Países da África Ocidental podem realizar intervenção militar no Níger caso diplomacia falhe
Apoiadores da junta do Níger participam de uma manifestação em frente a uma base do exército francês em Niamey, Níger, em 11 de agosto de 2023. — Foto: REUTERS/Mahamadou Hamidou
Os países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao) disseram nesta sexta-feira (18) que poderão realizar uma intervenção militar no Níger caso os esforços diplomáticos para restaurar a democracia na nação africana falhe.
O Níger sofreu um golpe de Estado no fim de julho e o governo do presidente Mohamed Bazoum foi substituído por uma junta militar liderada pelo general Abdourahmane Tchiani. O país era uma das últimas democracias da região, e a nova situação preocupa, pois pode abrir espaço para a insurgência de grupos radicais e milícias.
“Estamos prontos para partir a qualquer momento que a ordem for dada”, disse Abdel-Fatau Musah, comissário da Cedeao, após uma reunião dos países do bloco em Acra, a capital de Gana. “O Dia D também está decidido, o que não vamos divulgar.”
A intensão do bloco é restabelecer Bazoum, preso desde que foi deposto, e, assim a democracia nigerina. A Cedeao, no entanto, considera a intervenção como última alternativa e só planeja atuar caso a diplomacia falhe.
“Enquanto falamos, ainda estamos preparando uma missão de mediação no país, então não fechamos nenhuma porta, mas não vamos nos engajar em um diálogo sem fim”, disse Musah.
O novo regime do Níger considera que qualquer intervenção militar contra o país constituiria uma “agressão ilegal e insensata” e prometeu uma “resposta imediata” a qualquer ofensiva.
Contexto local
Nem todos os integrantes da Cedeao concordam com a intervenção militar no Níger. Dos quinze países que integram o bloco, quatro se opõe à ideia: Cabo Verde, Mali, Burkina Faso e Guiné — os últimos três sob regimes militares e ocupados por grupos insurgentes.
Nos últimos três anos, sete golpes de Estado aconteceram em países da África Ocidental, contribuindo para a expansão de grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico presentes na área. A ascensão da junta militar de Tchiani foi um golpe para a Cedeao e para o Ocidente, que tinham na democracia do Níger uma aliada crucial na luta contra esses insurgentes.
A Cedeao tem tentado resolver a situação do governo nigerino via diplomacia, mas a falta de avanços levou o bloco a tomar uma postura mais dura. “A decisão é que o golpe no Níger é um golpe a mais para a região, e estamos colocando um fim nisso neste momento, estamos traçando uma linha na areia”, afirmou Musah.
Olayinka Ajala, professor de política e relações internacionais na Universidade Metropolitana de Leeds, no Reino Unido, acredita que a intervenção da Cedeao poderia ter efeito contrário ao esperado, considerando que o exército nigerino já atua contra os grupos insurgentes na região.
“Um ataque liderado pelo Cedeao no Níger iria distrair os soldados e desviar recursos críticos”, escreveu o especialista em texto publicado no “The Conversation”.
Ainda de acordo com Ajala, uma intervenção poderia fazer com que exércitos que hoje atuam juntos contra os insurgentes passem a lutar entre si. “Grupos terroristas poderiam então tirar proveito de fronteiras enfraquecidas pelo conflito”, disse.
G1