Análise: empate entre Flamengo e Botafogo mostra dois times sem imaginação
O clássico entre Flamengo e Botafogo poderia ser resumido apenas pelos últimos 6 minutos de jogo. O empate por 1 a 1, gols de Pedro Raul e Gabriel Barbosa, mostrou dois times sem imaginação e criatividade para sair do conceito de jogo previamente combinado.
Flamengo e Botafogo entraram em campo modificados em sua estrutura. No Botafogo, com três zagueiros, a ideia era que Forster flutuasse entre as funções de terceiro zagueiro e volante de proteção da zaga, evitando o jogo por dentro do Flamengo. O que Autuori não contava era que o Flamengo também viesse com modificação tática.
Em uma prévia do que é o sistema de jogo posicional, tão falado na chegada de Domènec Torrent, o Flamengo usou a amplitude de seus extremos, com destaque para o primeiro tempo de Pedro Rocha. Nesta ideia de jogo, ao abrir os lados, é natural que sobrem liberdade e espaço para os meias internos – pouco aproveitados por Diego e Everton Ribeiro.
Com a amplitude de Pedro Rocha, sobra espaço para os meias internos, como Diego no frame — Foto: Reprodução
No primeiro tempo, em apenas uma jogada o Botafogo conseguiu balançar o sistema defensivo do Flamengo, com velocidade e inversão de jogo, típica deste time do Paulo Autuori. A chave foi a recuperação de bola em cima de Willian Arão.
Arão perde a bola na frente, Botafogo contra-ataca e perde grande chance com Luis Henrique
Repare que os defensores do Flamengo não atacaram o portador da bola e não fecharam o espaço – apenas se posicionam defensivamente. O balanço do ataque do Botafogo contou com a falha de recomposição de Felipe Luís na linha com quatro defensores. Luis Henrique perdeu gol inacreditável.
Filipe Luís não recompõe, e sobra espaço para Kevin criar a melhor chance do Botafogo no primeiro tempo — Foto: Reprodução
Se pudéssemos resumir o primeiro tempo em uma situação, seria “bola na ponta esquerda para o ataque nas costas do lateral-direito adversário”. Tanto para Pedro Rocha contra Kevin quanto para Luís Henrique contra Matheuzinho.
No segundo tempo, porém, tudo mudou. A começar pelo lado de Pedro Rocha, saindo da esquerda para a direita. Matheuzinho também se reposicionou, evitando o espaço para contra-ataques em seu setor.
Paulo Autuori, então, mudou a linha de zaga, passando para quatro defensores. O Flamengo mudou a característica da linha de meio, com a entrada do Thiago Maia. Foi a partir daí que surgiu espaço no campo de ataque. O gol anulado do Flamengo tem origem com a característica diferente do meia por dentro, com passe vertical e posicionamento próximo da área adversária.
Se o segundo tempo foi limitado tecnicamente, os acréscimos foram agitados. O gol do Botafogo surgiu em jogada de escanteio. Pedro Raul aproveitou bem a sobra na segunda trave e executou um lindo voleio.
Com lindo voleio, Pedro Raul faz o gol do Botafogo no clássico
Repare que a conclusão sem marcação só foi possibilitada por um bloqueio de Rhuan em Matheuzinho, impedindo o adversário de disputar a bola com Pedro Raul.
Rhuan faz o bloqueio em Matheuzinho, e Pedro Raul fica livre para marcar o gol — Foto: Reprodução
O Flamengo, então, foi para o abafa. E novamente a chance de evitar a derrota veio com um pênalti marcado nos acréscimos. Gabriel empatou: 1 a 1.
De memorável no clássico carioca, apenas o papo e a cordialidade de Paulo Autuori com Domènec Torrent antes e depois do jogo. A impressão que passa é que os treinadores brasileiros já não se sentem ameaçados por este treinador estrangeiro. A diferença entre conceitos de futebol praticado aqui e o que é proposto pelo espanhol quase não existe. Já a diferença entre o Flamengo de Jorge Jesus e o Flamengo de Domènec Torrent é abissal.
GE