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Bolsonaro quer testar spray nasal contra Covid-19 no Brasil

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O spray nasal EXO-CD24, originalmente desenvolvido para combater câncer de ovário, deverá ser testado no Brasil contra Covid-19, segundo anunciou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em sua rede social nesta segunda-feira (15).

Mais tarde, em São Francisco do Sul (SC), o presidente afirmou que deve enviar uma equipe a Israel para tratar do spray e negociar sua adoção no Brasil.

A droga, no entanto, ainda não possui eficácia comprovada para o combate ao coronavírus.

“EXO-CD24 é um spray nasal desenvolvido pelo Centro Médico de Ichilov, em Israel, com eficácia próxima de 100% (29/30), em casos graves, contra a Covid”, escreveu Bolsonaro em suas redes sociais. “Brevemente será enviado à Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] o pedido de análise para uso emergencial do medicamento.”

Em um ensaio clínico de fase 1, o primeiro a testar o fármaco em humanos, os cientistas disseram que 29 dos 30 pacientes que receberam o spray nasal, todos com casos moderados a graves de Covid-19, receberam alta entre 3 a 5 dias após o tratamento.

Não foram divulgadas informações sobre o acompanhamento destes pacientes após a recuperação, tampouco efeitos colaterais nos mesmos. O estudo ainda não foi publicado oficialmente.

Por ser um ensaio ainda inicial, os pacientes não foram divididos em dois grupos, um que recebeu o remédio e outro que recebeu um placebo. Assim, são necessárias mais pesquisas com maior número de voluntários e com o chamado padrão-ouro de ensaio clínico (controlado, randomizado e duplo-cego), para comprovar a eficácia do EXO-CD24 para Covid-19.

Bolsonaro já havia anunciado, na última sexta-feira (12), após uma conversa com o primeiro-ministro de Israel, Benyamin Netanyahu, que o Brasil seria palco para condução de um ensaio clínico com a droga experimental.

“Dentre outros assuntos, tratamos da participação do Brasil na 3ª fase de testes do spray EXO-CD24, medicamento israelense que, até o momento, vem obtendo grande sucesso no tratamento da Covid-19 em casos graves”, escreveu Bolsonaro em suas redes sociais.

Nesta segunda-feira, após nova conversa com Netanyahu no domingo (14), o presidente reafirmou o interesse em avaliar a droga experimental no país. Questionada, a Anvisa disse não ter recebido nenhum pedido relacionado à droga EXO-CD24 até o momento.

O presidente depois participou de uma transmissão ao vivo na internet, no canal de rede social de seu filho Eduardo Bolsonaro. O chefe do Executivo então afirmou que o spray ainda não causa comoção por ser um remédio “barato”, que nessa semana vai decidir se envia uma equipe a Israel para tratar do assunto e que sua liberação pela Anvisa será mais “fácil”.

“Estamos estudando uma ida de uma equipe nossa para Israel. Estamos falando com o hospital, existe uma possibilidade muito grande de nos próximos dias a documentação entrar na Anvisa. E entrando na Anvisa, com um pedido para ser usado emergencialmente, a Anvisa vai rapidamente analisar a documentação e se achar que procede, vai liberar”, afirmou o presidente.

“Eu vejo que é muito menos difícil, mais fácil liberar isso, o spray, porque a pessoa já está em estado grave, alguns até entubados. E aquele spray como deu certo rapidamente em 29 de 30 pessoas, tem tudo para dar certo aqui”, completou.

Bolsonaro então mais uma vez ironizou a eficácia da Coronavac -a principal vacina usada na imunização da população brasileira, atualmente- embora sem mencioná-la pelo nome.

“Tão importante quanto uma vacina aprovada pela Anvisa é o remédio”, disse o presidente, que então deu um sorriso irônico ao falar da Coronavac.

“Como a eficácia da vacina está em 50,38%, na verdade é 50%, se a pessoa contrair o vírus, ela pode usar esse spray que a eficácia no momento chega próximo de 100%. Eu sei que a parcela é muito menos de pessoas sendo testadas, são 30, né?”, disse o presidente.

Bolsonaro então criticou seus antecessores, por não manterem um bom relacionamento com o governo de Israel. Lembrou que Dilma Rousseff rejeitou a indicação para embaixador israelense em Brasília de Dani Dayan, político e empresário ligado aos assentamentos de colonos israelense na Cisjordânia.

A ação da droga é semelhante à de outros medicamentos que já foram e vem sendo testados contra a Covid-19 e cujo objetivo é impedir a chamada tempestade de citocinas, ou seja, uma reação exacerbada do sistema imune que faz com que o organismo ataque o próprio corpo, e não o vírus.

A droga israelense consiste em levar às células pulmonares via exossomos -pequenas vesículas que transportam substâncias entre as células- uma proteína, chamada CD24, que diminui o processo inflamatório e restabelece o equilíbrio ao sistema imunológico.
Pesquisas com a proteína CD24 vêm sendo desenvolvidas há décadas como tratamentos inovadores de câncer. No caso do tratamento de pacientes com câncer, a proteína CD24 é usada como alvo imunoterápico, por ser a responsável por impedir o combate natural do corpo aos tumores. Bloqueando a ação da CD24, o corpo reage à doença e ataca o tumor.

No caso do tratamento contra a Covid-19, o uso do spray nasal foi escolhido por levar a droga diretamente aos pulmões, não tendo assim uma ação generalizada em todo o corpo.

Pesquisador principal do estudo em Israel, o médico Nadir Arber disse ao jornal Times of Israel que o novo tratamento consiste em uma “grande descoberta”, e que o uso recomendado é a inalação uma vez ao dia durante alguns minutos, por cinco dias.

“A fórmula de spray direciona a droga diretamente ao ‘coração’ da tempestade de citocinas -os pulmões-, por isso, ao contrário de outras formulações, que restringem seletivamente uma determinada citocina, ou agem de maneira generalizada, podendo causar efeitos colaterais, a EXO-CD24 é administrada localmente, funciona amplamente e não possui efeitos colaterais.”

É preciso, agora, conduzir mais estudos com a droga, disseram os pesquisadores do hospital, mas há aposta de que seja uma “droga revolucionária” contra Covid-19.

Outras drogas estudadas para Covid-19, no entanto, apresentaram resultados promissores em estudos pequenos, com quantidade limitada de participantes, e depois não conseguiram comprovar sua eficácia para o tratamento nem de casos leves, nem moderados ou graves de Covid-19, como a hidroxicloroquina e a ivermectina -esta última, apenas com resultados in vitro satisfatórios, mas que caiu ao ser testada em humanos.

Recentemente, a droga tocilizumabe, um anti-inflamatório, apresentou resultados positivos em impedir o uso de ventilação mecânica para pacientes internados com Covid-19.

Bolsonaro voltou a atacar as políticas de isolamento social e defendeu os medicamentos sem comprovação de eficácia contra a Covid, chegando a parabenizar os médicos que os receitam.

“No mais, repito, parabéns aos médicos que têm coragem no Brasil de receitar aquela medicina off label, que é fora da bula. Como não tem um remédio específico, ele por experimentação, por observação, acaba receitando cloroquina, ivermectina -a tal da Anitta-, seja lá o que for, em comum acordo com o paciente”, disse.

FOLHAPRESS

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