia dois anos e se sustentava vendendo jeans e camisetas no bairro do Brás, em São Paulo. Com a pandemia, ficou sem renda e sem condições de se manter no Brasil. “A situação estava muito dura. Tive que voltar.”

Ele agora está na casa de um tio cumprindo a quarentena de 15 dias em Bogotá, obrigatória para todos que chegam ao país.

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Família colombiana acampada no aeroporto de Guarulhos, em maio – Miguel Schincariol – 26.mai.20/AFP

A Colômbia declarou estado de emergência, as fronteiras estão fechadas ao menos até 31 de agosto, e a organização de voos só pode ser feita por autoridades do país.

“Estávamos tensos porque corria-se o risco de o Ministério Público interceder e retirar os colombianos que restassem em Guarulhos. Porque quem conhece o aeroporto sabe que não tem condição de hospedar. Estamos em uma pandemia, eles mesmos corriam risco de se contaminarem naquele espaço”, diz Luis Carlos Rominger, integrante do Conectados, grupo de ONGs que deu assistência aos estrangeiros.

Os colombianos, no geral, elogiam o tratamento recebido dos seguranças e de outros funcionários do aeroporto. Por ser um espaço público, a concessionária não poderia expulsar ninguém de lá.

No dia 27 de maio, um procurador do Ministério Público Federal convocou uma reunião com outros órgãos, incluindo o consulado da Colômbia, a prefeitura de Guarulhos e o Ministério das Relações Exteriores, para discutir a situação. O resultado do encontro não foi divulgado.

Rominger ficou sabendo da situação dos colombianos por um amigo. “Fui lá levar cobertores e máscaras e vi que tinha famílias dormindo no chão frio, mães com bebês de até dez dias, ainda no resguardo. Por isso a gente se mobilizou.”

As doações eram entregues aos líderes informais do grupo, que distribuíam as passagens dando prioridade a mulheres, crianças, idosos e pessoas com problemas de saúde. “Não precisou nem a gente falar, foi consenso. Eles são muito organizados. Vão deixar saudades”, afirma Rominger.

Segundo ele, para o último voo, havia bilhetes para 17 pessoas, mas ainda faltavam 15. Ele afirma que o consulado da Colômbia conseguiu, uma hora antes da decolagem, que essas 15 embarcassem gratuitamente, já que o voo faria uma parada para abastecer e assim teria capacidade para levar mais peso.

Por sua vez, alguns colombianos que embarcaram nesse avião dizem que todos os bilhetes foram comprados. “O consulado não nos deu nem um copo de água, como sempre”, afirma Jaider.

Folha procurou o Ministério das Relações Exteriores colombiano para confirmar a informação, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

Em nota divulgada anteriormente, a embaixada afirmava que reiterava “o compromisso permanente de ajudar, acompanhar e orientar os colombianos que se encontram em território brasileiro” e que mantinha gestões para organizar mais voos com o mínimo valor possível para os passageiros.

Com a estadia prolongada e a chegada de cada vez mais gente, a situação nas salas ocupadas pelos colombianos em Guarulhos foi se tornando mais crítica. Houve relatos de que alguns consumiam álcool e drogas e foram rejeitados pelos compatriotas que estavam lá havia mais tempo.

Também de volta para casa, uma das líderes do grupo, a engenheira Monica Ramirez, 37, diz que viveu no aeroporto uma das grandes experiências de sua vida. Turista no Brasil, ela passou 40 dias dormindo em Guarulhos após seu voo ser adiado.

“Fiz amigos maravilhosos, cresci pessoalmente e aprendi a dar valor ao mínimo para viver”, afirma. “Levo cada uma das pessoas que nos ajudaram no coração e quero ter a chance de voltar ao Brasil para abraçá-las.”

FOLHA
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