Política

DEMOCRACIA OU RUPTURA CONSTITUCIONAL por Sérgio Bezerra

Para onde caminha o Brasil?

sergio-bezerra-e1629482169900 DEMOCRACIA OU RUPTURA CONSTITUCIONAL por Sérgio BezerraA corrida eleitoral para a Presidência da República já está em curso, com alguns setores fomentando a disputa entre esquerda e direita. Ocorre que, de esquerda mesmo, no Brasil, os mais notórios são o tenente Luiz Carlos Prestes, o capitão Lamarca e João Amazonas, que há muito nos deixaram. Por outro lado, ser de direita não significa apoiar grosserias, ameaças à democracia, ataques às instituições e muito menos incentivar o movimento antivacina. Há muitos aspectos a serem considerados nessa vã filosofia.

A novidade é a influência das fake news – que, aos poucos, vai morrendo, como era esperado, uma vez que, segundo registro da história, a única fake news que durou um longo período foi a do escritor romano Suetônio, que, em “Vida de Nero”, criou a versão de que o cruel imperador romano teria ordenado o incêndio em Roma e assistido à tragédia da Torre de Mecenas, no monte Esquilino, enquanto cantava e tocava lira. Tal lorota mereceu, inclusive, registro nas telas de cinema, com o filme épico “Quo Vadis”, dirigido por Mervyn LeRoy (1951) a partir de livro homônimo do polonês Henryk Sienkiewicz.

Não obstante, apesar de as pesquisas eleitorais apontarem para uma derrota acachapante da situação, entendo que a eleição presidencial não são favas contadas. Muitas águas vão rolar até o dia 2 de outubro de 2022. Afinal de contas, estamos no Brasil, onde parte da população que não tem dinheiro para pagar o serviço privado luta para acabar com o serviço público. Sem esquecer que Bolsonaro tem um núcleo permanente de apoiadores, pois muitos integrantes da sociedade brasileira pensam e agem como ele. Isso é fato.

Também vale lembrar que, no segundo turno das eleições de 2018, 57 milhões redondos votaram em Bolsonaro, 47 milhões votaram no Haddad e 42 milhões não votaram em ninguém (branco, nulo e abstenção). Ou seja, quase 90 milhões não votaram em Bolsonaro (somando com os que votaram em Haddad). Acontece que, dentro das regras do jogo, o presidente foi eleito com uma diferença de 10 milhões de votos redondos – a maior da história. De quebra, por baixo do seu cobertor, conseguiu eleger vários deputados e senadores Brasil afora. Um feito extraordinário e inquestionável para os sãos.

Porém, o que seria motivo de celebração e euforia para os normais, é motivo de questionamento para o próprio conquistador. O presidente, não se contentando em transformar em cacos a sólida base política que o ajudou a se eleger, agora insiste em alardear, sem apresentar provas, que o pleito eleitoral foi fraudado, com o argumento de que as urnas eletrônicas foram manipuladas. Nem Freud explica.

Acredito que essa incongruência vem de longe. Dista da data em que se encerraram os festejos da vitória e da posse, quando o ex-candidato Bolsonaro acordou governante, e, na dúvida sobre o que fazer com a outorga conferida pelo povo brasileiro, resolveu reassumir sua verdadeira identidade: uma explosiva mistura de Nicolás Maduro, atual presidente da Venezuela, com o último czar russo, Nikolái Alieksándrovich Románov (1918). O primeiro, por copiar o aparelhamento do Estado e entupir o governo de ministros militares, para se esconder por trás das baionetas – atitude típica de governante fraco. O segundo, pelo fascínio de ser guiado por um guru que o faz enxergar o mundo pelo buraco de uma fechadura, agindo sempre em detrimento da lógica e dos fatos, mesmo que esteja a dois passos do precipício. Olavo de Carvalho é o místico “Rasputin tupiniquim”.

Diante desse quadro, e com a popularidade despencando, surgem boatos de que o governante se aventuraria num golpe de Estado ou tentaria melar as eleições do ano vindouro, ao não reconhecer o resultado, se for adverso. Nessa última hipótese, assumirá de vez a pecha de lacaio de Donald Trump. O problema é que não temos um Mark Milley, então chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, a maior máquina de guerra do mundo, que pediu desculpas à nação quando Trump o meteu numa enrascada, dizendo: “servimos à Constituição, não ao governo”.

Com relação à ruptura democrática, apesar do triste histórico das Forças Armadas brasileiras, não acredito que aconteça – e, se acontecesse, não duraria 45 dias, e seria a maneira mais rápida de os responsáveis irem para prisão. No entanto, o simples fato de essa possibilidade vir à baila é um sinal de que a democracia recuou. E isso me faz lembrar a velha máxima: “Sabem por que o cachorro late? O cachorro late porque é cachorro”.

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