Testes de Covid causam fila de quase 2 mil caminhões na fronteira da Argentina com o Chile
Entre 1,8 mil e 2 mil caminhões estão parados há dois dias na fronteira da Argentina com o Chile, formando longas filas do lado argentino do Paso Cristo Redentor, a principal ligação entre os dois países, na Cordilheira dos Andes.
O “congestionamento” começou após o governo chileno endurecer seus controles sanitários a motoristas estrangeiros, exigindo que os caminhoneiros façam testes de Covid-19 na fronteiro, segundo os trabalhadores de transporte argentinos.
O mesmo problema ocorre na fronteira do Chile com a Bolívia. “Estou nesta fila há cinco dias. Tem sido horrível porque não temos comida nem serviços básicos”, diz o motorista de caminhão Juan Vargas na fria cidade boliviana de Tambo Quemado, que faz fronteira com a chilena Chungara.
As temperaturas na passagem da montanha de Tambo Quemado só atingem -2ºC durante o dia e podem chegar a -20ºC à noite.
“Tenho uma cama aqui, mas não é o mesmo que descansar em casa. Tenho outros cinco colegas compartilhando e cozinhando no meu [caminhão]. Temos apenas alguns mantimentos, mas não podemos passar o dia todo sem comida”, reclamou o caminhoneiro.
O vice-ministro de Comércio e Integração da Bolívia, Benjamin Blanco, visitou os caminhoneiros na fronteira na quinta-feira (13) e afirmou que propôs “enviar seis profissionais de saúde para trabalhar exclusivamente nos testes de antígenos”.
“Desta forma, os funcionários chilenos podem transcrever e inserir os dados, agilizando a entrada [dos caminhões no país vizinhos]”, afirmou Blanco. “Existe a disposição de fazer a entrada o mais rápido possível nos próximos dias”.
Impasse no lado argentino
Cerca de 900 caminhões argentinos cruzam diariamente a passagem Cristo Redentor, a partir da província argentina de Mendoza (que fica a 1.050 km a oeste de Buenos Aires). Em 2018, antes da pandemia, cruzaram a fronteira mais de 580 mil caminhões, segundo um recente estudo binacional.
“Em algum momento, a rede de suprimentos vai ser cortada. Não é um funil, é um tampão”, afirmou Daniel Gallart, da Associação de Proprietários de Caminhões de Mendoza, à agência de notícias France Presse. “Na prática, a passagem está fechada”.
“Estamos falando de 2 mil ou 1,8 mil caminhões. Vêm de todo o Mercosul. Segundo as estatísticas de tráfego, 50% são argentinos, 30%, brasileiros, e o restante de outros países”, disse Gallart.
A Federação Argentina de Entidades Empresariais do Autotransporte de Cargas da Argentina exige que o Chile abra mais postos de atendimento devido ao endurecimento do controle na fronteira.
“Não questionamos a medida soberana de um país, mas sim as consequências que esta decisão provoca. Não somos contra testar os motoristas, mas isso deveria ser ágil”, afirmou a federação em um comunicado.
O impasse na fronteira representa perdas de milhões de dólares para o comércio internacional da Argentina através de portos do Oceano Pacífico, no Chile, e os caminhoneiros argentinos pediram a intervenção formal do Ministério das Relações Exteriores do país.
Covid-19 na América do Sul
Chile e Argentina avançam em suas campanhas de vacinação contra a Covid-19. O Chile, que tem uma das imunizações mais avançadas do mundo, inclusive já começou a aplicar uma quarta dose em parte da sua população.
Mais de 91% da população chilena já recebeu ao menos uma dose e 87% está completamente imunizada contra a Covid-19, contra 85% e 74% dos argentinos, respectivamente (para efeito de comparação, o Brasil tem 78% da população com ao menos uma dose e 69%, imunizada).
A Bolívia está muito mais atrasada, com apenas 55% da população com uma dose e 42% imunizada — abaixo inclusive da média mundial (60% e 50%, respectivamente) e da média da América do Sul (77% e 66%).
O Chile adotou a medida no momento em que a Argentina atravessa uma explosão de casos da variante ômicron, com uma média de 112 mil novos infectados por dia (contra 9,4 mil da Bolívia e 7,9 mil do Chile). A média de novos casos no Brasil está em 84 mil a cada 24 horas.
Proporcionalmente à população, a Argentina tem registrado uma média de 2,5 mil casos por 1 milhão de habitantes, contra 800 da Bolívia e cerca de 400 do Chile e do Brasil (a média da América do Sul está em 710 atualmente).
G1