EUA anunciam envio de US$ 20 mi em medicamentos ao Brasil
Pressionados a ajudar outros países no combate da crise sanitária, os Estados Unidos disseram nesta terça-feira (4) que parte desse apoio pode vir para o Brasil — que ultrapassou os 408 mil mortos devido à Covid-19 e acaba de enfrentar os dois meses mais letais da pandemia.
A Casa Branca anunciou que está trabalhando para enviar US$ 20 milhões (R$ 180 milhões) em medicamentos usados para intubar pacientes com Covid-19.
Segundo a porta-voz Jen Psaki, os itens sairão do estoque estratégico do governo americano e serão entregues em parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde.
Ela não informou mais detalhes de quando o envio deve acontecer e disse que o assunto não foi finalizado, mas que é um “esforço em andamento”. O apoio é para “compensar os surtos de abastecimento globais” e permitir que o Brasil receba medicamentos suficientes para as suas necessidades imediatas, disse Psaki.
O anúncio ocorre uma semana após o governo de Joe Biden confirmar o envio de insumos para a produção de vacinas, testes, medicamentos, respiradores mecânicos e equipamentos de proteção individual à Índia.
O país asiático tornou-se o terceiro país no ranking mundial de óbitos — atrás apenas do Brasil e dos EUA — e vive colapso em seus sistema de saúde, com falta de leitos e oxigênio, e fila para cremar seus mortos. A Índia soma mais de 222 mil mortes, segundo dados oficiais, o que muitos consideram altamente subestimados.
Com uma população de 1,3 bilhão, a segunda maior do mundo, perdendo apenas para a China, e o surgimento de uma nova variante, a B.1.617, hoje dominante entre os casos no país, o descontrole da pandemia causa preocupação.
A nova linhagem está sendo investigada para descobrir se é mais perigosa do que a forma original do vírus, mas sua rápida disseminação por toda a Índia e por outros 16 países já preocupa.
Do ponto de vista político, porém, a Índia faz parte do Quad — abreviação para Diálogo de Segurança Quadrilateral — uma parceria com Japão, Austrália e Estados Unidos para combater a expansão da China, que também fechou acordos para ajudar outras nações com envio de vacinas e mantimentos, como parte da corrida da geopolítica da pandemia.
Mais tarde nesta terça, o presidente americano indicou, durante uma entrevista coletiva, que o Brasil pode estar entre os países que irão receber imunizantes que estão sobrando nos EUA — o país anunciou na semana passada que liberaria até 60 milhões de doses da vacina da AstraZeneca.
O imunizante, fabricado em parceria com a Universidade de Oxford, ainda não foi aprovado nos EUA. Até o momento, o país está vacinando sua população com produtos de três fabricantes -Pfizer/BioNTech, Moderna e Johnson & Johnson.
Quando fez o anúncio, a administração democrata não informou quais países estariam listados para receber as doses, mas ao ser questionado por uma jornalista da GloboNews nesta terça sobre o critério para a distribuição e se Brasil e Índia estariam nesta lista, o presidente abriu a possibilidade de entregar imunizantes ao governo brasileiro.
“Com relação à vacina da Astrazeneca que temos, enviamos ao Canadá e México e estamos falando com outros países. Aliás, falei com um chefe de Estado hoje. Não estou pronto para anunciar para quem mais iremos enviar a vacina também, mas vamos ter enviado 10% do que temos até 4 de julho para outras nações, incluindo algumas das que você mencionou”, disse Biden.
O governo brasileiro tem sido criticado por não conseguir acelerar a vacinação, entre outros motivos devido ao atraso nas entregas de doses prontas e de insumos para fabricação no país.
O Brasil chegou a fazer consultas no passado sobre a possibilidade de receber o excedente da AstraZeneca nos EUA, mas a resposta foi que o governo americano priorizaria a imunização da sua própria população.
O envio de cerca de 4 milhões de unidades do imunizante da AstraZeneca para o Canadá e para o México — 1,5 milhão e 2,5 milhões de doses para cada, respectivamente — foi anunciado em março.
Em relação ao governo mexicano, o envio das vacinas foi visto como uma forma de afago para que o país endureça os controles na fronteira com os EUA, que vive uma grave crise migratória e o maior fluxo de imigrantes vindos do território mexicano em 20 anos.
O imunizante da AstraZeneca teve sua segurança questionada depois do registro de raros casos de coágulos na Europa. Países europeus chegaram a suspender ou restringir o uso. A agência reguladora da União Europeia (EMA), no entanto, concluiu que os benefícios da vacina superam seus riscos potenciais e recomendou que governos do bloco mantivessem as aplicações, adicionando um aviso à bula do produto.
FOLHAPRESS