Paraíba

Experiência com algodão orgânico na Paraíba deve ser levada a países do Mercosul

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A experiência de produção de algodão colorido orgânico na assentamento da reforma agrária Margarida Maria Alves, em Juarez Távora, no Agreste paraibano, a 75 km de João Pessoa, poderá servir de referência para o fortalecimento do setor algodoeiro no Brasil e em outros países-membros e associados do Mercosul. A comunidade recebeu a visita, na última quinta-feira (25), de representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil.

Em 2015, um grupo formado por nove agricultores do assentamento produziu 9,1 toneladas de algodão em rama – como é conhecido o algodão antes do processo de descaroçamento e separação da pluma –, que resultaram em pouco mais de três toneladas de plumas de algodão orgânico colorido da variedade BRS Rubi, desenvolvida pela Embrapa Algodão, em Campina Grande (PB). Com o quilo da pluma comercializado a R$ 11,80, a safra do ano passado rendeu aproximadamente R$ 36 mil ao grupo.

Representante da FAO, a especialista em cooperação técnica entre países em desenvolvimento Juliana Rossetto passou toda a quinta-feira no assentamento, onde conversou com os agricultores e representantes de órgãos parceiros e conheceu a estrutura de beneficiamento do algodão. A visita foi acompanhada por técnicos da Embrapa e do Incra e por representante da Prefeitura de Juarez Távora.

Juliana explicou que a organização, em parceria com órgãos como o Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), está dando suporte a instituições dos países cooperantes (Brasil, Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru) para o desenvolvimento de capacidades e o compartilhamento de conhecimentos, experiências e tecnologias em sistemas sustentáveis de produção, extensão rural, cooperativismo e comercialização solidária para o fortalecimento da cultura do algodão.

“Foi a possibilidade de troca de conhecimentos que nos trouxe para o assentamento Margarida Maria Alves. Vamos promover a aproximação dos atores e o intercâmbio de tecnologias entre entidades governamentais de pesquisa, de assistência técnica e de extensão rural para tratar de temas estratégicos para apoiar os agricultores familiares que produzem algodão e promover as cadeias produtivas, o acesso a mercados, a agregação de valor e a produção sustentável”, afirmou Juliana.

A produção de algodão orgânico no assentamento vem atraindo as atenções de pesquisadores brasileiros e do exterior. Além da FAO, já visitaram o assentamento representantes da Biofach – considerada a maior feira de orgânicos do mundo, realizada anualmente na Alemanha –, de países do continente africano, de outros estados brasileiros como o Rio Grande do Norte, Amazonas e a Bahia, e de instituições de ensino superior, a exemplo da Universidade Federal da Paraíba.

Algodão orgânico

O cultivo de algodão colorido orgânico no Assentamento Margarida Maria Alves foi implantado em 1999, um ano após a criação do local, como parte do projeto-piloto Algodão e Cidadania, coordenado pela Rede Nacional de Mobilização Social, em parceria com a Embrapa Algodão. A plantação ocupa 26,5 dos 736 hectares da comunidade, onde 36 famílias vivem e produzem o algodão e várias espécies de alimentos.

O plantio do algodão no assentamento é feito sem o uso de agrotóxicos e de insumos químicos. A diversificação com outras culturas, como o milho, feijão, fava, gergelim, sorgo e coentro garante o equilíbrio ambiental, o melhor aproveitamento da terra e a diversidade de alimentos na mesa das famílias.

Segundo a técnica em agropecuária Vera Lúcia Pessoa, que integra a equipe responsável pelo acompanhamento do assentamento, para combater pragas e doenças nas plantas, os agricultores assentados utilizam defensivos naturais produzidos a base de cal virgem, maniçoba in natura e extrato de Nim (Azadirachta indica) – que, segundo a Embrapa, é uma árvore de múltiplo uso pertencente à família das meliáceas com origem provável na Índia e em Mianmar. Restos de outras culturas, urina de vaca e esterco animal são usados como fertilizantes.

O preparo das áreas de plantio segue as recomendações técnicas de conservação do solo e da água, como a ausência do uso de fogo e a construção de curvas de níveis nos terrenos com declives.

As sementes do algodão, armazenadas em um banco de sementes no próprio assentamento, são plantadas em maio ou junho, o período chuvoso na região. A mudança na época do plantio do período de março e abril para os meses de maio e junho contribuiu para afastar, sem nenhum tipo de agrotóxico, o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) – praga que contribuiu para a diminuição gradativa das plantações de algodão branco no Semiárido nordestino, que já foi a maior área de produção algodoeira do país. “Com esta estratégia, o algodoeiro inicia a formação de ‘maçãs’ no período seco e o bicudo não consegue sobreviver a altas temperaturas”, explicou Vera Lúcia.

Após ser separada dos caroços, a pluma de algodão é prensada, enfardada e identificada por código, local de origem, peso e status de certificação. Além de lucrarem com a comercialização da pluma, os agricultores podem vender os caroços excedentes para alimentação animal. A maior parte dos caroços é guardada no banco de sementes para serem plantados no ano seguinte.

Depois de mais de 20 anos de melhoramento genético, a Emprapa Algodão obteve cinco variedades com tonalidades que vão do verde-claro aos marrons claro, escuro e avermelhado. Em breve, será lançada uma nova variedade marrom, com melhor qualidade de fibra para a indústria têxtil. Outra linha de pesquisa também busca obter o algodão de cor azul através da biotecnologia para transferir o gene que fornece a cor azul para a fibra do algodão, o que reduziria significativamente o uso de tinta na indústria.

O Pipoco

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