Esportes

Atletas do Inter feminino sub-16 são alvo de comentários de cunho sexual; clube promete medidas legais

whatsapp-image-2020-12-22-at-16.01.32 Atletas do Inter feminino sub-16 são alvo de comentários de cunho sexual; clube promete medidas legais

Campeão brasileiro feminino sub-16 há dois dias, após bater o Minas Brasília, o Internacional deixou de ter motivos para comemorar em pouquíssimo tempo. As jogadoras da equipe foram alvo de mensagens machistas em uma rádio gaúcha, além de comentários de cunho sexual nas redes sociais direcionados a uma das atletas.

O Internacional repudiou o ocorrido e afirmou que está tomando medidas legais. Em entrevista ao Coisa do Gênero, vice-presidente de Responsabilidade Social do Inter, Norberto Guimarães, afirmou que foram os torcedores que levaram a questão até o clube.

– Torcedores nos avisaram assim que começaram os comentários. Montamos todo um material e estamos encaminhando pro jurídico do clube avaliar pra tomar as medidas cabíveis. Nosso coordenador está em contato com a atleta e com sua família. Ela está chateada, mas está bem – disse Norberto.

whatsapp-image-2020-12-22-at-16.00.36 Atletas do Inter feminino sub-16 são alvo de comentários de cunho sexual; clube promete medidas legais

Atitudes machistas são desrespeitosas e inaceitáveis em qualquer idade, mas choca ainda mais o fato de o caso envolver atletas de apenas 15 anos. Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e especialista em gênero e esporte, Silvana Goellner destaca que o sexismo não delimita idade quando se trata de objetificação.

– O machismo ignora a idade. A violência sexual incide muito sobre as meninas. Crianças são muito vulneráveis em uma sociedade machista como a nossa. A sexualização e objetificação do corpo das atletas é algo que precisa ser denunciado, porque é uma violência que incide sobre meninas e mulheres, sobretudo no esporte, onde elas deveriam ser valorizadas por suas habilidades, capacidades técnicas, táticas, físicas, e não sobre seus corpos – diz Silvana.

Quando o assunto é violência sexual, duas categorias são as que mais sofrem: menores de idade e pessoas do gênero feminino. Quase 75% dos casos de estupro registrados no Brasil em 2019 ocorreram entre 0 a 17 anos, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O documento aponta, ainda, que quase 86% dos estupros no país são praticados contra meninas e mulheres. Professora de Direito da Unifesp, Maíra Zapater aponta que há uma naturalização da violência sexual contra essas duas categorias.

– Há uma sobreposição de uma cultura que incentiva tanto a violência sexual contra jovens – crianças e adolescentes – e contra mulheres, porque aqui estamos falando de meninas. Toda essa ideia de que essas meninas são vistas como mulheres, como se fossem mais velhas, e sofrem a misoginia de serem avaliadas pelos seus corpos, pela estética, e não pelo que estão praticando – diz Maíra.

Para uma mudança estrutural, Silvana Goellner afirma que é necessário discutir a objetificação e a naturalização da violência contra meninas e mulheres, dentro e fora do ambiente esportivo. Além disso, a pesquisadora destaca que também é necessário o combate a esse tipo de conduta.

– Os dirigentes precisam trabalhar esse tema com elas em seus clubes, porque elas não podem ser sujeitas a esse tipo de violência. A gente necessita pautar esse tema para desnaturalizar a ideia de que violência contra mulheres é algo banal, que não incomoda mais – ao contrário, precisa incomodar homens e mulheres. Objetificar atletas é valorizar apenas esse corpo que corresponde ao desejo dos homens, é bastante grave o que aconteceu com a jogadora do Inter, é preciso que haja algum tipo de punição ao agressor – afirma Silvana.

Os comentários machistas e de cunho sexual sofridos pelas atletas do Inter não se encaixam na punição na esfera criminal, mas cabe ação jurídica por violação dos artigos 17 e 18 do Estatuto da Criança e Adolescente (leia abaixo), já que houve violação da integridade moral das adolescentes.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

– Comentários públicos de cunho sexual não configuram crime, só seria visto dessa maneira se houve um ato com criança ou adolescente, e isso não aconteceu. Porém, o Estatuto da Criança e do Adolescente assegura o direito ao respeito, nos artigos 17 e 18, e os dois atos violam isso e submetem a adolescente a um tratamento vexatório e constrangedor. Como existe esse direito especificamente, esses direitos foram desrespeitados. Pode ir desde indenização por dano moral, paga às meninas, até tipos de sanções administrativas no caso da rádio – explica Maíra.

aline-pellegrino Atletas do Inter feminino sub-16 são alvo de comentários de cunho sexual; clube promete medidas legais

Aline Pellegrino é a Coordenadora de Competições Femininas da CBF — Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Coordenadora de competições da CBF, Aline Pellegrino esteve na bolha do Brasileiro sub-16 e viu de perto as meninas campeãs do Inter. Ela destaca que o clube está dando o suporte necessário para que o impacto no psicológico das atletas seja minimizado e pede que os autores dos comentários sejam responsabilizados.

– Neste momento, a maior resposta que pode ser dada é a punição adequada, com o devido processo judicial, a quem teve esse comportamento deplorável. Cada processo contra uma pessoa que toma essa atitude é uma resposta para evitar novos casos. O que precisamos fazer, na esfera esportiva e administrativa, é apoiar as meninas para que elas fiquem com a cabeça boa e sigam correndo atrás dos seus sonhos em campo – finaliza Pelle.

Globo Esporte

Etiquetas

O Pipoco

Jornalismo sério com credibilidade. A Verdade nunca anda sozinha. Apresentaremos fatos num jornalismo investigativo e independente. Com o único compromisso de mostrar para Você, Cidadão, o que acontece nos bastidores da Política; da Administração e Outros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo
Fechar