Governo Trump entra no 3º ano travado e com Congresso mais hostil
A segunda metade do governo do presidente Donald Trump tem tudo para ser ainda mais conturbada que a primeira. Além de começar em meio a uma paralisação parcial que já dura quase duas semanas, terá um Congresso mais hostil a partir desta quinta (3), quando os democratas assumem o controle da Câmara dos Deputados.
As últimas semanas já serviram de aperitivo para a nova dinâmica de poder que deve se instalar no Capitólio a partir desta quinta. Lideranças democratas deixaram claro que o presidente não terá a mesma facilidade para tocar sua agenda.
O embate atual e que inaugura a nova era no Congresso se dá em torno do financiamento ao muro que o republicano quer construir na fronteira com o México. Trump quer recursos para o muro. Os democratas rejeitam essa possibilidade.
A construção do muro era promessa de campanha de Trump. Mas o republicano dizia que o México pagaria pela obra. Recentemente, passou a defender que o país vizinho estava arcando indiretamente com a obra, após a renegociação do acordo comercial que substituirá o Nafta —bloco formado por EUA, México e Canadá.
O impasse sobre o assunto deixa 25% do governo federal sem dinheiro, em uma paralisação parcial que entra no 13º dia. Para tentar desbloquear as conversas, Trump convidou nesta quarta (2) líderes do Congresso para uma reunião em uma sala de conferência localizada no porão da Casa Branca e usada por presidentes para lidar com crises domésticas ou ter discussões delicadas.
Nenhum avanço ocorreu. Outra reunião foi marcada para sexta-feira (4). Enquanto isso, para tentar destravar o governo, os democratas pretendem, nesta quinta, fatiar a lei de financiamento ao governo.
Em uma votação, ações com apoio bipartidário que financiariam agências como a Receita Federal americana e o Departamento de Interior até o final do ano fiscal, em setembro. Em outra, uma medida que estenderia o financiamento à segurança doméstica nos níveis atuais até 8 de fevereiro e incluiria US$ 1,3 bilhão para instalação de cercas, mas sem recursos para o muro de Trump —o que deve ser bloqueado no Senado, ainda sob controle republicano.
O financiamento ao muro não deve ser o único tema a opor os dois lados. As pautas prioritárias da liderança democrata na Câmara incluem, por exemplo, direito a voto, financiamento de campanha eleitoral —uma das dores de cabeça atuais de Trump— e a exigência de que candidatos à Presidência divulguem sua declaração de Imposto de Renda dos últimos três anos, algo que Trump se recusou a fazer voluntariamente em 2016.
Romney, presidenciável republicano na eleição de 2012, criticou o caráter do chefe da Casa Branca. “Um presidente deveria demonstrar as qualidades essenciais de honestidade e integridade, e reforçar o discurso nacional com cortesia e respeito mútuo… E é nessa esfera onde a deficiência do titular ficou mais evidente.
A resposta do presidente veio em uma mensagem em rede social, como de praxe. “Lá vamos nós com Mitt Romney, mas foi tão rápido! A pergunta é, ele é um Flake? Espero que não”, escreveu Trump, em referência ao senador Jeff Flake, do Arizona, que é republicano, mas que criticou o presidente com frequência nos últimos anos. Flake deixou o Senado nesta legislatura.
“Preferiria que Mitt focasse na segurança da fronteira e em muitas outras coisas onde ele pode ser útil. Eu tive uma grande vitória, ele não. Ele deveria estar feliz por todos os republicanos. Ser um jogador de equipe e vencer!”
Mas os desafios não estão só do lado republicano do Congresso. Os democratas também estão tendo que conciliar posições, especificamente em assuntos que envolvem a ala mais à esquerda do partido.
Estrelas em ascensão no partido assumem nesta quinta, entre elas Alexandria Ocasio-Cortez, 29, a mulher mais jovem a ser eleita no Congresso.
Nos últimos dias, ela e outros nomes, como Ro Khanna, da Califórnia, sinalizaram que votariam contra provisões que exijam cortes de gastos ou aumento de receita para compensar novos investimentos. Ambas pertencem à ala que rejeita medidas de austeridade e defende que o governo gaste mais em saúde, por exemplo.