Alemanha vai hoje às urnas e deve reeleger Merkel por estabilidade
A Alemanha vota neste domingo (24) em eleições cujo resultado já adivinham: Angela Merkel deve ser reeleita chanceler para um quarto mandato, com o qual completará 16 anos no poder.
Será com esses próximos quatro anos que a líder do partido conservador CDU (Aliança Democrata-Cristã) tentará definir o seu legado.
Se completar o mandato, ela terá governado pelo mesmo tempo que o ex-chanceler Helmut Kohl, no governo durante a histórica queda do muro de Berlim em 1989.
O risco de se prolongar no poder, porém, é de que este quarto período seja marcado por crises e manche, assim, a memória de seus feitos.
A Alemanha que Merkel entrega aos eleitores em 2017 é bastante diferente daquela que ela assumiu em 2005.
O país superou a crise financeira de 2008, em que a chanceler liderou a imposição de austeridade fiscal, e gerencia hoje a crise dos refugiados –quase um milhão deles chegou à Alemanha apenas em 2015, dentro da política de portas abertas promovida pelo governo.
“Merkel certamente pensa no risco de um quarto mandato”, diz à FolhaSudha David-Wilp, analista do German Marshall Fund. “Mas há muitas questões que ela quer deixar encaminhadas para ter um legado positivo.”
A situação das centenas de milhares de migrantes será uma de suas prioridades. A política de Merkel é elogiada fora do país, mas criticada dentro dele como fonte de instabilidade e insegurança.
“Não acho que ela queira ser lembrada pela crise de refugiados como tendo sido uma coisa mal administrada”, diz David-Wilp. “Quer ser recordada como a chanceler que abriu as portas de maneira com que o país se beneficiasse. Mas isso toma tempo.”
“MERKELIZAR”
As políticas de Merkel nos três primeiros mandatos são elogiadas pela estratégia, inclusive quando ela recorreu a alguma imobilidade e à constante mudança de opinião, que marcam o legado.
Em 2015, um júri escolheu o verbo “zu merkeln” (“merkelizar”, em tradução mais do que livre) como termo do ano. A dicionarização veio a seguir: “Não fazer nada, não tomar decisão e não emitir opinião pessoal”, comportamentos que muitos alemães atribuem à chanceler.
“Não consigo pensar em nenhuma promessa que ela tenha ou não cumprido nesses 12 anos”, diz Ulrike Franke, do Conselho Europeu de Relações Exteriores. “Simplesmente porque ela nunca faz promessas específicas.”
“Merkel é uma pessoa de pensamento tático. Ela não apresenta uma visão sobre a qual faz promessas ou previsões, mas reage a circunstâncias em mudança.”
O exemplo perfeito foi sua decisão de fechar as usinas nucleares do país após o desastre em Fukushima, no Japão, em 2011 –na época, considerada por muitos como populista e sem embasamento.
Outro exemplo foi a suspensão do serviço militar obrigatório em 2011, considerado o fim de uma era após mais de 50 anos. Merkel apoiou a proposta de seu então ministro da Defesa, apesar de ela contrariar a visão predominante de seu partido.
TERCEIROS
O partido de Angela Merkel, a CDU, deve ter 36% dos votos neste domingo, segundo uma pesquisa recente feita pela entidade YouGov.
O SPD (Partido Social-Democrata), de seu rival, Martin Schulz, receberia 22%.
“Os sinais são bastante claros”, diz Holger Gleisser, chefe de pesquisa da YouGov. “É bastante improvável que ela não ganhe”, afirma.
A indefinição está no terceiro lugar, em que há um empate entre a AfD (Alternativa para a Alemanha) e a Esquerda, ambos com 11%.
A pesquisa foi feita de 15 a 18 de setembro com 2.042 pessoas. Não há detalhes sobre a margem de erro.
O resultado dos partidos menores terá suma importância, já que na Alemanha os governos são de coalizão. Merkel governa hoje em aliança com o SPD, mas pode buscar alternativas para o próximo mandato.
Gleisser, da YouGov, diz que há alguma sensação de imobilismo no país –o que, de certa maneira, traz alívio.
O fato de a Alemanha estar em boa situação econômica também ajuda a consolidar a posição da chanceler.
O desemprego de 6,1% é o mais baixo desde a Reunificação, há 25 anos. A taxa de crescimento de 1,9% em 2016 foi a maior em cinco anos. Há, por outro lado, uma parte da população descontente com a desigualdade social.
“A Alemanha é um país dominado pela classe média. Suas atitudes são dominantes”, diz Frank Nullmeier, do instituto Socium, da Universidade de Bremen.
“A classe média mais velha é o grupo de pessoas que vota. Dizem: ‘Temos um alto nível de emprego e de renda, tudo vai bem. O melhor a fazer é continuar assim’.”