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Nos 5 anos de Francisco como papa, países em desenvolvimento como o Brasil ganharam espaço

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Em cinco anos no cargo, primeiro pontífice latino-americano se transformou numa espécie de pop star teológico e político, sacudindo as estruturas do catolicismo

Rezar é algo político. Especialmente quando se reza diante do muro entre o México e os Estados Unidos. O papa Francisco não mede palavras: “Uma pessoa que pensa em construir muros em vez de pontes não é cristã. Isso não é o Evangelho”, disse.

Há dois anos, Francisco criticou os planos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ampliar o muro entre o México e os EUA. A visita de Trump ao Vaticano em maio de 2017 não foi capaz de derrubar esse muro espiritual entre os dois líderes.

Há cinco anos, o argentino Jorge Bergoglio, que completou 81 anos em dezembro, se tornou o primeiro latino-americano a liderar a Igreja Católica. Dois minutos depois de sua eleição, no dia 13 de março de 2013, ficou claro que esse papa “do outro lado do mundo”, como o próprio Bergoglio se apresentou, é diferente de seus antecessores.

Revolução em Cuba

Francisco é, ao mesmo tempo, político e pastoral. Ele reza pela paz entre Israel e Palestina diante do muro em Belém. Ele acolhe refugiados no Vaticano. Ele costura o fim da era do gelo política entre Cuba e os EUA. E ele perdoa mulheres que abortaram.

“Francisco quer superar divisões, e não consolidá-las com muros. Ele é muito político nesse aspecto”, afirma Bernd  Klaschka, confidente do papa e ex-diretor da organização católica de assistência Adveniat. “Na América Latina, Francisco desempenha papel similar ao de João Paulo 2° na Europa quando este contribuiu com a queda do muro [de Berlim]”, descreve.

Ainda que o muro entre o México e os EUA continue em expansão, Francisco conseguiu derrubar barreiras em Cuba e na Colômbia. Com uma mediação habilidosa entre as partes, conflitos de décadas foram atenuados. Em 2015, a visita de Francisco à República Centro-Africana também levou a um cessar-fogo e à realização de eleições livres.

Adeus, Europa

No interior da Igreja Católica, há sinais de mudanças – mesmo que esses não possam ser identificados à primeira vista. A nomeação de novos cardeais da América Latina, da África e da Ásia e a ampliação dos direitos de decisão das conferências episcopais nacionais e regionais mostram que Francisco está começando a corroer a supremacia do Vaticano.

De um total de 49 cardeais nomeados por Francisco, a maioria vem de países em desenvolvimento, que até o momento não eram foco de atenção no Estado soberano liderado pelo sumo pontífice. Esses cardeais poderiam ser os responsáveis por eleger o primeiro papa africano como sucessor de Francisco no próximo conclave, em que 117 cardeais votam.

O integrante mais jovem do grêmio é o arcebispo da capital centro-africana, Bangui, Dieudonné  Nzapalainga. “Este pontífice ama a África. Há pouco tempo, ele exortou todos os católicos e o mundo todo a rezar pela paz no Congo e no Sudão do Sul”, disse em entrevista à DW.

O arcebispo da República Centro-Africana representa o futuro da Igreja Católica. Em 2015, Nzapalainga recebeu, juntamente com o imã Kobine Layam, o Prêmio da Paz de Aachen.

Terceiro Mundo e Brasil

Para o teólogo brasileiro Leonardo Boff, o rejuvenescimento do conclave papal é uma prova de que Francisco “vai fundar uma dinastia de pontífices do Terceiro Mundo”.

“Este papa dá outra versão do cristianismo e mostra que o cristianismo vivo é aquele que está no Terceiro ou Quarto Mundo, porque na Europa só há 25% de católicos. Na América Latina, nas Américas, são 62%, os demais estão na África e na Ásia”, afirmou em entrevista à DW Brasil.

“Ele tem consciência de que não pertence à velha cristandade europeia, que apresenta o papa como uma espécie de faraó, carregado de símbolos dos imperadores pagãos. Ele se libertou disso tudo.”

Para Boff, Francisco inaugura uma “primavera na Igreja”. Mas será que essa primavera poderia ser brasileira? Fato é que a Igreja Católica no Brasil tem poderosa influência nos bastidores. Foi o cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, membro da Pontifícia Comissão para a América Latina, que sugeriu o nome Francisco ao recém-nomeado papa Bergoglio, por exemplo.

Padre e casado?

O Brasil também ganhou destaque durante a primeira viagem internacional do papa Francisco, que participou da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, em 2013. Atualmente, está em preparação mais um grande evento religioso-político ligado ao Brasil: o Sínodo para a Pan-Amazônia em 2019, no Vaticano. Ali, poderia ser decidido se, no futuro, homens casados também poderão ser padres.

Da perspectiva católica, acabar com o celibato estabelecido há séculos seria uma revolução. E são precisamente reviravoltas como essa que sempre atraem adversários que querem evitar uma “teologia Copacabana”, na qual dogmas religiosos seriam relativizados e os ensinamentos tradicionais da Igreja, questionados.

O arcebispo de Acra, capital do Gana, acha a polêmica exagerada. “Eu sei que alguns conservadores não estão satisfeitos com a postura de coração aberto do papa”, disse Gabriel Charles Palmer  Buckle em entrevista à DW. Para ele, Francisco teria apenas pedido a bispos e padres que deixem valer a compaixão. “A Igreja não é dos conservadores, é de todos.”

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