Empresários cobram do governo Bolsonaro protagonismo na agenda ambiental
“O mundo precisa, com urgência, caminhar para uma economia de baixo carbono e o setor empresarial no Brasil reconhece sua responsabilidade nessa transformação”.
Assim começa uma carta assinada por 107 grandes empresas sediadas no país, além de 10 entidades empresariais, que cobram um posicionamento mais firme do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) a respeito da crise do clima.
“Objetivos climáticos ambiciosos correspondem à nossa convicção de que o Brasil deve buscar o protagonismo nas negociações de clima”, diz o texto. “O Brasil deve manter a sua centralidade nesse diálogo, sob pena do enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira”.
Quem lidera a iniciativa é o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). O documento, intitulado “Posicionamento Empresários pelo Clima”, deve ser apresentado a representantes do governo brasileiro. O Ministério da Economia, de Paulo Guedes, aceitou nesta segunda-feira (27) participar do encontro e uma data está sendo agendada.
O CEBDS quer apresentar o documento também para os ministros Joaquim Álvaro Pereira Leite (Meio Ambiente), Carlos Alberto Franco França (Relações Exteriores) e Tereza Cristina (Agricultura).
Entre os signatários, estão empresas como Alcoa, B3, Carrefour, P&G, Embraer, Bradesco, Grupo Ultra, Shell, BRF, JBS, Klabin, Natura, Renner, Nestlé, Amazon, JSL, Korin, Marfrig, Mastercard, Vivo, Votorantim, Movida, Suzano, os escritórios de advocacia Tozzini Freire e Mattos Filho, além de entidades como Abimaq (máquinas e equipamentos), Abal (alumínio), Abag (agronegócio) e Amcham Brasil (Câmara Americana).
O documento já foi apresentado no mês passado a Alok Sharma, presidente da COP26, conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), que acontece em novembro em Glasgow, na Escócia. O evento deve entrar para a história como a conferência climática mais importante desde a realizada na França em 2012, quando se estabeleceu as bases para a assinatura do Acordo de Paris — que rege medidas de redução de emissão de gases estufa a partir de 2020, a fim de conter o aquecimento global.
Na carta, os empresários dizem que “estão respondendo ao chamado expresso no Acordo de Paris, que, em 2015, conferiu ao setor produtivo protagonismo na defesa contra o agravamento e os efeitos das mudanças climáticas, em parceria com a sociedade civil e governos”.
Para os signatários do documento, o Brasil “tem vantagens comparativas extraordinárias” para alcançar uma economia de emissões líquidas de carbono neutras.
Para isso, é preciso “desenvolver um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória dentro de um compromisso firme com ações eficazes para a preservação do meio ambiente e o cumprimento das metas de combate ao desmatamento ilegal”.
As empresas ressaltam que esta é “uma oportunidade única do Brasil ser competitivo” e melhorar “as condições de vida da população”, em sintonia com as novas prioridades que pautam o desenvolvimento mundial.
“O setor empresarial brasileiro está engajado na recuperação do país dos efeitos da Covid-19, promovendo uma retomada verde (green recovery) fundada em bases de economia circular, de baixo carbono e de inclusão. Os CEOs signatários deste documento têm assumido posições e trabalhado por esse avanço em todo o país”, diz o texto.
O documento cita estudo recente, apoiado pelo CEBDS, que indica ser possível reduzir as emissões de GEE (gás de efeito estufa) em até 42% no Brasil já em 2025, em relação aos níveis de 2005.
Nesse sentido, a carta destaca os avanços representados pelo RenovaBio, a recém-aprovada política de pagamento por serviços ambientais (PSA) e o futuro mercado regulado de carbono no Brasil.
Os empresários dizem apoiar “a aderência a metas baseadas em conceitos científicos (Science Based Targets) e práticas de transparência financeira (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures), com a adoção de mecanismos de financiamento para a promoção da transição climática e o combate integral e inequívoco ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica e de outros biomas brasileiros”.
Ressaltam, ainda, que é preciso desenvolver mercados de carbono voluntário e regulado no Brasil, cooperando para a criação de um mercado de carbono global no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC).
“Devemos construir uma trajetória orientada para um futuro de claros objetivos climáticos, sob pena de sermos excluídos de uma nova ordem climático-econômica que se consolida diante dos nossos olhos, o que seria injustificável para um país como o Brasil”, afirmam.
FOLHAPRESS