Brasil investiga 64 suspeitas de hepatite misteriosa em crianças e adolescentes
O número de casos da hepatite misteriosa infantil em investigação no Brasil subiu para 64, segundo informações do Ministério da Saúde. Ao todo, a pasta recebeu 76 notificações, das quais 12 foram descartadas.
Pelo menos 15 estados têm casos sob suspeita. São Paulo está à frente, com 24 casos, seguido por Minas Gerais (8), Rio Grande do Sul (5) e Pernambuco (5). Os demais estados que investigam casos da doença são Rio de Janeiro (4), Mato Grosso do Sul (3), Santa Catarina (3), Paraná (2), Espírito Santo (2), Goiás (2), Ceará (2), Rio Grande do Norte (1), Maranhão (1), Roraima (1) e Paraíba (1).
Uma análise feita pelo ministério a partir de 45 casos indica que a idade média das crianças com suspeita da doença é de 7 anos, sendo 54% meninos e 46% meninas.
Até o dia 19 de maio, havia 47 casos em investigação no Brasil. Alguns dias antes, em 14 de maio, o Ministério da Saúde montou uma sala de situação para monitorar as ocorrências e tentar investigar possíveis causas para a doença.
Pelo menos duas crianças e jovens que precisaram passar por transplantes de fígado estão entre os casos suspeitos da doença.
Uma menina de 14 anos recebeu um novo fígado na última sexta (20) após quatro dia internada no Hospital Universitário Oswaldo Cruz, no Recife.
A adolescente deu entrada no hospital Mestre Vitalino, em Caruaru, a cerca de 135 quilômetros de distância, e precisou ser transferida para a capital devido à evolução do quadro para encefalopatia hepática, uma deterioração das funções cerebrais causadas por substâncias tóxicas eliminadas pelo fígado mas que acabam chegando à corrente sanguínea.
No Rio de Janeiro, dentre os quatro casos suspeitos está um menino de 4 anos que também foi submetido a transplante devido ao quadro de hepatite fulminante –inflamação grave do fígado que evolui rápido e pode levar à morte. Ele foi operado no HEC (Hospital Estadual da Criança).
Em ambos os casos, os transplantes foram bem-sucedidos e os pacientes já receberam alta.
O secretário de Saúde do Rio de Janeiro considera os quatro casos em investigação no estado como “prováveis”, mas ressalta que a investigação, ainda em andamento, precisa ser confirmada pelo Ministério da Saúde.
A hepatite e a possível causa – A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ter diversas causas, incluindo infecções virais e consumo excessivo de álcool. Os vírus conhecidos que causam a hepatite são A, B, C, D e E.
Ainda há a hepatite autoimune, em que o próprio sistema imunológico do corpo ataca o fígado. A hepatite súbita e grave em crianças saudáveis não é comum, e sua relação com os demais vírus que causam a hepatite já conhecidos foi descartada.
A Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA) investiga a associação dessa nova hepatite com um adenovírus, que são vírus comuns causadores de resfriados, gripes e, em alguns casos, problemas intestinais e estomacais.
A UKHSA investiga se uma mudança no genoma do adenovírus pode ser a responsável por causar a doença. A relação com o Sars-CoV-2, causador da Covid-19, também não foi descartada. Ainda de acordo com as informações da agência britânica, o adenovírus foi detectado em 68,2% das crianças testadas, já o Sars-Cov-2 apareceu em 15% dos resultados.
Pelo menos 614 casos da hepatite misteriosa e 15 mortes foram registradas no mundo, sendo 6 na Indonésia, 6 nos EUA, 1 na Irlanda, 1 no México e 1 na Palestina, segundo o boletim mais recente do ECDC (Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças), cujo cálculo inclui casos em investigação, prováveis e confirmados, e do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA.
Ao todo, 30 países já registraram casos ou tem casos sob investigação. O Reino Unido concentra o maior número de registros da doença, com 197. Até o dia 20 de maio, 11 dessas crianças haviam recebido transplantes de fígado.
Os EUA têm o segundo maior número de crianças doentes registrado, somando 180 em 36 estados, mas assim como Brasil, não confirma a ocorrência da doença, apenas indica que os casos estão sob investigação.
O ECDC considera o Brasil como país com maior número de casos na América Latina, somando 44 no boletim semanal mais recente, atualizado na última sexta (20), porém, ressalta que a contagem total inclui casos sob investigação.
FOLHAPRESS