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Papa Francisco celebra funeral de seu antecessor Bento XVI no Vaticano

101669046-pope-francis-prays-by-the-coffin-of-pope-emeritus-benedict-xvi-during-his-funeral-mass-599x400 Papa Francisco celebra funeral de seu antecessor Bento XVI no Vaticano

Esta foi a primeira vez desde 1802, quando Pio VII comandou a missa de seu antecessor, Pio VI, que um Papa rezou a missa de quem lhe precedeu no cargo. (Foto: Reprodução)

O funeral do Papa emérito Bento XVI, que morreu no sábado aos 95 anos, foi celebrado nesta quinta-feira em uma cerimônia tradicional liderada pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro, na Cidade do Vaticano.

Bento XVI deixou ordens para que o seu funeral fosse “simples”, segundo o diretor da assessoria de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni. Esta foi a primeira vez desde 1802, quando Pio VII comandou a missa de seu antecessor, Pio VI, que um Papa rezou a missa de quem lhe precedeu no cargo.

Com expressão compungida, Francisco trajou vestes fúnebres vermelhas e uma mitra branca, e sentou-se em um trono logo acima do caixão de madeira de seu predecessor. Falando em latim, ele iniciou a missa.

Em sua homilia, o Papa afirmou que as últimas palavras de Jesus – “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” – resumiram a “entrega incessante de si mesmo” a Deus que definiu a vida de Bento XVI.

Francisco não mencionou Bento pelo nome até a última frase da homília, na qual se referiu a Jesus como o Noivo da Igreja, e ao Papa emérito como seu amigo fiel.

— Bento, amigo fiel do Noivo, que sua alegria seja completa ao ouvir a sua voz, agora e sempre!

Além de lamentar Bento por sua função como ex-pastor da Igreja, o breve discurso do Papa Francisco incluiu citações que poderiam ser interpretadas como referindo-se à obra do teólogo alemão de fala mansa e vastos escritos, cujo trabalho de vida foi meditar sobre a vida de Jesus e que enfrentou muitos desafios como Papa antes de sua aposentadoria em 2013.

— Como o Mestre, um pastor carrega o peso de interceder e o esforço de ungir seu povo, especialmente em situações onde a bondade deve lutar para prevalecer e a dignidade de nossos irmãos e irmãs é ameaçada — disse Francisco. — Durante esta intercessão, o Senhor silenciosamente concede o espírito de mansidão que está pronto para compreender, aceitar, esperar e arriscar, apesar de qualquer mal-entendido que possa resultar.

Francisco acrescentou que “apegando-nos às últimas palavras do Senhor e ao testemunho de toda a sua vida, também nós, como comunidade eclesial, queremos seguir os seus passos e entregar o nosso irmão nas mãos do Pai”.

— Que essas mãos misericordiosas encontrem sua lâmpada acesa com o óleo do Evangelho que ele espalhou e testemunhou por toda a sua vida — disse Francisco.

Um longo silêncio se seguiu à homília. A cerimônia teve liturgia semelhante à missa fúnebre de um Papa reinante, com algumas modificações, como o uso de palavras diferentes para se referir a Bento XVI.

Após a homília, o decano do Colégio dos Cardeais, Giovanni Battista Re, celebrou a Liturgia da Eucaristia. Em seguida, dezenas de padres andaram pela multidão para oferecer a comunhão.

Na parte final da missa, o Papa Francisco ofereceu “nosso último adeus ao Papa emérito Bento XVI” e o recomendou a “Deus, nosso Pai misericordioso e amoroso”. O Papa Francisco, de pé, colocou a mão no caixão, fechou os olhos e ofereceu uma bênção e uma oração. Francisco então entrou com uma bengala e um auxiliar na Basílica de São Pedro.

Os ajudantes mais próximos de Bento XVI seguiram o caixão basílica adentro, e o enterro era previsto para acontecer imediatamente. O local de enterro são as chamadas Grutas do Vaticano, onde Bento XVI junta-se a quase 150 de seus predecessores.

De acordo com seus próprios desejos, Bento XVI será sepultado em um túmulo no nível do chão que já teve outros dois ocupantes recentes: João XXIII, que liderou a Igreja por quase cinco anos antes de sua morte em 1963, e João Paulo II, seu antecessor imediato.

A missa teve a presença de 125 cardeais celebrando-a, incluindo cinco no altar, dos 224 que compõem o Colégio Cardinalício. Bento XVI nomeou 64 deles. João Paulo II, nomeou 49 deles, enquanto o Papa Francisco nomeou 111 dos cardeais.

A multidão que lotou a Praça de São Pedro foi menor do que o enorme número de fiéis que afluíram ao Vaticano e a toda Roma para o funeral de João Paulo II. Mas os lamentos ouvidos eram dolorosos:

— Estou sofrendo como se tivesse perdido meu próprio pai — disse Maria Lulic, uma balconista polonesa de 37 anos que mora em Roma. — Como polonesa, eu amava João Paulo II, obviamente, mas Bento era meu guia espiritual, minha bússola moral.

O padre Joseph Adusé Poku, de Gana, exaltou a obra de Bento XVI:

— Bento foi um modelo para mim muito antes de se tornar Papa — disse — E então ele foi humilde o suficiente para se aposentar.

O Vaticano anunciou que apenas duas delegações oficiais participariam da cerimônia, tendo recebido convites formais: uma da Itália, liderada pelo presidente Sergio Mattarella e incluindo a premier Giorgia Melloni, e outra da Alemanha, terra natal de Bento XVI, liderada pelo presidente Frank-Walter Steinmeier.

Mesmo assim, um número substancial de líderes globais compareceu, incluindo os monarcas da Espanha e da Bélgica, e os presidentes da Lituânia, Polônia, Portugal, Eslovênia, Hungria, Togo e San Marino.

Os primeiros-ministros da República Tcheca, Gabão e Eslováquia também compareceram, assim como ministros de Chipre, Colômbia, Croácia, França e Reino Unido, de acordo com uma lista de convidados do Vaticano que cresceu desde sábado.

O Papa Francisco, o primeiro Papa da América do Sul, se tornou o primeiro Papa a presidir o funeral de um predecessor que renunciou.

Mas esta não foi a primeira vez que um Papa celebrou uma missa para um anterior. Em 1802, Pio VII presidiu o funeral de seu predecessor, Pio VI, cujo corpo foi devolvido ao Vaticano depois que ele morreu no exílio em 1799.

O Globo

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