Trump pede alianças com países rivais para combater Estado Islâmico
Vale tudo para tentar derrotar a facção terrorista Estado Islâmico, até se aliar a parceiros que os EUA antes viam com desconfiança, da Rússia a ditadores do Oriente Médio, propõe o presidenciável republicano Donald Trump.
Vale banir “quem apoie intolerância e ódio” e barrar temporariamente imigrantes de “regiões perigosas e voláteis, com histórico de exportar terrorismo” —refugiados sírios são um dos alvos.
Gerald Herbert/Associated Press | ||
O candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, acena para o público em comício em Ohio |
“Nosso país já tem muitos problemas, não precisamos de mais”, sugeriu Trump, para lidar com duas guerras paralelas que parece acreditar travar: contra o “politicamente correto” e o “islã radical”.
Com um mix de propostas antigas e novos acenos (ele agora aprecia a Otan, a aliança militar ocidental da qual sugeriu distanciar os EUA), o candidato republicano à Casa Branca fez nesta segunda (15) um discurso para detalhar sua estratégia de combate ao EI, após meses sob acusação de não ir além da superfície em política externa.
Algumas posições foram suavizadas. Trump já não sugere fechar o país para todos os muçulmanos e reviu sua posição sobre a aliança ocidental. “Já disse que a Otan era obsoleta por ter falhado em lidar com o terrorismo. Desde então, eles mudaram suas políticas”, afirmou.
O republicano também recuou da afirmação de que o presidente Barack Obama e a candidata democrata à sucessão, Hillary Clinton, são fundadores do EI, afirmando se tratar de sarcasmo.
Minutos antes, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou em discurso durante um comício de Hillary que Trump “dá aos terroristas o que eles querem”, ao alimentar teorias conspiratórias, e que a falta de vergonha do republicano “não tem limites”.
Biden lembrou de quando o empresário relativizou, em julho, o ditador iraquiano Saddam Hussein, que era “um cara mau”, mas tinha mérito por matar muitos terroristas”. “Ele teria amado [o ditador russo] Josef Stálin.”
ERROS DEMOCRATAS
Apesar dos recuos, Trump não poupou a dupla democrata, que acusou de errar ao se envolver nos conflitos do Iraque, da Líbia e da Síria, cujo colapso social catapultou o EI. Não controlar o petróleo iraquiano, que hoje ajuda a financiar a facção em algumas regiões do país, foi outro erro. “Nos velhos tempos, quando se ganhava uma guerra, os espólios pertenciam ao vencedor.”
À ex-secretária de Estado (2009-13), disse o republicano, falta “vigor físico e mental”; ao presidente, a “coragem moral” de Ronald Reagan (1981-89), que “chamou a União Soviética de Império do Mal”, enquanto o atual mandatário hesita em usar a expressão “islã radical” (ele acha que assim estigmatizaria a fé de 25% da população).
Para Trump, em sua “turnê mundial de pedidos de desculpa”, o presidente entregou “palavras ingênuas” num histórico discurso de 2009, no Cairo, quando Obama afirmou então que os EUA “não estão, e nunca estarão, em guerra contra o islã”.
Se o republicano chegar à Casa Branca, porém, a ideia é outra: quaisquer governos do Oriente Médio dispostos a ajudar a combater o terrorismo serão bem-vindos, afirmou, dando a entender que ditadores como o sírio Bashar al-Assad seriam um mal menor perto do EI.
“Nem sempre podemos escolher nossos amigos, mas jamais podemos falhar em reconhecer nossos inimigos.”
A Rússia, ex-rival da Guerra Fria, poderia ser boa aliada, insiste. Sua simpatia pelo presidente russo, Vladimir Putin, levanta sobrancelhas em Washington.
No mesmo dia, o “New York Times” revelou que seu estrategista-chefe, Paul Manafort, recebeu US$ 13 milhões do partido do ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovitch, aliado de Moscou deposto após revolta popular.
Por meio de advogado, Manafort negou o pagamento.