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Pesquisa aponta maior risco de mortalidade e de infecção por Covid-19 no Norte e no Nordeste

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Um estudo realizado por quatro pesquisadores da Unicamp focou em analisar os padrões espaciais de infecção e mortalidade por Covid-19 em pequenas áreas do Brasil. O estudo teve como autor principal o professor, Everton Emanuel Campos de Lima.

Utilizando dados até julho de 2020 e que acompanham a tendência constatada atualmente, percebeu-se que os riscos de maior mortalidade se concentram nas regiões Norte e no litoral do Nordeste, além de maior risco de infecções entre os mais jovens. No Sudeste, também se encontram áreas de maior risco de mortalidade, embora em menor grau. Os autores, ainda, observaram que mulheres têm maior risco de infecção, no entanto os homens têm mais chance de morrer pela doença.

A pesquisa, que também tem como autores Ezra Gayawan (Universidade Federal de Tecnologia de Akure); Emerson Augusto Baptista (Universidade de Shanghai) e Bernardo Lanza Queiroz (Universidade Federal de Minas Gerais), foi publicada em artigo científico nesta sexta-feira (12) no periódico PLOS ONE.

Idade, sexo e doenças pré-existentes foram três dos componentes levados em consideração na análise, baseada em modelos estatísticos e que do trata de risco para áreas. A composição etária, explica o professor de Departamento de Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) e pesquisador do Núcleo de Estudos de População da Elza Berquó (Nepo) da Unicamp, Everton Emanuel Campos de Lima, é um ponto primordial na discussão sobre a pandemia, pois o perfil de mortes está ligado à distribuição de população mais envelhecida.

No entanto, até o momento da coleta dos dados, em julho de 2020, percebeu-se que embora Sul e Sudeste tivessem populações mais velhas, a mortalidade por Covid-19 era mais acentuada nas regiões Norte e Nordeste, onde também há um alto registro de histórico de mortalidade por doenças cardiovasculares. “Isso indica que há inúmeras outras questões que vão além da idade, possivelmente critérios socioeconômicos, o que deixa o norte e Nordeste com maior mortalidade”, avalia.

Já em relação a infecções, chama atenção o fato de serem mais altas no Norte e Nordeste as infecções atreladas a grupos de idades mais jovens. “O perfil de infecção lá está mais atrelado aos mais jovens e em piores condições socioeconômicas. Jovens mais infectados, pior acesso à saúde e questões econômicas fizeram com que esses lugares estourassem como grandes epicentros de mortalidade no Brasil. É o que se chama de combinação perversa”, pontua o professor. Embora o estudo se baseie nos dados de 2020, o professor indica que os resultados já apontavam para uma situação mais grave no Norte, como de fato ocorreu, especialmente no estado do Amazonas.

Para Everton, fica um alerta sobre a falsa informação de que a pandemia mata apenas idosos. Os mais jovens, além de terem responsabilidade na taxa de contágio, também tem comorbidades, o que os torna também suscetíveis. “A despreocupação dos jovens acaba sendo um problema, principalmente quando há motivações de gestores que ainda não estão levando a doença muito à sério”.

Mulheres se infectam mais mas morrem menos

A pesquisa também evidencia que o risco de infecção é mais alto para mulheres. Já a mortalidade é mais alta entre homens. Fatores culturais, sociais e laborais são apontados por Everton como possíveis explicações. “Possivelmente há um fator genético, mas há questões sociais que na literatura as mulheres buscam auxílio médico mais rápido; no caso do mercado de trabalho: as mulheres estão mais ligadas ao mercado informal e esse foi o mercado mais afetado pela pandemia”, avalia.

O que indica o padrão espacial?

Conhecer o padrão espacial da Covid-19 no país, elucida Everton, é importante para apontar caminhos, por exemplo, na gestão da saúde. “Uma das questões está dentro de toda a questão política que vemos atualmente sobre quem deve coordenar as questões de saúde na pandemia, se é o governo federal, estadual ou municipal. Se olharmos o histórico vemos que isso ficou mais para os municípios nas áreas mais desagregadas”, aponta, frisando que como é uma doença infectocontagiosa, as áreas vizinhas também podem ser  afetadas devido a comum mobilidade populacional existente entre municípios, o que pode requerer ações de nível mais amplo.

Brasil como epicentro da doença

O Brasil, até o dia 11 de fevereiro, possui mais de 236 mil mortes por Covid-19, segundo o consórcio de veículos que realiza o levantamento diário da evolução da epidemia no país. Seis estados registram aumento de óbitos pela doença. O país foi o epicentro da pandemia em 2020 e atualmente vive uma segunda onda de Covid-19, com uma média móvel de 1.073 mortes por dia, a maior média desde julho de 2020.

Para o pesquisador, o Brasil foi um dos epicentros da pandemia e enfrenta altos números de casos e mortes por uma série de fatores. Quarentenas frouxas, testagem e rastreamento de contatos insuficientes e o negacionismo, estimulado inclusive por autoridades, são alguns dos problemas ressaltados. “O atual presidente da Câmara deu uma festa com 300 pessoas mesmo após um discurso apontando a necessidade de vacinar todos. Um dos fatos que mais me incomodou foi a ciência sendo colocada em xeque, houve muito misticismo em torno da pandemia e muitos grupos levaram certos discursos equivocados a sério. Essa sucessão de erros faz com que estejamos onde estamos”, observa.

A descoberta de uma nova cepa do novo coronavírus em Manaus traz preocupações adicionais. Para o professor, um dos erros na região Norte foi acreditar que haveria imunização de rebanho, o que tem se mostrado equivocado dado os casos de reinfecção e a mutação do vírus. Por isso, as medidas de bloqueio de transmissão, uso de máscara, higienização de mãos e distanciamento social, seguem sendo recomendações.

Unicamp

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