Dólar cai a R$ 5,35 e Bolsa sobe 2% com expectativa de mudança de tom no governo Lula
Cédulas de dólar — Foto: Pexels
O dólar perdeu valor em relação ao real nesta quinta-feira (5), e fechou a R$ 5,35, enquanto a Bolsa subiu 2% e superou os 107 mil pontos, com a expectativa de que o governo deve adotar um discurso mais alinhado com a responsabilidade fiscal, depois da primeira reunião ministerial convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), marcada para esta sexta-feira (6).
As declarações do novo secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, reforçam essa percepção dos investidores, ao sinalizarem que vão buscar o controle da dívida pública e responsabilidade com os gastos do governo.
O dólar comercial à vista fechou em baixa de 1,85%, a R$ 5,3510 na venda. O Ibovespa terminou o dia em alta de 2,19%, aos 107.641 pontos.
Em entrevista à Folha, o novo secretário do Tesouro Nacional afirma que as frentes de atuação incluem revisão de desonerações e de despesas. Ceron também indica a possibilidade de a nova regra fiscal dar flexibilidade a investimentos públicos, mas prever limitação maior para despesas correntes (que incluem salários e benefícios). Confira os principais trechos:
Em seu discurso de posso como ministra do Planejamento, marcado por tom político, Tebet pregou responsabilidade fiscal, combate à inflação e aos juros elevados e defendeu a aprovação da reforma tributária.
Os juros também apresentaram queda nesta quinta. Os contratos com vencimento em 2024 fecharam com taxa de 13,70%, ante 13,79% do fechamento desta quarta. Nos vencimentos para 2025, a taxa recuou de 13,31% para 13,13% ao ano. E para 2027, os juros caíram de 13,31% para 13,07%.
Na visão de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, as posições de Ceron e Tebet são importantes e positivos, mas que a convocação da reunião ministerial pelo presidente Lula tem mais peso. “Pela capacidade de execução, o fato de Lula estar chamando seus ministros para alinhar os discursos e os caminhos chama mais a atenção dos investidores”.
Para Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, lembra que as quedas recentes das ações foram provocadas quase que totalmente pelos ruídos políticos. “Tem muito papel descontado na bolsa e o câmbio, na nossa visão, poderia estar mais próximo de R$ 5,10 hoje se não fosse todo esse ruído”.
Uma amostra dessa busca por oportunidades aparece no desempenho de algumas das principais ações do Ibovespa. Petrobras PN subiu 3,60%, enquanto o petróleo do tipo Brent, que geralmente tem bastante influência sobre a ação da estatal, subia 1,25% perto das 18h30, a US$ 78,81 o barril. Entre os bancos, destaque para BB ON, que avançou 4,57%.
Davi Lelis, gestor da Valor Investimentos, afirma que as declarações de integrantes do governo sinalizam ao mercado que o presidente Lula cobrará posicionamentos responsáveis de sua equipe, embora isso não signifique abrir mão de uma postura voltada à políticas sociais. “O mercado não é contrário às políticas sociais, o que nós queremos é saber como elas serão financiadas”, disse.
Sidney Lima, analista da Top Gain Research, afirma que o discurso de Tebet amenizou os receios que o mercado ainda tem sobre a política fiscal adotada pelo governo Lula. “Com as quedas recentes por conta desse temos, aumentou a percepção dos investidores de que há boas oportunidades de compra entre as ações brasileiras”, afirma.
Os indicadores de mercado no Brasil vão na contramão do que acontece nesta quinta no exterior. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a outras moedas globais importantes, mostra uma valorização da moeda americana 0,67%. E os principais índices de ações em Nova York apresentam quedas próximas de 1%.
No exterior, os mercados nos Estados Unidos devem reagir à divulgação da criação de 235 mil novos empregos pelas empresas do país em dezembro de 2022, ante 182 mil vagas em novembro, segundo relatório da ADP Research. O levantamento é considerado uma prévia do relatório Payroll, mais ampla pesquisa sobre geração de empregos nos Estados Unidos.
Para Marcio Riauba, gerente da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio, os dados do ADP vieram mais fortes que o esperado, o que provoca a valorização do dólar em relação a outras moedas. Com o mercado de trabalho ainda muito forte nos Estados Unidos, aumenta a expectativa de que o Federal Reserve, o banco central americano, terá que continuar aumentando juros em um ritmo intenso para controlar a inflação.
FOLHA