Defensor da cloroquina, Bolsonaro diz que ‘não pode ser irresponsável’ com vacina ‘sem comprovação científica’
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quinta-feira (3), durante sua transmissão semanal nas redes sociais, que “ninguém pode ser obrigado a tomar a vacina”, se mostrando novamente contrário ao uso de medidas coercitivas para uma eventual aplicação geral de uma vacina contra a Covid-19 no país.
Bolsonaro usou como justificativa o fato de que o governo “não pode ser irresponsável” de aplicar nas pessoas “uma vacina que não tem comprovação científica”.
Minutos antes, no entanto, o presidente novamente defendeu a hidroxicloroquina, medicação que não tem uso científico comprovado para combater o coronavírus, afirmando que “se você pode morrer e só tem esse tipo de remédio, toma”.
Ele reconheceu que a hidroxicloroquina não tem comprovação científica, apesar de considerá-la uma alternativa ao coronavírus, e, em seguida, falou sobre a sua preocupação com a aplicação de vacinas que ainda não tivessem comprovação científica.
“Parte da imprensa fica exigindo comprovação científica. Se não tem alternativa, toma isso [hidroxicloroquina]. Você pode morrer e só tem aquele tipo de remédio, toma. ‘Ah, mas precisa de comprovação científica’. Em especial aquela TV, que tem o jornal da morte todo dia”, ironizou Bolsonaro, atacando a TV Globo. “Estou com um processo de direito de resposta com vocês, e muita esperança de ganhar”, disse, se dirigindo à emissora.
“Exigiam comprovação científica da hidroxicloroquina. Sei que não tem. Mas, hoje em dia, muita gente apoia que a vacina seja aplicada até de forma coercitiva”, continuou o presidente, afirmando que essa medida não está determinada por lei. “A lei diz que ‘poderão’ ser adotadas tais medidas. Não está dizendo que serão aplicadas.”
Nesse contexto, Bolsonaro explicou seu veto à lei que exigia que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) analisasse em até 72 horas os medicamentos – inclusive vacinas – contra a covid-19, desde que eles estivessem sido aprovados para distribuição comercial pelos órgãos regulatórios de Estados Unidos, União Europeia, Japão e China.
O veto de Bolsonaro foi derrubado pelo Congresso Nacional, exigindo, portanto, que a Anvisa libere ou vete os medicamentos em até 72 horas.
“Apesar de serem produzidas nesse bloco de países, temos que ir por fases e fazer certos questionamentos. Afinal de contas, não podemos ser irresponsáveis que uma vacina que não tem comprovação científica… tem nos seus países, mas não tem aqui no Brasil. Nós temos que ver. Não podemos ser irresponsáveis de colocar dentro do corpo da pessoa a vacina”, disse o presidente.
“Quando eu falei: ‘ninguém pode obrigar a tomar a vacina’… Ninguém pode obrigar”, acrescentou o presidente.
A frase de Bolsonaro, dita primeiro na terça-feira a apoiadores no Palácio do Alvorada, foi criticada por especialistas da comunidade médica pela possibilidade de desencorajar as pessoas a tomarem a vacina contra a covid-19 e, assim, dificultar a contenção do vírus.
Presidente questiona uso de máscara: “farsa”
Após criticar a obrigatoriedade da vacina, Bolsonaro atacou um projeto de lei proposto na Câmara Federal que poderia punir com prisão quem desrespeitasse a obrigatoriedade do uso de máscaras.
“Acho que tem que ter uma campanha de conscientização [para uso de máscaras]. Se bem que tem muito médico dizendo já que essa máscara não protege bulhufas. É outra farsa que tem pela frente”, atacou.
Presente na live, o ministro da Justiça e da Segurança Pública, André Mendonça, completou a crítica do presidente dizendo que “bandido não pode ser preso, mas quem não está usando máscara vai para a cadeia”.
No início da transmissão, em outro momento que defendeu o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19, Bolsonaro havia falado sobre sua decisão de não usar máscaras ao encontrar a população, ainda no início da pandemia, dizendo que “era um general” que tinha que estar “no meio do povo”.
“A hidroxicloroquina era uma possibilidade. Sabíamos que não tinha comprovação científica. Mas, de forma observacional, havia comprovações médicas. E comecei a falar sobre isso. E comecei a andar no meio do povo, como exemplo. E falavam: ‘ele está no meio do povo sem máscara!’ Sou um general e, como general, tenho que estar no meio do povo, no meio de soldados”, afirmou.
Na sequência, o presidente disse que as medidas de isolamento social tomadas no início da pandemia buscavam achatar a curva. “Não quer dizer que as pessoas não iriam pegar. Era para pegar mais tarde, para que os hospitais se aparelhassem.”
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